tag:blogger.com,1999:blog-92045468041284505552024-03-14T05:21:10.959-07:00Cinco Elementos CelestiaisA batalha final se aproxima...Feitosahttp://www.blogger.com/profile/01786865127916010920noreply@blogger.comBlogger11125tag:blogger.com,1999:blog-9204546804128450555.post-91411619998147181452011-08-26T13:42:00.000-07:002015-07-08T09:04:33.344-07:00A BUSCA PELA ÁRVORE DA VIDA<div 42.55pt="42.55pt" background-position:="background-position:" background-repeat:="background-repeat:" class="MsoNormal" initial="initial" justify="justify" text-align:="text-align:" text-indent:="text-indent:">
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLo_FLhgSdrOSydBiuBbFv7dIKrtaN20-lSfdsUd8m49QSRX6XFzoDSjBXA2LEG3rCb8VEgtcnampwrlbox871DHWZxXHS8txpoL9-LlPFlkOvqLXxawVSUvFu4bjyEnVtzHOX744Ry0KI/s1600/Cole_Thomas_Expulsion_from_the_Garden_of_Eden_1828.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="231" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLo_FLhgSdrOSydBiuBbFv7dIKrtaN20-lSfdsUd8m49QSRX6XFzoDSjBXA2LEG3rCb8VEgtcnampwrlbox871DHWZxXHS8txpoL9-LlPFlkOvqLXxawVSUvFu4bjyEnVtzHOX744Ry0KI/s320/Cole_Thomas_Expulsion_from_the_Garden_of_Eden_1828.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<h1 align="center" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<span lang="X-NONE">PR</span>ÓLOG<span lang="X-NONE">O<o:p></o:p></span></h1>
<b style="line-height: 150%;"><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Dezoito anos atrás...</span></b><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 42.55pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 42.55pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 42.55pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Era alta madrugada quando chegaram. O vento estava calmo e a noite serena
como as águas de um lago profundo, mas o velho sabia que a tranquilidade era
apenas aparente e que todo cuidado seria pouco ao adentrarem naquele lugar
desabitado há tanto tempo. Ouvira histórias, é claro, de outros aventureiros
que alegavam terem invadido o jardim e escapado ilesos da fúria do guardião,
mas percebia agora que não passavam de fábulas inventadas por charlatões. O
jardim era muito diferente de tudo que ouvira falar. Era mágico, exuberante e
sobrenatural!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Aquela é a árvore? – perguntou o rapaz que o acompanhava, apontando com
o dedo para a árvore gigantesca que marcava o centro de uma clareira. Suas
folhas pareciam pequenos flocos de neve suspensos nos galhos retorcidos e os
frutos alaranjados, lembravam pequenas carambolas rechonchudas.<br />
<a name='more'></a> <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Sim meu amigo – respondeu o velho emocionado – Aquela é a Árvore da
Vida. A dádiva da imortalidade concedida e, ao mesmo tempo, negada a nós pelo
Criador – e uma lágrima rolou de seus olhos, estampando a felicidade de alguém
que vê o sonho de uma vida inteira sendo realizado – O homem será imortal, como
já foi outrora meu rapaz, e o mundo conhecerá a verdadeira paz.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O jovem não parecia muito empolgado com o discurso do amigo, mas apressou
o passo, acompanhando o velho que seguia à frente. O caminhou terminou em uma
velha ponte em ruínas cercada por pilares de pedra branca, onde o rio era mais
volumoso e a forte correnteza castigava o que restou da antiga construção. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Como vamos atravessar? – perguntou o rapaz examinando os destroços da
ponte – A correnteza é muito forte nessa curva.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não vamos atravessar – respondeu o velho olhando ao redor – Teríamos
que dar uma longa volta e o caminho mais curto é pela floresta. Veja se
consegue enxergar outra estrada adiante.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O rapaz correu em direção aos pilares
e subiu no mais alto para avaliar o horizonte e ver o que os aguardava logo à
frente. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– O que está vendo? – perguntou o velho – Algum outro caminho, ou algum
sinal da presença do guardião.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Vejo apenas o fim da clareira – respondeu o rapaz – e alguns animais
grandes e estranhos, pastando na margem daquele rio mais caudaloso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– São behemoths! – suspirou o velho comovido – Quase não acredito que
estamos tão próximos deles. São criaturas maravilhosas apesar da aparência.
Vamos tentar não perturbá-los.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O rapaz assentiu com a cabeça e continuou a observar os animais, que se pareciam
com búfalos, mas tinham chifres na cabeça e na carapaça que protegia o lombo e
narinas grandes e ruidosas. Seu rabo terminava num chicote, com três pontas de
ossos afiados e suas patas, fendidas como nos bovinos tradicionais, pareciam
pequenas e fracas frente ao corpo descomunal da criatura. Viviam em manadas a
beira dos rios, se alimentando da vegetação rasteira e mergulhando sempre que
um perigo ameaçava sua tranquilidade. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Vamos continuar – disse o velho. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O rapaz pulou do pilar e o seguiu pela mata adentro, abrindo caminho por
entre plantas exóticas e pequenos arbustos de folhas coloridas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A floresta era escura e barulhenta. O piado das aves noturnas lembrava um
lamento agonizante e os uivos dos animais selvagens tornavam o trajeto ainda
mais assustador, mas o velho parecia ignorar os perigos da jornada e seguia em
frente com determinação. Somente o rapaz não parecia satisfeito e se virava na
direção de cada barulho estranho que ouvia, não se cansando de resmungar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Tem certeza que o espelho funcionará? Se não conseguir afastar o
guardião da árvore eu estarei em sérios apuros.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Vai funcionar – respondeu o velho – tem que funcionar...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O rapaz não pareceu muito convencido e se preparava para contra
argumentar, quando um lampejo repentino iluminou a floresta e afugentou um
enorme pássaro que se escondia entre galhos retorcidos de uma árvore próxima a
eles. A ziz voou sobre a clareira e deu um rasante sobre a margem do rio, capturando
um behemoth, enquanto o restante das criaturas lançava-se desordenadamente nas
águas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O velho gritou instruções para seu companheiro e correu em direção à luz,
sacando um estranho objeto de sua mochila, enquanto o rapaz corria para a
clareira, de encontro à Árvore da Vida. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O que se passou a seguir foi uma curiosa sequência de acontecimentos. O
velho desapareceu na floresta e o foco de luz brilhante o seguiu, como se
atraído pelo objeto que ele carregava. O rapaz escalou habilmente a árvore e
colheu um dos frutos, mas sua atuação foi notada pela criatura lampejante, que
desistiu do velho e voou em sua direção como um raio em chamas. O rapaz saltou
ao perceber que fora descoberto e o velho reapareceu ao seu lado, ajudando-o a
se levantar. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Outro clarão se seguiu e um turbilhão de chamas irrompeu do lugar onde o
guardião caiu sobre eles e um grito agudo seguido por sons de passos em
disparada se misturou com os pios e uivos dos animais noturnos. A floresta se incendiou, instigada pelo
súbito vento forte que sucedeu o voo do guardião, sacudindo as árvores e levantando
uma nuvem de poeira no caminho. Do meio dela o velho surgiu desesperado
correndo em direção à saída do jardim. Suas roupas estavam sujas e esfarrapadas
e seu rosto, marcado de cicatrizes e fuligem, demonstrava cansaço e medo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– John, onde você está? – gritou assustado, procurando pelo amigo – Não
morra, por favor! – e se escorou na velha ponte destruída, tentando recuperar o
fôlego. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Porém, novamente o vento se intensificou, varrendo areia e folhas pela estrada.
As aves noturnas interromperam seu canto lúgubre e até os animais selvagens
silenciaram. O velho olhou para trás assustado e tentou voltar a correr, mas uma
forte luz dourada surgiu em suas costas e uma espada de fogo atravessou seu
peito, liberando na noite um cheiro de carne queimada. O velho deu um passo
tremulante e caiu sobre a areia do caminho. A luz desapareceu e tudo voltou a
ficar escuro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<b>***<o:p></o:p></b></div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
Feitosahttp://www.blogger.com/profile/01786865127916010920noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9204546804128450555.post-82006675148597396932011-08-25T13:57:00.000-07:002015-07-11T23:57:37.437-07:00CAPÍTULO I<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNcF9TE1TnpWdz_C5Ju4mdCpfDiD7R_4j1UvHtsNV4hP9khqIqwsxrgR5r_CQ-LwQ2w04cmJQ1kcmB7W9EPdkooabMWBDbW7uSZZSs4TzLFBkkrfhzy9ElgFB4C9jpDUz11rH85Rsol8L2/s1600/017206.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNcF9TE1TnpWdz_C5Ju4mdCpfDiD7R_4j1UvHtsNV4hP9khqIqwsxrgR5r_CQ-LwQ2w04cmJQ1kcmB7W9EPdkooabMWBDbW7uSZZSs4TzLFBkkrfhzy9ElgFB4C9jpDUz11rH85Rsol8L2/s320/017206.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
</div>
<h1 align="center" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="X-NONE">A HERANÇA</span><span lang="X-NONE"><o:p></o:p></span></h1>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;">
<b><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Dias atuais...<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Já passava das duas quando Adam resolveu ir dormir. A noite não
havia começado bem e, após doze tentativas fracassadas de completar o ritual,
resolveu desistir. Doze era um número importante para os <i>aptos</i>. Doze privilégios, doze classes, doze círculos e doze
elementos. O doze estava em tudo no mundo mágico, só não estava no último rito
que tentara, e se não conseguira até agora isso só poderia ser um sinal:
transmudar vidas ia contra as leis da natureza e o preço a ser pago era alto
demais. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Do lado de fora de sua janela à chuva continuava a cair e o brilho dos
relâmpagos iluminava suas últimas oferendas – sangue, suor e lágrimas – e o Livro
Vermelho, aberto na última página e marcado com uma fita vermelha. O título estampava
o motivo de seu fracasso: <i>XCIX Canção do
Livro Vermelho</i>, o último ritual que todo alquimista jamais conseguira
realizar. O ritual do Elixir da Vida Eterna.</div>
<a name='more'></a><o:p></o:p><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Na manhã seguinte, o dia começou quente, como geralmente acontece depois
de uma noite de tempestade, e o sol matutino incidiu sobre a janela de Adam e o
despertou. Havia esquecido de fechar as cortinas na noite anterior e agora o
astro-rei invadia seu quarto com seu terno brilho acalorado e o forçava a abrir
os olhos. Levantou-se sonolento e pegou as roupas que estavam amontoadas sobre
o criado-mudo, enquanto no andar de baixo, sua mãe mexia nas louças preparando
o café. Era 25 de setembro de 2010, o dia que completaria dezenove anos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O som dos pratos e talheres na cozinha atraiu sua atenção e o cheiro de
algo gostoso assando, fez com que descesse as escadas, onde sua mãe o aguardava
com um sorriso e braços abertos. Devolveu o sorriso e abaixou-se para receber
um beijo e um abraço.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Já nem consigo mais beijar meu filho. Você não vai parar de crescer não
Sr. Ocher? – apesar da brincadeira sua voz demonstrava orgulho da altura do
filho. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Já parei mãe. A senhora que não percebeu – e devolveu o sorriso, se
desvencilhando do abraço da mãe e seguindo em direção ao banheiro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A mãe deu um tapinha em suas costas e voltou para a cozinha para terminar
o café. Do lado de fora, o vento fresco da primavera balançava os galhos da
mangueira que crescia perto de sua janela e o roçar das folhas na parede
produzia um som característico. Seu quintal era grande e bem arborizado e fazia
fundo com a reserva florestal do município, então não era raro encontrar
animais passeando pelo terreno ou revirando as latas de lixo dos vizinhos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Tomou um banho rápido e voltou para a cozinha, onde sua mãe o saudou com
uma xícara de café e uma fatia de bolo. – Parabéns filhote! Mais à tarde vou ao
centro comprar seu presente por isso não demore muito na sua avó tá! <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não vou demorar. – respondeu o rapaz pegando o café – Tenho uma reunião
na <i>facul</i> depois do almoço e não quero
me atrasar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Na verdade não tinha intenção de chegar à faculdade, mas sim voltar à
praça em frente ao campus onde vira de relance, uma moça no dia anterior. Uma
aura azul celeste a envolvia e por um minuto suspeitou se tratar da visão de um
anjo, mas ela se virou, entrou no Corolla estacionado em frente à praça e
desapareceu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Comeu o bolo rapidamente, se despediu da mãe e saiu. O vento soprava mais
forte agora e balançava os galhos das árvores ao redor espalhando folhas e
flores pela estrada afora e inundando a atmosfera com cheiro de terra molhada.
Sua rua era bem arborizada e o vento sob as árvores proporcionava uma atmosfera
agradável. Dobrou a esquina e seguiu pela avenida que dava para a zona rural. A
rua era larga e possuía duas vias de acesso, divididas por um canteiro com
árvores frondosas e grama alta onde pássaros e grilos faziam uma verdadeira
algazarra; cortejando suas pretendentes ou tentando conseguir sua primeira
refeição do dia. Fingiu não escutá-los enquanto tentava imaginar o motivo que
levou sua avó a lhe mandar um bilhete depois de tanto tempo. É certo que ela e
sua mãe não se entendiam e depois da morte de seu filho a velhota se afastou do
resto da família, permanecendo isolada numa casinha perto da estrada, onde morou
com seu avô até o mesmo desaparecer a dezoito anos atrás. A mãe incentivava
essa separação e sempre chamava a avó de bruxa velha.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Lembrar-se do pai fez aflorar em Adam emoções que acreditava estarem
sepultadas. Ele parou por um instante e pegou o bilhete:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Oi filho, como você sabe seu avô está
desaparecido há dezoito anos e seu pai nunca quis aceitar o legado da família.
Agora que você tem idade suficiente passo a você a herança dele. Sei que você é
especial e fará bom uso dela. Espero-te amanhã de manhã em minha casa. Não
falte.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Um beijo.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Vovó.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Legado da família – pensou em voz alta – minha vó deve estar caducando
– sabia que a avó vivia apenas com a aposentadoria e o único bem que possuía
era a propriedade no fim da estrada, mas a referência à seu pai e o fato dele ser
especial indicavam que a avó remexeria nas velhas feridas da família.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Caminhava perdido em devaneios quando ouviu um gemido vindo de trás de
uma árvore que adornava o canteiro central. Subiu na grama e contornou a árvore
para ver, bem ao lado do tronco, um filhote de pardal que tentava abrir a asa e
imediatamente a recolhia se contraindo de dor. Aparentemente caíra dos galhos e
a quebrara.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Olá. Tudo bem aí? – falou no piado característico dos pardais – Parece
que está com problemas – o pássaro tentou afastar-se, mas mal conseguia se
movimentar e se encolheu, encostando-se ao tronco – Não se preocupe, só quero
ajudar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Correu as mãos pelo grama alta e encontrou um ramo seco, com o qual
desenhou no ar um pentagrama de luz. Um pequeno feixe vermelho seguiu o graveto
como se brasa viva riscasse o ar e formou um desenho. Adam pegou o pássaro com
cuidado, depositando-o sob o desenho e puxou uma pena de sua asa, fazendo com
que o filhote se encolhesse ainda mais e piasse um palavrão em protesto. Pegou
novamente o graveto, desenhou outro pentagrama e abaixo dele colocou a pena, se
posicionando com as mãos atravessando os círculos sobre a pena e a asa quebrada.
A mão direita sobre a asa e a esquerda sobre a pena. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Fechou os olhos, concentrou-se e recitou lentamente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<b><i>XIV
CANÇÃO DO LIVRO VERMELHO<o:p></o:p></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Abriu os olhos lentamente tentando focar a visão. Suas pupilas estavam
dilatadas e as íris vermelhas como brasa. Fixou o olhar no pássaro e sussurrou
o canto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Ossos e sangue, pena vivaz;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Círculo de luz, uma troca se faz.<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Perto do fim, um novo começo;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Cura sem dor. Eu ofereço!<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Os círculos brilharam mais intensamente e a pena desapareceu no ar. O
círculo da esquerda uniu-se ao da direita envolvendo o pássaro que brilhou com
uma aura vermelho fogo, enquanto a luz percorreu seu corpo e se concentrou na
asa quebrada, fazendo-a estalar. No mesmo instante a fratura desapareceu e a
ave alçou voo, enquanto os últimos resquícios de brilho desapareciam.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Puxa, nem agradeceu! – levantou a cabeça e tentou olhar na direção que
o pássaro voara, mas o sol ofuscava sua visão. Do alto da árvore veio um –
Muito obrigado! – e o pássaro voou novamente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam sempre tivera certo dom para executar os cânticos, e para magias de
nível I não sentia necessidade de desenhar os círculos no chão, bastava traçar
o desenho no ar usando os dedos ou algo similar como um bastão ou graveto. Sempre
tivera certo receio de executar magias de cura, visto que não era sua
especialidade, mas usar a pena como oferenda lhe pareceu suficiente para uma
pequena fratura e a pouca energia consumida apenas o deixara ofegante por
alguns instantes. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Uma das regras da magia antiga é que a oferenda sempre é menor que o
benefício. Para ossos uma pena, para ouro, chumbo, e para a vida eterna uma
vida humana, mas poucos tinham coragem para entoar o cântico proibido, pois o
espírito humano é a única substancia que não pode ser contrabalanceada e ao
consumir um perde-se também o seu, então nunca passara por sua cabeça usar um
ser humano vivo em um ritual de troca, mas já ouvira histórias de alquimistas
negros, sem espíritos e perambulos entre a vida e morte.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Desceu do canteiro e seguiu pela longa avenida. As casas raleavam
conforme prosseguia e ao longe avistou a porteira que dava para a casa da avó. O
mato estava muito maior agora e a velha mangueira era apenas um amontoado de
madeira em decomposição. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
No final do caminho um velho rancho surgiu no horizonte. A luz do sol
refletia nas janelas de vidro e as cortinas encardidas esvoaçavam ao vento. As velhas
paredes de tábua há muito pediam uma pintura e liquens forravam a madeira de
alto a baixo. O velho telhado parecia que ia desabar a qualquer momento e as
persianas do sótão estavam quebradas e escancaradas. Fumaça saia da pequena
chaminé em forma de galo no telhado e cheiro de ervas inundou o ambiente assim
que ele adentrou a varanda. Uma idosa estava sentada ao lado do velho fogão à
lenha, vestida um jeans surrado, uma camiseta do <i>Green Peace</i> e tênis <i>All Star</i>
e esboçou um sorriso ao vê-lo. Seu cabelo parecia não ver escova há anos e os dentes
estavam amarelos e raleados. A velha chaleira no fogo apitou indicando que a
água fervera, no mesmo instante em que a avó se levantou para abraçá-lo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Bem vindo filhote. Chegou bem na hora do chá.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Retribuiu o abraço e beijou a pele enrugada do rosto da avó, enquanto
reparava nas condições do casebre. Estava muito pior que da última que o vira. A
escada para o telhado estava disposta de maneira a escorar as vigas e dos
móveis restavam apenas uma velha cama de madeira com lençóis encardidos, uma
escrivaninha com alguns produtos de beleza e um espelho grande, um armário
antigo repleto de porcelana, uma mesa redonda, algumas banquetas de tronco de
carvalho e o fogão a lenha perto da porta. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Sentou-se na banqueta ao lado da mesa e sorriu para a avó.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– E então <i>Madame Mim</i> onde é o
incêndio? – a avó sorriu ao lembrar-se da forma como o filho a chamava nas
vezes em que ia visitá-la com o neto, numa referência a bruxa velha e gorda,
personagem de Walt Disney.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não pareço com a <i>Madame Mim</i>.
– disse a velha ainda sorrindo – Ela usa vestido e eu não troco meu jeans por
nada nesse mundo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Parece que a senhora não troca é de jeans por nada nesse mundo. –
emendou o rapaz – Há quanto tempo não compra uma roupa nova? – falava em tom de
brincadeira, mas estava realmente preocupado com a aparência da avó. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A velha levantou, pegou as louças no armário e sentou novamente se
escorando na parede. Seu rosto já não esboçava alegria e o esforço para se
movimentar a deixara ofegante.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Desde que seu pai faleceu não tenho ido muito à cidade. Tenho pensado
muito em você, no seu futuro. Seu avô não está mais entre nós e seu pai também
já se foi, você agora é o único motivo da minha existência.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Tentou sorrir e disfarçar a vergonha por ter deixado a avó esquecida por
tanto tempo e descontraiu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Que isso vovó! A senhora ainda é uma coroa enxuta, tem muito que viver.
Está mais que na hora de sair um pouco e arrumar um velhinho bacana para
dividir o cobertor. Tem uns bailes da 3ª idade que...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não meu filho – a velha o interrompeu e lhe serviu uma xícara de chá –
Não posso negar meu destino e meu tempo está perto do fim. É por esse motivo
que te chamei aqui hoje. Como disse na carta, seu pai nunca quis assumir o
legado de seu avô, nunca quis procurar o caminho e tentou ocultar o mago dentro
dele, mas a magia sempre encontra formas de se libertar e se manifestou
novamente em você. Você é o escolhido. O descendente direto do primeiro e de
tantos outros grandes magos do passado que herdaram o legado de Adão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Espere aí vovó – disse o rapaz tomando um gole de chá – Eu sei que é
muito raro um mago nascer com o meu dom, e que as círculos místicos espalham
essa lenda do descendente de Adão, mas a senhora sabe que eu não acredito nessa
alegoria bíblica. Adão e Eva, serpente falante, arca de Noé e tudo mais, isso é
história para criança – falava com convicção, mas a velha parecia não aceitar a
descrença do neto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Sei que é difícil acreditar meu filho, mas você precisa me escutar; o
movimento já começou; as profecias estão se cumprindo; estamos a cada dia mais perto
do fim – ergueu as mãos num gesto exasperado parecendo estar fora de si – Como
foi no tempo de Noé será agora também; a destruição, as mortes, o caos... E só você pode impedir isso meu filho. Você é
nossa única esperança agora. Precisa encontrar o caminho para o Jardim e
resgatar a Árvore da Vida. Só assim a grande obra poderá ser concluída. Só com
o fruto da árvore do jardim é possível criar o Elixir da Vida e dar a
humanidade alguma esperança na guerra que está por vir.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Segurou as mãos do neto e as acariciou enquanto seus olhos brilhavam de
emoção. O rapaz recolheu as mãos e se arrumou na banqueta.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Vovó o elixir só pode ser criado com a energia de uma alma. – explicava
calmamente como se a avó não pudesse compreender de outra forma – Não há como
realizar a troca de outra forma, e essa árvore é uma lenda, um conto, assim
como seu fruto imortal. Não há um caminho para o Éden. O vovô morreu por
acreditar nisso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não meu querido. – insistiu a avó – Seu avô sabia que existia um
caminho, e tenho certeza que ele o descobriu. É por isso que te chamei aqui. Só
você pode continuar essa busca, mas precisa se apressar. Seu avô deixou um baú
no sótão para seu herdeiro. Era para seu pai, mas agora eu o transfiro para
você. Nele você encontrará tudo o que ele coletou e descobriu durante sua
jornada em busca do jardim. Ele será sua herança, e a nossa esperança de um
mundo sem tirania, onde cada ser humano possa escolher seu destino com base em
suas ações e não em um sistema injusto de regras impostas por outrem.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O rapaz terminou o chá e levantou sem saber o que dizer. Tudo aquilo
parecia loucura. A avó balançava a cabeça afirmativamente enquanto olhava para
ele sorrindo e indicando a escada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Vá meu filho, não tenha medo do seu destino. Eu o acompanharia se
pudesse, mas não tenho mais idade para subir escadas – escorou-se na mesa e
levantou. Retirou um estranho artefato do bolso de trás da calça e o entregou
ao neto. Era uma chave grande e muito antiga. Tinha o formato de uma cabeça de
cobra e no lugar dos olhos, duas pedras vermelhas contrastavam com o verde do
metal e de sua boca pendia uma corrente de prata. Seu corpo tinha a forma de um
“S” e no verso, gravado em baixo relevo, algumas inscrições em um idioma
desconhecido – A chave do baú – disse a avó ainda sorrindo – Ela tem o formato
de Sophia, para guiar seu caminho em sua nova jornada. Um caminho de
descobertas, conhecimento e reflexão, que começou com Sophia e com Sophia deve
terminar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Timidamente o rapaz estendeu a mão e pegou a chave fazendo com que seu
coração começasse a bater num ritmo acelerado e uma onda de calor percorresse
seu corpo. O artefato pulsava, incentivando-o a prosseguir e Adam pode sentir a
magia antiga que emanava dele. Aproximou-se desconfiado da velha escada de
madeira e começou a subir. O casebre dançava a cada subida e por um momento
pensou em desistir antes que tudo viesse abaixo, mas a avó parecia não se
importar e o incentivava com um olhar confiante. Lentamente galgou os poucos
degraus e adentrou o local. A abertura era apertada e Adam bateu a cabeça na
quina ao tentar suspender o corpo e praguejou enquanto seu boné rolava escada
abaixo. O sótão estava repleto de teias de aranha que balançavam ao vento e o
assoalho, velho e esburacado, parecia que ia ceder a qualquer momento. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Caminhou lentamente observado o lugar. Algumas prateleiras de madeira
resistiam ao tempo e davam ao ambiente um ar de biblioteca medieval apesar da
sujeira e do mau estado dos livros. No final do salão alojado entre dois
armários ficava o velho baú. Era de ferro e possuía três cintas de cobre o
circundando. A cinta do meio era mais larga e lembrava uma serpente enrolada. Seu
pescoço, mais fino, terminava numa fechadura cromada, mas ao contrário dos
modelos comuns que possuem a tranca na parte frontal, a abertura ficava na
parte de cima como uma serpente degolada. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Soprou a poeira acumulada há anos e passou a mão levemente sobre o baú. Devia
pesar pelo menos uns cinquenta quilos e parecia um milagre que não tivesse
desabado pelo assoalho apodrecido durante todos esses anos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Respirou fundo, encaixou a chave na fechadura e girou. A forma da
serpente ficou completa e um clique indicou que a tranca se abrira. Um misto de
ansiedade, medo e curiosidade tomou conta do rapaz ao levantar a pesada tampa e
contemplar o interior: um tecido vermelho de seda envolvia os objetos e
protegia o conteúdo e, quando retirou o pano, pode finalmente ver sua herança. Estendeu
a mão e retirou uma versão muito antiga da bíblia com capa de couro e letras em
alto relevo. Logo abaixo uma cópia de um velho manuscrito, que ele reconheceu
como sendo o Manuscrito Voynich, um tratado alquímico escrito em uma língua
desconhecida e indecifrável. Em seguida retirou uma foto de um espelho negro de
origem asteca, um mapa rabiscado em um pergaminho e uma carta de seu avô
aparentemente endereçada ao filho. Abriu a velha bíblia na página marcada com
uma dobra e leu o trecho que fazia referencia ao jardim lendário. A palavra “Hidéquel”
estava sublinhada à caneta e logo acima, também escrita à caneta, a palavra
“Tigre”, aparentemente indicando que se tratava do rio Tigre que atualmente
corta o Iraque.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Fechou a bíblia, guardou-a na mochila e pegou o segundo item; o
manuscrito Voynich. Era aparentemente uma cópia, pois sabia que o original
estava guardado no museu britânico e não imaginava que o avô tivesse meios de
consegui-lo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Abriu e folheou as velhas páginas reparando no estranho alfabeto. As
letras eram uniformes e as palavras não continham espaço, como se fossem
escritas seguidamente. Já lera sobre o manuscrito uma vez, quando fazia uma
pesquisa ainda no ensino médio, e descobrira que o mesmo havia pertencido ao
alquimista e astrólogo John Dee, famoso por colecionar objetos estranhos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Voltou algumas páginas e analisou as figuras. A maioria retratava plantas
exóticas e mulheres grávidas e por um momento ficou tentado a decifrar as
inscrições já que era apaixonado por códigos e símbolos antigos, mas preferiu
guardá-lo também na mochila e pegar o próximo item; a fotografia do espelho
asteca.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Retirou a foto e a examinou cuidadosamente. O espelho parecia feito de um
material negro e luzidio, semelhante a mármore e não possuía vidro. Era apenas
um pedaço de pedra negra e polida guardado em uma jaula ao lado de outros
objetos estranhos e quinquilharias do século XVIII. Adam sabia que o espelho
havia sido usado por Dee, para comunicação angelical, e não entendeu o porquê
do avô guardar uma foto do artefato.<span style="color: red;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Guardou a foto do espelho e retirou o pergaminho do baú. Era um mapa
feito à mão e mostrava as fozes dos rios Tigre e Eufrates, próximo ao Golfo
Pérsico quando os dois rios se encontram. Um círculo acima do golfo marcava um
local entre os rios e, no centro, escrito à caneta, a frase “Possível
localização do Éden”. Havia mais alguns rabiscos em volta do mapa e, no rodapé,
a sigla “J.B.” escrito de forma caprichosa. Parecia que o avô acreditava
realmente na história e procurava pelo jardim mitológico.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Enrolou o pergaminho e o depositou junto com os outros artefatos na
mochila, retirou o último item, a carta do avô endereçada ao filho. Estava
escrita em papel velho e enrolada junto com uma grande pena dourada,
possivelmente usada para escrevê-la. Abriu a carta e leu:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Meu querido filho. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Se você está lendo esta carta
significa que falhei e não pude completar a missão que me foi incumbida. Quero
que saiba que fiz todo o possível para realizá-la com sucesso, mas as forças
que confrontei eram terríveis e extraordinárias, e estavam além de minha
capacidade. Sendo assim, e com pesar, passo a você a tarefa de concluí-la e torço,
de onde estiver, pelo êxito em sua jornada, para que assim, a humanidade possa
finalmente ter a liberdade que anseia e merece.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Acredito que a essa altura você já
tenha desenvolvido seus dons, mas é importante que saiba como tudo começou.
Qual a origem da magia? Por que estamos empenhados nessa incumbência e por que
esse legado não nos foi permitido?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Magia é a energia que sustenta o
mundo. É a força criadora e destruidora do universo. É onde tudo se inicia e se
encerra. As plantas, flores, água, terra, ar, o universo, tudo se originou do
maior ritual de magia que se tem conhecimento. Um feito sem precedentes
ordenado pelo maior mago de todos os tempos. O ser que conhecemos e versamos
como Deus.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Deus é o único ser conhecido com
controle total sobre a magia. O único que possui acesso ininterrupto à energia
do cosmos e poder para manuseá-la à seu bel prazer. Sim, pois um ritual de
magia nada mais é do que uma ponte para tocar a energia do cosmo. Uma forma de
abrir uma brecha nos limites da física e por um segundo se tornar pleno, livre
e integrado com o cosmos.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Deus não precisa dessa ponte já que
não está sujeito às leis do universo. Elas são impostas apenas a nós, mortais,
para controlar e ocultar nossa capacidade. Dessa forma, Deus trabalha
diretamente com o cosmos num ritual divino, usando sua própria energia como
troca e podendo assim, manipular a magia apenas com sua palavra. Gênesis 1-3
exemplifica essa afirmação:<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>“E disse Deus: Haja luz. E houve
luz.”<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>E dessa forma, se concretizou toda
a criação, consumindo durante seis dias, uma quantidade quase inimaginável de
energia, e o levando a descansar e repor suas forças no sétimo. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Contudo Deus não simplesmente criou
o mundo como o conhecemos, mas os cinco elementos primordiais que dariam origem
a todas as coisas existentes. A luz foi o primeiro elemento criado, depois o
fogo, o ar, a água e finalmente a terra. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>A criação da luz é talvez o mais
importante dos rituais, pois define a criação do próprio Deus. Ao criar a luz
Ele se autoprojeta: passa de uma simples emanação de poder para algo
substancial, ainda que espiritual. Pode-se dizer, paradoxalmente, que a criação
da luz define a criação do próprio Deus por ele mesmo, separando seu lado
sombrio e o encarcerando na forma inteligente e sagaz de Sophia, mas sem poder
e sem liberdade para agir; vivendo à sombra do Todo Poderoso, lhe mostrando
seus erros e censurando seus atos. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>O segundo elemento daria origem às
hostes celestiais, os exércitos dos céus e a força vital dos demais seres. Sendo
às vezes inc</i>o<i>ntrolável e impetuoso,
mas também quente e aconchegante, o fogo representa um equilíbrio muito tênue
entre o bem e o mal. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>O ar simboliza a ingenuidade, e é o
terceiro elemento. Sendo um elemento de retenção, serve para controlar os
seres, selando seus conhecimentos. É o principal instrumento divino para
dominar os demais seres, mas, por ser desprovido de prudência, pode se rebelar
e se tornar terrível e desastroso. É representado pelo espírito e serviu de
componente para a formação da árvore imortal da vida. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>O quarto elemento é a água, que
serviu de composição para a construção física de todos os seres, sendo seus
corpos formados basicamente por água.<span style="color: red;"> </span>É o
primeiro dos elementos físicos e o mais importante deles. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>O quinto e último elemento é a
terra, usado principalmente na criação de substancias sólidas. É o segundo
elemento físico e serviu de componente para a formação do primeiro homem, sendo
esse, no entanto, privado de livre-arbítrio e apenas um peão num jogo de xadrez
comandado pelo Criador. Um boneco de barro criado para obedecer e servir.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Desse barro, apenas um lugar ainda
mantém sua fórmula original e imaculada. O mesmo lugar onde a sombra se
converteu em luz e plantou uma semente de mudança, de saber e de revolta – a
árvore do Conhecimento do Bem e do Mal –, gerada da essência de Sophia, para
prover o boneco de senso crítico e poder de escolha, se essa fosse sua vontade.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Esses são os cinco elementos
celestiais usados por Deus na criação do mundo. Realizando um ritual onde o
próprio Ser se entregou como oferenda e sintetizou o maior rito de troca já
realizado, dando origem ao universo e tudo que nele existe. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Dessa forma teve início a história
da humanidade como a conhecemos. O homem recém-criado rejeitou a soberania do
Criador e decidiu seguir seu próprio caminho, pagando um alto preço por sua
decisão. Porém seu novo entendimento o levou a uma nova realidade e o preço da
eternidade se fez pequeno frente ao novo mundo que se abriu; um mundo de descobertas,
conhecimento e liberdade. Onde cada ser humano possa ter a escolha de desafiar o
poder de um deus e vencê-lo, e assim decidir, por conta própria, perpetuar sua
existência na face da terra.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Essa é a nossa missão; nossa benção
e nossa maldição. Pois fomos abençoados com o dom da magia e amaldiçoados com
essa tarefa de conquistar meios de enfrentarmos uma guerra contra os céus. Uma
guerra predita e eminente, mas que pode ter um desfecho bem diferente do
esperado. Só depende de você, meu filho: encontrar o caminho para o jardim,
resgatar o fruto da árvore da vida e, através dele, dar à humanidade uma chance
de resistência na batalha apocalíptica que se aproxima. Nada escrito está que
não possa ser mudado, pois nossos destinos são decididos por nossas escolhas. E
nós escolhemos resistir. Esse é o legado que Sophia nos deixou e faremos bom
uso dele para o bem da espécie humana.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Eu me despeço com pesar e esperança.
Pesar pela dura missão que lhe confio, mas esperança, pois sei que tens os
atributos necessários para concluí-la com sucesso.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Que a luz da magia ilumine sua
estrada e os círculos de poder o guiem no melhor caminho. Um caminho de
esperança, racionalidade, amor e liberdade para todos.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Limpou o suor da testa com a manga da camiseta e passou a mão nos cabelos
enquanto se sentava na borda do baú, tentando colocar as ideias em ordem. Não
se lembrava precisamente do avô, pois ainda era um bebê na época do seu
desaparecimento e toda informação que tinha sobre ele vinha de fotos e relatos
dos parentes. Sua mãe dizia que<span style="color: red;"> </span>o velho era meio
maluco e que o pai nunca dera ouvidos a conversa dele. Mas a magia era real,
ele era um prova disso e, apesar de não o ter conhecido pessoalmente, sabia que
ele havia sido um grande alquimista, inclusive com canções registradas no livro
vermelho. No entanto a história do jardim, do ritual com o fruto imortal e da
batalha apocalíptica parecia fugir à realidade, não poderia ser verdade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Levantou-se, fechou o baú e guardou a chave na mochila, e atravessou o
longo corredor até a velha escada, onde parou por um instante sem saber ao
certo o que dizer à idosa que o esperava logo abaixo. Sabia que a avó estava
ansiosa para saber sua decisão, mas não tinha certeza que podia dar a resposta
que ela desejava. Por fim decidiu deixar a avó tomar a iniciativa e desceu. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Como esperado a velhota o esperava no final da escada e sorriu ao vê-lo
descer.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– E então filhote, resgatou sua herança? – Adam tentou retribuir o sorriso,
mas ainda estava meio perturbado com tudo e apenas balançou a cabeça
afirmativamente enquanto descia o último degrau.<span style="color: red;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Sentiu que sua falta de empolgação frustrou um pouco a avó e tentou
remendar.<span style="color: red;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Estou meio confuso agora vovó. Preciso pensar um pouco, colocar as ideias
em ordem. Depois conversamos com mais calma, pode ser?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Claro querido – disse a avó abraçando o neto – Pense com calma. Essa é
uma decisão muito importante e vai mudar sua vida para sempre, mas lembre-se
que nada acontece por acaso e sua escolha pode mudar o destino de toda
humanidade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Consentiu com a cabeça e despediu-se com um beijo, deixando a casa sem
olhar para trás. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A avó ainda gritou uma despedida da varanda e o rapaz retribuiu o gesto
timidamente enquanto caminhava rapidamente para fora da propriedade. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Passou pela porteira em ruinas e logo alcançou a estrada que dava para a
cidade.<span style="color: red;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A poeira do sótão estava impregnada em suas roupas e cheiro de mofo subia
até seu rosto sempre que o vento soprava mais forte, desalinhando seu cabelo e
provocando um rebuliço nas longas mechas castanhas que lhe caiam sobre os olhos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O sol também estava mais quente agora fazendo com que sua camiseta grudasse
no corpo devido ao suor e provocasse certo incômodo, aumentando o desconforto e
a irritação do rapaz. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Andou alguns metros e parou embaixo de uma árvore frondosa, para tentar
organizar os pensamentos e avaliar a situação, mas uma algazarra de insetos que
se escondiam do calor e pássaros que saboreavam os frutos maduros e convidavam
seus companheiros a participar do banquete, distraiu sua atenção. Quando deu
por si, uma música conhecida chegou aos seus ouvidos e um Corolla azul marinho
parou ao seu lado, revelando uma garota com cara de anjo. A moça abriu a porta
do passageiro e, sorrindo, o convidou a entrar. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Olá Adam – disse a garota. Seus olhos eram de um azul profundo e sua
pele branca e sedosa contrastava com seus longos cabelos negros. Seus seios
quase não cabiam no top decotado e a calça justa destacava as curvas bem
modeladas – Que sorte encontrá-lo aqui. Entre! Te dou uma carona para casa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Surpreso pela aparição e mais ainda pelo fato da moça saber o seu nome, Adam
entrou no carro e fechou a porta. O automóvel arrancou e tomado pela
curiosidade gaguejou ao perguntar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– D-desculpe, mas de onde me conhece? Não me lembro de já tê-la visto
antes – mentiu tentando parecer sincero.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
É uma longa história, mas não se preocupe, temos muito tempo para
conversar. Meu nome é Rebecca Blue e se estiver com fome podemos almoçar
juntos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Seria ótimo! – disse Adam se empolgando com o convite – Mas antes tenho
que passar em casa para tomar um banho e trocar de roupa. Você gosta de comida
chinesa? Conheço um ótimo restaurante perto da faculdade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A moça apenas sorriu em resposta enquanto erguia o volume do som do carro
e a voz melódica de Jon Secada encheu o ambiente no longo trajeto de volta à
cidade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
***<o:p></o:p></div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
<br /></div>
Feitosahttp://www.blogger.com/profile/01786865127916010920noreply@blogger.com2R. Içai, 255 - Rita Vieira, Campo Grande - MS, 79062-302, Brasil-20.522216498185486 -54.55810546875-20.760152998185486 -54.87396246875 -20.284279998185486 -54.24224846875tag:blogger.com,1999:blog-9204546804128450555.post-48870344948404802242011-08-24T14:02:00.000-07:002015-07-20T18:23:21.590-07:00CAPÍTULO II<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvXx3xzqG_0-E2CMOHFOQpMD4GGlfbwE6CrKT-Ul_zgJNlQcM0oZMtf2VYSubKYxMgCFCWggBs5qAjTHCgB4h2kyeUepzyJg5e6BE3iY-rPVbJ2TsJSpUj52Bgli-6U-80_-RG041mhMy3/s1600/Marialva_2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="210" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvXx3xzqG_0-E2CMOHFOQpMD4GGlfbwE6CrKT-Ul_zgJNlQcM0oZMtf2VYSubKYxMgCFCWggBs5qAjTHCgB4h2kyeUepzyJg5e6BE3iY-rPVbJ2TsJSpUj52Bgli-6U-80_-RG041mhMy3/s320/Marialva_2.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<h1 align="center" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="X-NONE">O ACORDO</span><span lang="X-NONE"><o:p></o:p></span></h1>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 54.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O necromante caminhava rapidamente, tentando não ouvir o
primo que resmungava logo atrás. Estava sufocando dentro da roupa escura e
espessa que costumava usar, mas estava decidido a chegar logo a seu destino e
encontrar o usurpador de sua herança. Passara os últimos dois anos, depois de
deixar o Círculo Negro, planejando isso e apesar de alguns
percalços, a jornada seguia sem contratempos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Atravessaram uma pequena vila de agricultores rodeada por grandes
propriedades rurais. O lugar parecia tranquilo e a maioria dos habitantes
encaravam os viajantes sem constrangimento. Ao sul do vilarejo, adornando o
alto da colina, ficava uma velha igreja de pedras brancas e, atrás dela, podia
se ver silhuetas de lápides e cruzes, indicando um cemitério. Alguns fiéis
transitavam por entre os mortos, carregando flores e velas, enquanto outros
limpavam as lapides e faziam orações, acompanhados por um pároco.</div>
<a name='more'></a><o:p></o:p><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Conforme caminhavam, a presença humana se tornava cada vez mais escassa,
e o calor e o abafamento eram quase insuportáveis. Quando o último resquício de
civilização, na figura de um boteco de beira de estrada, ficou para trás, minou
o pouco do ânimo que ainda tinham.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não aguento mais andar – insistiu o primo, um rapaz louro e de roupa
verde extravagante – Vamos parar naquele boteco e refrescar a garganta.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ah claro, vamos parar em um bar e encher a cara. – respondeu o
necromante sarcasticamente – Mas como você pretende pagar a conta depois? Esqueceu
que gastou todo nosso dinheiro no bordel? – e completou entre dentes – Maldita
hora que confie meu dinheiro a um bardo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Eu não sou um bardo. – disse o primo constrangido – Sou um ranger,
um mago da natureza, apenas gosto de cantar oras. E eu não gastei todo o
dinheiro no bordel. As mulheres aproveitaram que eu estava bêbado e me
roubaram. – justificou-se.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Grande diferença. – cuspiu o primo irritado – Sua falta de
responsabilidade sempre põe tudo a perder. Por sua causa estamos caminhando sob
esse sol escaldante quando poderíamos alugar um carro, se tivéssemos dinheiro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O ranger ainda resmungou alguma coisa, mas o necromante fez que não ouviu
e apressou o passo até chegaram até um árvore frondosa que margeava a estrada,
quando pararam para descansar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Uns poucos transeuntes passaram pelo lugar e olhavam com curiosidade para
os dois, que formavam uma dupla incompatível. O necromante era alto e magro,
apesar de ter os músculos definidos. Seus cabelos eram negros e brilhantes e
estavam sempre bem penteados. Sua pele, branca e lívida, se destacava sob a
roupa preta e, abaixo das pálpebras, grandes olheiras combinavam com os olhos
sombrios. Era um belo rapaz apesar da aparência tétrica e sempre chamava a
atenção das garotas por onde passava. Por outro lado, o primo era loiro e
rechonchudo. Tinha grandes olhos verdes e as bochechas eram rosadas e
proeminentes. Sempre deixava crescer uma barbicha no queixo e seu cabelo
desalinhado vivia a cair sobre a vista.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Apesar da estranheza da situação o garoto loiro estava bem à vontade.
Sentou-se na relva que cobria a margem da estrada e retirou um bandolim da
mochila que trazia nas costas. Afinou as cordas, ajeitou-se no assento
improvisado e iniciou uma cantiga.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>De encontro ao destino, na viela da morte;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Buscando um caminho e apostando na sorte;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Perdidos no campo, cheirando à capim;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Somos dois caminhantes, na estrada sem fim;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Dois caminhantes, na estrada sem fim.<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Opróbrio injusto, ruína do forte;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>O imã da vida, não aponta pro norte;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Laços de sangue, sociedade ruim;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Somos dois caminhantes na estrada sem fim;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Dois caminhantes, na estrada sem fim.<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A despeito do constante mau humor o necromante teve que rir da cantiga
entoada. No fundo sabia que não era uma companhia agradável e que o primo,
apesar de tudo, só estava nessa jornada por ele.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Certo peregrino cantante, vamos continuar, caso contrário não
chegaremos a lugar algum – disse o necromante tentando parecer gentil.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O rapaz guardou o bandolim na mochila e levantou-se escorando na árvore. Ainda
estava com sede e o tempo que ficou parado serviu apenas para minar sua
disposição. Recomeçou a caminhada tentando acompanhar o primo que seguia
ligeiramente à sua frente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Porque não esperamos anoitecer para recomeçarmos a caminhar. O sol está
tinindo e não temos ideia do quanto ainda temos pela frente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Porque temos urgência em nossa demanda e já estamos atrasados. –
respondeu Thomas – Quanto ao sol, você não disse que domina as canções de nível
III? Faça algo a respeito do tempo, ou estava apenas contando vantagem?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– As canções de nível III consomem muita energia. Acho que prefiro andar
no sol quente a tentá-las.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Há! O mago é o senhor de sua magia e não o contrário. Se não tem
capacidade para executá-las, abdique de seu dom. – respondeu o necromante
zombeteiro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O primo ainda resmungou alguma coisa tentando se justificar, mas sua
atenção foi atraída para uma jovem de longos cabelos prateados e encaracolados.
A moça usava um vestido branco e rodado, com detalhes em rosa no decorrer do
comprimento e um decote provocante na parte de cima. Sapatilhas brancas com
laços vermelhos e meias rosadas com estampa de flores completavam o conjunto da
adolescente que tinha olhos grandes e rosto pálido.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Segurando uma sombrinha rendada em uma das mãos e uma sacola de verduras
na outra, a moça passou pelos dois olhando-os com singela curiosidade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Com licença linda senhorita – disse o ranger galantemente – meu nome é Wesley
Green e esse é meu primo Thomas Black. Estamos meio perdidos e discutíamos
sobre o caminho para a cidade quando sua bela presença roubou nossa atenção. A
despeito de sua culpa, poderia nos informar se estamos indo na direção correta
e quanto ainda falta para chegarmos?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Aproximou-se e pegou as mãos da donzela segurando-as entre as suas. A
moça corou e abaixou a cabeça timidamente fazendo as longas mechas de sua
franja caírem sobre seu rosto e esconderem seus olhos acinzentados. Abriu os
lábios na tentativa de responder, mas não conseguiu pronunciar palavra alguma. O
rapaz levantou seu rosto segurando seu queixo e a encorajou com um sorriso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Por favor, senhorita. Nosso destino está em suas mãos adoráveis.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– D-desculpe senhor – disse a moça entre gaguejos – mas não estou
acostumada a tanta cortesia. A estrada é essa mesma e vocês estão à
aproximadamente seis horas de caminhada da cidade. Podem seguir em frente que à
noite já devem avistar as luzes.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Muito obrigado! – disse o ranger gentilmente – Mas uma moça linda como
você deveria ser tratada sempre com toda cortesia. Não quer nos acompanhar por
um tempo? Assim poderemos nos conhecer melhor.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A moça assentiu com a cabeça e o rapaz pegou em seu braço e seguiram
conversando. O necromante seguia atrás discordando da audácia do primo e
praguejando contra o sol.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Maldito calor, mais uma hora nesse sol e vamos torrar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– É verdade. – disse a jovem – Eu que estou acostumada também estou
sentindo mais forte hoje, mas logo à frente tem um riacho onde podemos nos
refrescar se estiverem interessados.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Isso! – disse Wesley pulando de alegria – Tomar um banho é tudo que eu
gostaria agora. O que acha primo?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Bem, em virtude das circunstâncias acho que uma pequena parada para nos
refrescarmos não seria de todo ruim, mas não podemos nos demorar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ótimo! – disse a jovem – Logo após aquela curva saímos da estrada e
descemos o vale que logo chegaremos, não é um rio muito grande, mas a água é
muito fresca, vamos apressar o passo que assim poderemos aproveitar melhor o
tempo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Os dois rapazes concordaram com a cabeça e seguiram mais rapidamente. O ranger
prosseguia conversando com a moça e o necromante ia atrás em silêncio. Não
gostava de atrasos, mas a ideia de um banho nas condições em que se encontrava,
tornaram o convite irrecusável. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Chegaram à curva e saíram da estrada entrando em meio ao capim alto que a
margeava. Uma lebre cinzenta saltou de uma moita e correu para a estrada
fugindo à presença dos invasores enquanto algumas codornas fizeram o caminho
inverso, assustadas com o semblante dos novos visitantes. Wesley ficou um pouco
para trás e praticamente desapareceu dentre o capinzal verde que os envolvia e
apenas os praguejos exasperados que aleatoriamente soltava serviam para
localizá-lo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Meu Deus! Esse capim parece navalha. Meus braços estão todos
retalhados.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O necromante parecia não se importar com os lamentos do primo. Seguia na
frente disposto a sair logo daquela situação, mas o capim fechado tornava o
ambiente abafado e aumentava a sensação térmica de calor sufocando-os ainda
mais. Apenas a moça se comoveu com a queixa do rapaz e voltou para ajudar e
acompanhá-lo mais de perto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Mantenha os braços dentro da
camiseta – respondeu a moça tentando ajudar– e tente manter a cabeça abaixada
assim vai evitar que as folhas toquem seus olhos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O ranger acatou o conselho da donzela e livre dos arranhões acelerou o
passo tentando alcançar o necromante que seguia logo à frente. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Seguiram por mais uns quarenta metros e chegaram. O riacho era estreito,
com uns dez metros de largura, e corria por entre rochas cobertas de musgo e
pequenos arbustos. A água morna parecia pura e cristalina, com exceção da
margem oposta, onde a fundura tornava-a escura e fria. Pequenas flores cresciam
por entre os sulcos das rochas ao lado de grandes pedras que adornavam a
paisagem e grama rasteira forrava as margens de um lado e de outro. Árvores
frondosas, que cresciam ao redor, tornavam o ambiente agradável e o barulho da
água correndo convidava os viajantes para um mergulho.<span style="color: red;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A moça começou a tirar a roupa e ficou apenas de calcinha e sutiã – um
conjunto branco que, ao molhar, tornou-se parcialmente transparente –,
revelando o corpo perfeito, e entrou na água. Algumas garças que passeavam ao
longo do riacho alçaram voo e deram rasantes sobre a cabeça da jovem como se
estivessem enciumadas pela beleza da adolescente. Wesley as enxotou e se juntou
a moça trajando apenas um calção listrado de verde e branco e uma fita nos
cabelos, supostamente para mantê-los longe dos olhos. Aproximou-se devagar,
caminhando com dificuldade na correnteza e pegou os cabelos prateados da jovem,
que agora estavam mais escuros em virtude da umidade, e os acariciou. A moça
encolheu-se de tesura e tentou se afastar, jogando o corpo esbelto levemente
para frente. Instantaneamente o ranger segurou em seus ombros e virou-a para
que ficassem frente a frente e sorriu ao perguntar fingindo curiosidade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Como é mesmo seu nome? – disse soltando a moça para que a mesma pudesse
respirar – Não me lembro de você tê-lo mencionado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Thomas que até aquele momento só observava, tirou as roupas escuras que
usava, ficando apenas de cueca, e sem muita cerimônia, saltou de sobre uma
rocha para o meio do córrego, respingando água para todos os lados. Emergiu
logo à frente, próximo a barranca do riacho onde a água era mais escura e fria.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Mariah. – respondeu a moça limpando o rosto do aguaceiro provocado pelo
mergulho do necromante – Mariah White. Moro a uma pequena distância daqui, em uma
propriedade agrícola pertencente ao meu pai. Saí para comprar alguns
condimentos para minha madrasta na vila logo atrás e voltando encontrei vocês.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– É o destino. – disse Wesley com um sorriso no rosto – Estava
predestinada a encontrar-me.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A moça corou e abriu um sorriu tímido, enquanto o necromante que assistia
a tudo sem demonstrar emoção, teve sua atenção atraída para alguns animais que
se arrastavam à beira do riacho. Em pouco tempo ajuntou alguns gravetos e
acendeu uma fogueira com a madeira e palha seca. Voltou para a margem e
capturou os anfíbios que se aqueciam ao sol e guardou-os num vasilhame, pegou
água no riacho com uma chaleira velha e limpou os animais, livrando-se das
vísceras. Colocou mais lenha na fogueira e voltou para o rio, subindo na margem
oposta e adentrando na mata fechada. Wesley e Mariah apenas observavam, se
divertindo com a destreza com que o necromante fazia as coisas. Thomas voltou
pouco depois com algumas plantinhas a tiracolo, lançando-as em seguida no
caldeirão que havia pendurado sobre a fogueira. Adicionou os animais que
capturou e com os talheres que trazia na mochila, preparou um ensopado com as
ervas e temperos que encontrou. O cheiro de carne cozida logo inundou o
ambiente e atraiu a atenção dos amigos que olhavam sem disfarçar a curiosidade.
A espera teve fim poucos minutos depois quando Thomas retirou a tampa do
caldeirão e chamou os demais para comer.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Hum! Muito bom – disse Mariah saboreando o ensopado – O que você usou
para temperar? Coentro?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Urina. – respondeu Thomas sem olhar para a garota – Urina de sapo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A donzela cuspiu a comida sobre o ranger que estava à sua frente e saiu
correndo para lavar a boca no riacho. O necromante ria enquanto Wesley tentava
se limpar amaldiçoando o primo pela brincadeira.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Passaram alguns minutos de descontração apesar do necromante não
participar da conversa. A moça era extrovertida e o ranger não perdia uma oportunidade
de fazê-la rir. Contava piadas e histórias reais ou inventadas e arrancava
sorrisos e aplausos da donzela. No final prometeu compor uma cantiga em sua homenagem
e ganhou um abraço e um beijo no rosto. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Thomas foi o primeiro a levantar e propor a retomado da missão. Os demais
levantaram a contragosto. Mariah insistiu para que demorassem mais um pouco,
mas o necromante não quis. Haviam perdido quase uma hora ali, entre mergulhos e
conversas e não podiam se demorar mais, apesar do ambiente convidativo. Fora da
copa da árvore o sol ainda estava quente e a moça penou para vestir a roupa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ah! Se pudesse ia só de calcinha e sutiã. Vou cozinhar neste vestido
quente. – disse enquanto se vestia – Bem que o sol podia se esconder um pouco. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Wesley olhou para o primo que respondeu com um olhar de desafio. O ranger
recolheu uns troncos ressecados e folhagem rasteira e voltou para a água, improvisando
uma pequena barragem com galhos e folhas, represando a água e aumentando o
volume. Respirou fundo e se posicionou no meio da pequena represa afundando os
braços na água e desenhando um pentagrama. Uma luz verde brilhante seguia seu
braço e produzia um espetáculo fascinante, e, no final, desenhou um círculo em
volta. Repetiu o processo dessa vez com as mãos para o alto e mais três
pentagramas decrescentes se formaram no céu acima da represa, formando um túnel
de luz entre a água e o céu límpido. A moça acompanhava tudo perplexa e o
necromante olhava para os círculos com estranha curiosidade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O rapaz fechou os olhos se concentrando, respirou fundo e sussurrou
lentamente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<b><i>XLVIII
CANÇÃO DO LIVRO VERDE<o:p></o:p></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Abriu os olhos verdes e brilhantes e fixou o olhar na represa de água. Os
círculos brilharam ansiosos e o ranger iniciou o canto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Neblinas do oeste, ventos do sul;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Águas reclusas, celeste azul;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Nimbo sombria, litígio cumprido;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Calor e alvura, por hora, sumidos.<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Palavras de ordem, ao longe se escuta;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Favor merecido, uma justa permuta;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Circo brilhante, anseio descrito;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Mudanças no clima. Eu solicito.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
As estrelas brilharam mais intensamente e o túnel de pentagramas sugou a
água represada. Os círculos se expandiram horizontalmente e inundaram o céu com
uma cor verde brilhante, formando grandes nuvens no horizonte que aos poucos encobriram
o sol. Um vento frio começou a soprar e levantou as folhas secas que repousavam
sob as árvores, fazendo a temperatura cair e o clima ficar fresco como uma
manhã de outono. Os círculos brilhantes desapareceram no ar e o mago verde caiu
desfalecido sobre a terra seca.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Pronto! – disse Thomas irritado – Agora vou ter que carregar esse gordo
nas costas. Era preferível andar no Sol quente. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A moça protestou dizendo que o esforço de Wesley foi para lhes
proporcionar um clima favorável para a caminhada e que ele deveria estar
agradecido, mas Thomas se fez de desentendido. Mesmo assim pegou Wesley pelas
pernas e o jogou de mau jeito sobre os ombros e seguiu o caminho, atravessando
novamente o capinzal alto e afiado. Os braços e o rosto do ranger estavam sendo
retalhados pelo capim, mas o necromante parecia não se importar e seguiu em silêncio
até chegar novamente a estrada. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O vento soprava mais forte em campo aberto e a jovem sentiu frio. Abraçou
os ombros para se aquecer e correu para alcançar o necromante que seguia logo à
frente, bombardeando-o com toda sorte de perguntas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Como ele fez aquilo? Vocês são magos? Por Deus! Nunca imaginei
encontrar um mago verde por aqui. Você também é um ranger? Um mago da natureza?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não! Sou um necromante – respondeu Thomas sem olhar para a moça – e
sim, somos magos. Agora dá para você calar essa boca, não ajuda muito falar
enquanto carrego esse peso nas costas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Certo! Mas vocês precisam me ajudar – disse a Mariah se recompondo – estou
com problemas e preciso do auxílio de bons magos como vocês. Vamos até minha
casa que eu explico o caso no caminho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Pode ir parando por ai mocinha – disse o necromante irritado – não
tenho intenção nenhuma de te ajudar e já perdi tempo demais. E não se deixe
enganar pela aparência patética de meu primo, não estamos nessa empreitada para
boas ações.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Mas eu posso pagar – respondeu ela pegando no braço do necromante e
encarando-o com olhos esperançosos – tenho um bom dinheiro guardado e me
disporia dele com prazer para sanar meu problema.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O necromante parou por um instante. Não gostava da ideia de mais um
atraso, mas a situação financeira em que se encontravam era desesperadora. Se a
moça fosse mesmo filha de um fazendeiro deveria ter uma boa quantia guardada e
poderia pagar um bom preço pelo serviço, no mais, precisava encontrar um lugar
para hospedar o primo até o mesmo se restabelecer e não estava em condições de
pagar uma pousada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Bem se for assim acho que posso ouvir o tens a me dizer, desde que a
situação não exija muito tempo – respondeu Thomas tentando esboçar um sorriso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Tenho certeza que magos poderosos como vocês resolverão a situação em
pouco tempo. – disse a garota com um brilho nos olhos – E então, temos um
acordo?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O mago negro assentiu a cabeça e seguiu a jovem, que saltitava a sua
frente na esperança de fazê-lo acelerar o passo apesar de o necromante manter o
ritmo. Andaram mais alguns quilômetros e Thomas já estava pensando em parar
para descansar um pouco quando avistou uma grande porteira branca, cercada por
uma muralha de pedra que se estendia da estrada até os confins da propriedade.
Mariah parou a poucos metros da porteira e virou-se para ele.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Chegamos... então preciso saber! – disse encarando o necromante – Quanto
vocês cobrariam para matar a minha madrasta?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
***<b><o:p></o:p></b></div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
Feitosahttp://www.blogger.com/profile/01786865127916010920noreply@blogger.com0BR-262 - Miranda - MS, Brasil-20.244280550172135 -56.362953186035156-20.248005050172136 -56.367888686035158 -20.240556050172135 -56.358017686035154tag:blogger.com,1999:blog-9204546804128450555.post-15498248255185328512011-08-23T14:04:00.000-07:002015-12-12T21:52:27.262-08:00CAPÍTULO III<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgK0bsHr_KUY54eQ3gqiOP6Hjfwq2YMXof5vkWkQQpJCaEKm3uoopJmer9OuzlmxMFovffhNQQTcCIb_9G4Z0YNLHJvIdbcnVb0zJFIb4N9B_WqiV2HMH91idchvSvgT7yBOkWi1OaVl12l/s1600/Faculdade_de_Letras_da_Universidade_de_Lisboa_9269.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgK0bsHr_KUY54eQ3gqiOP6Hjfwq2YMXof5vkWkQQpJCaEKm3uoopJmer9OuzlmxMFovffhNQQTcCIb_9G4Z0YNLHJvIdbcnVb0zJFIb4N9B_WqiV2HMH91idchvSvgT7yBOkWi1OaVl12l/s320/Faculdade_de_Letras_da_Universidade_de_Lisboa_9269.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<h1 align="center" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="X-NONE" style="text-transform: uppercase;">A </span><span lang="X-NONE" style="text-transform: uppercase;">Surpresa<o:p></o:p></span></h1>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 54.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
“A magia esta em mim, como também esta em você” – explicava a avó ao lhe
mostrar um pequeno ritual de transmutação, em que um pequeno botão de cobre se
convertia em bronze por meio do círculo vermelho – “Todo alquimista é capaz de
executar as canções do Livro Vermelho se tiver a oferenda correta. Nesse caso,
como é um ritual simples, uma simples moeda foi perdida, mas quanto maior o
ritual, maior deve ser a oferenda. Lembre-se disso ao executar rituais
complexos.” – e abria uma nova página no velho livro de capa vermelha e lhe
mandava tentar o próximo – O vidro é mais exigente que o metal, então use algo
mais apropriado. – e assim foi durante toda sua infância. Sempre que ia visitar
a avó, ela arrumava um jeito de despistar seu pai para lhe ensinar a magia. Uma
vez o enviou para recolher ervas, alegando que não estava muito bem e não
gostava de remédios farmacológicos, em outra, alegou que os vizinhos estavam mexendo
em sua certa, nos fundos do sítio e pediu que ele verificasse, e assim tinham muito
tempo a sós para praticar.</div>
<a name='more'></a> <o:p></o:p><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Além do Livro Vermelho, a avó lhe orientava a ler outros livros que possuía
em sua estante: A história da alquimia, Alquimistas famosos, A revolta dos
privilegiados, Alquimia: transmutação e espiritualidade e o Dom dos primordiais,
que tratava da capacidade dos primeiros homens em entender a linguagem animal.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Aos poucos Adam foi se tornando capaz de manipular as canções conforme
sua necessidade e, quando o pai faleceu e a mãe começou a exigir mais sua
presença, o afastando da avó, já tinha conhecimento suficiente para prosseguir
sozinho. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Pensava nisso enquanto tomava banho e se livrava do mau cheiro do sótão. Era
muita coisa para um dia só: o reencontro com a avó que não via há anos, a
herança mágica de seu avô, o encontro inesperado com a moça do Corolla, e o
almoço. Pensava em cada detalhe, em cada palavra que diria e a resposta que ela
daria em seguida, para então, dar outra resposta e manter uma conversa
interessante. Se conseguisse impressionar a moça seu sucesso estava garantido.
Apesar de seu porte físico privilegiado e sua bela aparência, não fazia muito
sucesso com as garotas que o achavam esquisito e talvez perfeitinho demais, e
depois que boatos sobre sua sexualidade começavam a circular na faculdade, se
sentia na obrigação de arrumar uma namorada. <i>Se for uma deusa como a moça que me aguarda na sala, tanto melhor, </i>pensou.
Já imaginava a cara dos colegas quando o vissem com ela.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Fechou o chuveiro e enxugou o banheiro. Sua mãe não gostava de encontrar
o piso molhado e sempre o repreendia quando cometia tal pecado, mas hoje nada
poderia dar errado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Subiu ao seu quarto e vestiu sua melhor roupa, sempre combinando o preto
com o vermelho. Penteou os cabelos e desceu, mas antes de chegar ao fim da
escada ouviu as duas mulheres conversando na sala e pelo tom das vozes o assunto
parecia girar em torno de religião. Sua mãe era católica praticante e apesar de
não exigir do filho que seguisse a mesma convicção, sempre procurou lhe incutir
os ideais cristãos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Aproximou-se devagar para escutar a conversa e avistou Rebecca sentada de
frente para a mãe na poltrona menor, agitando levemente os braços. Vestia uma
roupa leve: uma camisete azul de seda, bem comportada, por cima do top decotado
e os cabelos, antes soltos, agora estavam presos num belo coque a moda
oriental. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A jovem parecia discordar veementemente de sua anfitriã e tentava
explicar alguma coisa que sua mãe se negava a aceitar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não creio que Deus seja bom – disse a moça – acredito que ele só haja
movido por interesses próprios e ajude somente quando lhe convém, com raras
exceções. E o conceito de bondade é muito vago, ser bom para sua família ou
pessoas próximas não faz de você uma pessoa boa. Deus, por exemplo, ajudou
muitas vezes o povo de Israel, mas duvido que seus vizinhos o consideravam um
símbolo de bondade. Inúmeras vezes Ele ordenou massacres, compactou com
escravidão, estupros, infanticídio e toda sorte de malevolência. Um ser que
ordena o assassinato de crianças inocentes para cumprir seus propósitos não
pode ser considerado bom, e eu conheço bem a história do meu povo já que sou
judia.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Antes que sua mãe pudesse responder Adam entrou na sala. Queria evitar
uma discussão entre as duas e religião era algo que sempre exaltava os ânimos.
As mulheres pararam de conversar ao vê-lo se aproximar e sua nova amiga sorriu
ao perguntar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Já está pronto? Então vamos que estou morrendo de fome.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A moça não esperou resposta e virou-se para a mãe de Adam ainda sorrindo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Até mais Dona Rute, foi um prazer conhecê-la.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– O prazer foi meu – disse a mãe se levantando para abraçá-la – Volte
outras vezes. É sempre bom ter visitas em casa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Volto sim – disse a jovem se afastando – Estou me transferindo para a
mesma universidade do Adam e vamos ter algumas aulas em comum, então sempre que
a oportunidade surgir vamos nos reunir aqui, para fazer trabalhos ou estudar,
se a senhora permitir é claro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Desde já tem minha permissão querida, mas já vou avisando: o Junior é
um preguiçoso – disse a mãe virando-se para o filho – nunca faz os trabalhos. Não
sei como ainda vai bem na faculdade. Deve ter herdade a inteligência do pai.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Hei! Não falem como se eu não estivesse presente – protestou Adam abrindo
a porta para saírem – eu estudo, às vezes – e sorriu para a moça que retribuiu
e desfilou até a porta. Adam acenou para a mãe e saiu, fechando a porta atrás
de si.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O Carro da moça estava estacionado em frente ao portão da casa e atraiu a
atenção dos vizinhos curiosos. A Sra. Penina, uma idosa que morava na casa em
frente, acenou para o rapaz com uma expressão irônica no olhar. Adam sabia que
assim que saíssem ela repassaria a informação às outras vizinhas fofoqueiras do
bairro, mas não se importou, retribuiu o aceno e entraram no carro. A jovem
perguntou se ele gostaria de dirigir, mas o rapaz recusou. Não se importava de
ir de carona e poderia dedicar sua atenção a contemplar a situação. Rebecca
arrancou e ligou o DVD do Corolla, colocando uma música animada. A moça gostava
de ouvir música enquanto dirigia e Adam decidiu deixar as perguntas para a hora
do almoço. O trajeto era curto e logo chegaram ao restaurante. Ela estacionou,
soltou os cabelos e saíram em direção a porta de entrada. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Um chinês, vestido à caráter e com uma faixa vermelha amarrada na cabeça,
os saudou com reverência na entrada e lhes indicou um local para sentarem.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Belo restaurante – disse a moça enquanto se dirigiam à mesa – me lembra
um templo chinês que visitei com meu pai uma vez.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam sorriu e puxou a cadeira para que a moça sentasse. O ambiente era
agradável, todo decorado com balões e bandeiras vermelhas suspensas no teto e
um grande dragão de papel ornamentava o corredor e dava as boas-vindas aos
clientes. Garçons vestidos de branco e vermelho circulavam entre as mesas
colhendo os pedidos e entregando os pratos enquanto uma música ambiente tocava
no fundo. À esquerda da entrada da cozinha ficava o bar onde um velho chinês de
bigode comprido e branco distribuía aperitivos entre os fregueses, e à direita,
mais ao fundo, ficavam os toaletes. O lugar não era requintado, mas aparentava
bom gosto. Adam sentou-se de frente à moça e pegou o cardápio com distinção.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– E então! Vamos de yakisoba?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A moça sorriu de surpresa e concordou com a cabeça.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ok, mas achei que íamos comer comida chinesa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam abaixou o cardápio e justificou-se.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Então... É que eles servem comida japonesa aqui também, mas se você
preferir podemos pedir outra coisa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não! Por mim tudo bem. – disse a moça – Vamos de yakisoba!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam fez um sinal para o garçom mais próximo que se aproximou perguntando
o que eles iam querer. Em seguida anotou os pedidos e retornou com um refrigerante,
enquanto na cozinha o yakisoba era preparado. Regressou minutos depois com duas
tigelas de comida, pratos e os talheres, que depositou sobre a mesa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Bom apetite – disse o garçom fazendo uma reverência e retirando-se.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam não se fez de rogado e logo encheu o prato. Rebecca tentou
acompanhá-lo, mas o rapaz comia com vigor e logo terminou o primeiro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– O que você dizia mesmo sobre seu pai? – perguntou enquanto punha mais
comida no prato.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Que visitei um templo parecido com esse restaurante com ele uma vez, há
muito tempo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Que interessante, seu pai é viajante?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Era. – respondeu a moça encarando-o – Ele e minha mãe morreram quando
eu tinha apenas doze anos. Fui criada pelos meus avos depois disso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Sinto muito – respondeu Adam se arrependendo de ter perguntado – perdi
meu pai há pouco tempo também e sei que não é fácil.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Hoje já estou conformada – disse a jovem abaixando o olhar – mas na
época foi bem difícil. Meus avos também sofreram muito e sou muito grata a tudo
que fizeram por mim depois disso. Meu pai era um historiador talentoso, porém seus
estudos mexeram com coisas antigas e perigosas, tanto que suas pesquisas foram
arquivadas depois de sua morte e quase ninguém fala mais nisso hoje em dia.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Agora você me deixou curioso. – disse o Adam enchendo a boca de
macarrão – O que ele pesquisava?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– A localização do Éden – respondeu Rebecca erguendo a cabeça para fixar
o olhar em Adam – Ele procurava pelo Jardim lendário.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– O q-que! – Adam tentou dizer, mas engasgou e tossiu a comida sobre a
mesa – J-jardim do Éden, isso é l-loucura – respondeu tentando recompor-se.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Sei que você sabe sobre o jardim
Adam – disse a moça com um olhar frio – e sei que seu avô desaparecido também
buscava por ele. Também tenho conhecimento dos trabalhos dele com alquimia e do
envolvimento dele com o necromante Jonatas Black. Sei também que você é um
alquimista promissor e que sua mãe não compartilha do seu amor pela magia. Sei
muita coisa sobre você e sua família, foi por isso que me mudei para cá.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam estava pasmo. Nem em seus devaneios mais loucos poderia imaginar uma
situação como essa. Não sabia mais o que dizer então ficou mudo, apenas olhando
para a garota com cara de assombro. Rebecca se levantou, pegou a bolsa e jogou
o cabelo para trás em atitude provocativa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Enquanto você se recompõe vou ao toalete retocar a maquiagem ok?! Não
saia daí. – sorriu e saiu desfilando em direção aos fundos do restaurante enquanto
Adam tentava colocar os pensamentos em ordem. Não conseguira colocar nenhuma de
suas estratégias de conquista em prática e por fim ainda levou um balde de água
fria da moça ao saber que seu interesse por ele era apenas em virtude de alguma
maluquice do avô em suas andanças no passado. Do outro lado do salão Rebecca atraía
olhares e suspiros da plateia masculina enquanto passava pelas mesas, se
dirigindo ao banheiro feminino.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam ainda estava com cara de bobo, quando a moça voltou. Ficava olhando
para a comida e remexendo-a com o garfo como se tivesse perdido o apetite. Rebecca
se aproximou da mesa sorrindo e perguntou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Vamos pedir a conta? Podemos
continuar essa conversa outro dia se não se importar, hoje não estou muito bem
– E sentou-se novamente encarando o rapaz.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ah claro! – disse Adam com polidez fazendo um gesto para o garçom – Você
mudou mesmo para cá?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Sim! Como eu disse, precisava te encontrar, e como sabia o sobrenome do
seu avô foi fácil localizá-lo. Ontem aluguei um apartamento no centro e fiz a
transferência de universidade. Segunda-feira já começo. – respondeu com um
sorriso tímido.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Legal! Que curso você está fazendo? – perguntou Adam se esforçando para
manter uma conversa interessante enquanto o garçom que os atendeu trazia a
conta. Rebecca ignorou a pergunta e se ofereceu para dividir, mas Adam insistiu
em pagar sozinho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– História – disse a moça respondendo à pergunta – Não quer mesmo dividir
a conta?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não, tudo bem. A próxima você paga – respondeu tentando ser divertido.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ok! Vamos então. Sua mãe disse que o aguardava para fazer comprar e é
melhor não deixá-la esperando. – E pegou em seu braço ao se dirigiam à saída. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Cumprimentaram o atendente e saíram do restaurante. Rebecca ligou o som
assim que entraram o carro e arrancou cantando pneus, enquanto Adam procurava
uma maneira delicada de voltar ao assunto. Não havia engolido muito bem aquela
história e sentia-se em desvantagem com a jovem sabendo tanto sobre ele e sua
família e ele não sabendo nada sobre ela.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Qual é o seu sobrenome mesmo – arriscou tentando reiniciar a conversa
enquanto a moça iniciava o trajeto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Blue. Rebecca Blue – respondeu a jovem sem esboçar reação.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Hum! Não me lembro de nenhum alquimista com esse sobrenome. De onde
você veio mesmo? – perguntou meio sem graça.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Rebecca sorriu sem olhar para o lado e respondeu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não sou alquimista Adam, nem meus pais eram. Venho de uma família de
cabalistas<sup>5</sup> do Sul. Somos muito discretos então é normal você não
ter ouvido falar da gente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Que interessante! Por isso a aura azul que vi aquele dia. – disse
pensando alto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– O que? – perguntou a cabalista virando se para o rapaz.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ah! Nada. – respondeu disfarçando – Disse que era interessante. Não
conheço muitos cabalistas por aqui. Vocês trabalham com magia divina não é?
Deve ser bem difícil.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– É a mais desgastante das formas de magia – respondeu Rebecca – porque
trabalhamos direto com nossa energia vital no momento da troca. Não usamos
substitutos como vocês. Então nosso desgaste é bem maior.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam fez cara de surpresa e continuo questionando a moça sobre a forma
como o círculo azul recebia as oferendas e Rebecca parecia satisfeita em
explicar. Falou dos cabalistas do passado e de como o privilégio do céu era
respeitado nos círculos de magia e quando deram por si já estavam em frente à
casa de Adam. Sua mãe deu uma olhada pela janela da cozinha ao ouvir o barulho
do carro e sorriu e acenou para o casal. A moça estacionou e desligou o motor.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Chegamos! –
disse virando-se para o rapaz – Sua mãe já está te esperando.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Pois é,
acho que já vou indo então. Apesar de tudo foi muito bom almoçar com você
Rebecca. Espero que possamos repetir a dose outra hora.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– A hora que
você quiser Adam, basta me convidar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O rapaz
desceu do carro e se despediu com um aceno. A moça retribuiu e logo arrancou
novamente. Adam se dirigiu meio cabisbaixo para a porta de entrada onde sua mãe
o esperava sorridente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– E então,
como foi o encontro?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não foi um
encontro mamãe. Foi só um almoço, pra gente se conhecer melhor.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Sei!
Conheço essa carinha. Você está gostando da moça não está?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A mãe colocou
a mão na cintura e lançou um olhar sarcástico para o filho – Conta para sua
mamãe conta. – E passou as mãos em seu cabelo castanho, tirando-os de sobre os
olhos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Que isso
mãe, nada a ver. E se não se importa vou pro meu quarto, quero descansar um
pouco.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Tudo bem
então. Vou sair, mas não demoro. Se precisar de alguma coisa me ligue ok!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O rapaz consentiu
com a cabeça e subiu as escadas enquanto a mãe foi se arrumar e logo saiu. Decidiu,
então, aproveitar o tempo sozinho para colocar os pensamentos em ordem e desceu
para a sala onde ligou o rádio e se jogou no sofá relembrando os acontecimentos
das últimas horas. Fazia tempo que não tinha um dia tão cheio e a tarde ainda teria
que acompanhar a mãe na comemoração do aniversário, já que ela insistia que
aniversario tinha que ter celebração. O pensamento o fez desaminar e acabou por
virar para o canto e pegar no sono. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Sonhou que
estava no parque e Rebecca corria em sua direção para abraçá-lo, mas as árvores
a agarravam e erguiam-na do chão enquanto seus colegas tentavam matá-lo com
tacos de sinuca. Na mesma hora o sonho mudou para uma sala escura onde olhos
marrons e um sorriso lupino, se admiravam num espelho negro e luzidio que Adam
tinha certeza de já ter visto antes.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Acordou com uma súbita sensação de calor percorrendo
seu corpo e suor escorrendo de seu rosto, enquanto no quintal ao lado, o
cachorro da vizinha latia e gania assustado. Levantou rapidamente e correu para
a janela, bem a tempo de ver um vulto dourado e alado sobrevoar sua casa e
desaparecer, seguindo em direção à reserva. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Afastou-se da janela, assustado, e foi até a cozinha
tomar um copo de água.<i> Será que estou
ficando louco, ou tinha realmente um anjo vigiando minha casa, </i>pensou, fechando
as janelas e voltando para a sala a tempo de ouvir o cachorro da vizinha latir
novamente, mas era só sua mãe chegando das compras. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Abra a
porta para mim filhote. Estou com as mãos ocupadas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Foi até a porta, ainda ressabiado e abriu-a para a mãe, que sorriu e
pediu ao filho para ajudá-la com as sacolas e depois guardar o carro da família,
um velho Chevette prateado, que pertencera a seu pai. Quando voltou, a mãe já
havia preparado a mesa e buscado seu presente, um Tablet de última geração que ele
andava cobiçando há anos. Beijou-a agradecendo pelo presente e sentou-se junto
à mesa para cortar o bolo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Parabéns filho! Mamãe se orgulha muito de você viu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Eu sei mãe – respondeu e abaixou os olhos, constrangido. Era típico de
sua mãe tratá-lo como criança e talvez fosse pelo fato de ser filho único e ter
perdido o pai muito cedo, mas agora já era um homem e gostaria de ser tratado como
tal – Obrigado, mas...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Nossa! – Disse a mãe se levantando – Você não tinha uma reunião na
facul hoje à tarde? Vai se atrasar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam remexeu-se desconfortavelmente na cadeira. Fora pego de surpresa
pela lembrança da mãe e esquecera-se completamente da mentira que aplicara para
tentar encontrar Rebecca na praça e precisou pensar numa desculpa rápido.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Err... Não vai ter mais. Foi adiada. Ligaram-me enquanto eu almoçava
com Rebecca.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ah! Que bom – disse a mãe aliviada – Assim poderemos comemorar seu
aniversário com tranquilidade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam concordou com a cabeça, ainda meio sem graça por ter mentido para a
mãe e levantou-se para ajudá-la a servir o bolo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Comeram e beberam refrigerante, enquanto Adam contava os detalhes do
almoço e das perspectivas quanto a Rebecca. A mãe tentava ajuda-lo, lhe dando
conselhos amorosos e dicas para conquistar o coração da garota.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Terminou a refeição e foi para seu quarto, passando todo o restante da
tarde revendo seus artefatos e estudando os símbolos e já era noite quando
desceu para o jantar. Sua mãe estava arrumando a mesa e servindo seu prato.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Fiz frango assado com batatas para o jantar, sei que você adora.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam ia responder quando o telefone tocou na sala, sua mãe foi atender,
o chamando logo em seguida.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– É Rebecca ligando da Universidade – e suspirou – Ela parece preocupada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam correu a até a sala e pegou o telefone ansioso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Oi Rebecca, aconteceu alguma coisa?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– <i>Oi Adam, você precisa vir aqui
na universidade, uma coisa estranha está acontecendo, não posso falar por
telefone</i> – falava apressadamente como se algo a estivesse perseguindo <i>– venha o mais rápido que puder </i>– e
desligou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– O que foi? – perguntou a mãe ao ver a cara de espanto do filho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não sei. Rebecca disse que algo estava acontecendo na facul e que eu
devia ir lá – respondeu ponderado – Parecia assustada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Então não deve ir sozinho. Chame a polícia primeiro. Pode ser
perigoso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Se Rebecca quisesse a polícia ela mesma teria ligado ao invés de ligar
para mim – e pensou por um instante analisando a situação – Não! É melhor eu mesmo
ir ver o que está acontecendo, talvez seja só um mal entendido.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– E se não for? Você pode estar correndo perigo – disse a mãe aflita,
torcendo as mãos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Se fosse algo muito grave ela não teria ligado para um cara que acabou
de conhecer. Deve ser um problema relacionado à<i> facul</i>, talvez algo errado com sua matrícula. Eu disse à ela que
tinha certa influência com a direção e deve ser por isso que me ligou – no
fundo sabia que não era isso. Pelo pouco que a conhecia, sabia que Rebecca
nunca pediria sua ajuda para algo tão banal e lembrou-se do sonho do ataque
mágico perto da universidade, mas não podia dizer nada a mãe para não
preocupá-la.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Então vai
filhote. Vou deixar a comida no forno e quando voltar você esquenta. Caso ela
ainda não tenha jantado pode convidá-la também.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Boa ideia
mãe, melhor eu ir agora, quanto mais rápido for, mais rápido voltarei, e não
quero deixar o frango com batatas esperando muito – sorriu tentando parecer
tranquilo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A mãe
concordou e acompanhou o filho até a porta. Adam pensou em pedir o carro
emprestado, mas sabia que se a coisa complicasse, o mesmo poderia ficar
danificado e era o único meio de transporte que a mãe possuía para ir ao
trabalho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não quer ir
de carro? – a mãe ofereceu lendo seus pensamentos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não, mas obrigado.
A senhora sabe como gosto de caminhar. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A mãe não
teceu mais comentários, apenas acenou preocupada, desejando boa sorte ao filho.
O rapaz retribuiu o aceno e pegou a estrada. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A faculdade
não era longe, então não ia demorar muito mesmo indo a pé, porém o estranho
telefonema da garota ainda o preocupava. Não podia deixar de compará-lo ao
sonho que tivera a tarde e se tinha que enfrentar uma luta mágica, que fosse ao
lado de Rebecca. Não sabia muito sobre os cabalistas, mas imaginava que eram
poderosos. <i>Magia divina</i>, pensou. <i>Estou louco para vê-la em ação</i>.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Em poucos
minutos chegou ao campus. O lugar estava todo às escuras e aparentava estar
vazio. <i>Será que cheguei tarde demais,</i>
pensou preocupado. <i>Devia ter vindo mais
depressa</i>. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adentrou ao
local examinando tudo ao seu redor. Não havia vestígios de luta e o silêncio
reinava absoluto. Passou pela secretaria e chegava ao corredor que dava acesso
ao ginásio, quando viu um vulto passar por trás da caixa d’água e correr em
direção ao refeitório.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ei! –
Gritou e correu atrás do vulto ignorando os riscos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam era
rápido e logo começou a se aproximar, fazendo com que o vulto tentasse
despista-lo, correndo em direção ao pátio da universidade, mas não havia onde
se esconder e ele teve que continuar correndo, apesar de já estar perdendo o
fôlego.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Entraram no
pátio e Adam percebeu que o vulto era uma pessoa de aproximadamente 1,80 de
altura, usando um capuz e uma capa preta. O estranho, ao perceber que não podia
mais fugir, abriu a porta do refeitório e se escondeu e Adam teve que fazer uma
parada para examinar a situação. <i>Pode ser
uma armadilha, mas se não entrar nunca saberei e Rebecca pode estar lá com ele,</i>
pensou. A situação tornara-se dramática e desesperadora e era preciso muita
cautela para não cometer um deslize. Pensou em usar um rito para explodir ou
incendiar a porta, mas poderia ferir Rebecca, e não havia nem um inseto por
perto a quem pudesse pedir ajuda e mesmo que houvesse eles geralmente não o
obedeciam. Poderia ameaçar pisar neles caso se recusassem, mas não havia
garantias que depois de acertado o acordo eles cumpririam sua parte e uma vez
fora de seu alcance nunca mais voltariam para lhe informar o que estava
acontecendo e seria praticamente impossível descobrir o traidor depois, a
maioria eram todos iguais. <i>Não, preciso entrar,
não há outro jeito</i>. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Verificou a
porta e viu que não estava trancada. Seu coração estava a ponto de sair pela
boca, mas prosseguiu, girando a maçaneta e abrindo a porta. Dentro do
refeitório estava ainda mais escuro e parecia que até as janelas de vidro
estavam cobertas. Entrou ressabiado esperando que a qualquer momento o sujeito
do capuz ou algo pior pulasse sobre ele, mas nada aconteceu. De repente as
luzes se acenderam e um coro de vozes alegres gritou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– SURPRESA! <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam não
conseguia acreditar, era uma festa surpresa. Rebecca estava em frente à mesa de
coquetéis segurando duas taças de champanhe e olhando para ele sorrindo. Estava
ainda mais linda do que durante o almoço e usava um vestido azul, com um corte
profundo na perna deixando a mostra seu belo par de coxas. O cabelo estava
preso num coque atrás da cabeça e envolto por uma tiara também azul. Um batom
claro realçava seus lábios e sombra azul sobre os olhos combinavam com o
vestido. Atrás da mesa estavam seus amigos e conhecidos da facul e alguns
professores também estavam presentes assim como o diretor. Rebecca se aproximou
e estendeu a mão lhe oferecendo uma das taças.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Parabéns
Adam! Lhe desejo toda a felicidade do mundo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam corou e
esboçou um sorriso enquanto pegava a taça e tomava um gole. Rebecca o abraçou e
lhe deu um beijo no rosto lhe desejando sucesso, enquanto os demais aplaudiam e
davam gritinhos insinuando um romance. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O salão
estava todo enfeitado, com balões e faixas de parabéns. As mesas e cadeiras
haviam sido dispostas ao redor do salão, para liberar espaço, e apenas as que
estavam com o bolo e aperitivos restaram no fundo preenchendo um pouco o vazio.
Seus amigos começaram a se aproximar e a cumprimentá-lo, abraçando-o ou lhe
dando um aperto de mão e, por último, veio o cara com a capa e o capuz preto
que correra dele atraindo-o para a festa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Buuuuh! – exclamou
seu amigo Willian tirando o capuz e rindo da cara de Adam – Te assustei não
foi?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Claro. Assustar-me-ia
mesmo sem a capa e o capuz. Com essa cara de maníaco homicida.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O amigo riu e
deu um abraço em Adam lhe desejando parabéns, depois voltou para a mesa e
serviu uma bebida, retornando em seguida para o meio do salão e levantando a
taça ao exclamar:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Um brinde
ao nosso aniversariante. O aluno mais aplicado da faculdade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Todos levantaram
as taças e beberam, depois o rapaz repetiu o gesto agora fazendo um brinde à
Rebecca pela organização e todos beberam novamente. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Tenho a
impressão que só estão fazendo esses brindes para terem uma desculpa para
beberem – disse o diretor se aproximando e cumprimentando Adam.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– É verdade
senhor – respondeu o alquimista com um sorriso – mas acho que...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Não terminou
a resposta, pois um dos alunos ligou o som e música eletrônica inundou o
ambiente, provocando os alunos que gritaram de aprovação. Rebecca se desculpou
com o diretor e arrastou Adam pelo salão onde começaram a dançar. Logo outros alunos acompanharam o casal e até
alguns professores mais jovens se arriscaram, seguindo os passinhos dos acadêmicos.
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Dançaram por
um tempo, com Adam inventando uns passos e requebrando, mas logo ficou cansado
pela falta de costume e voltou para a mesa de coquetéis, com a amiga para comer
alguma coisa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Os amigos
olhavam-no com admiração e inveja por estar com Rebecca sempre ao seu lado e
até aqueles com os quais não tinha muita intimidade se aproximavam e lhe davam
tapinhas nas costas lhe desejando parabéns pelo aniversário, mas dando a
entender que lhes felicitavam pela garota que estava ao seu lado. Adam não se
importava e desfilava com Rebecca de um lado a outro do salão, cumprimentando
todos e distribuindo sorrisos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Ficaram na
festa até às três horas da madrugada, então se despediram e Adam agradeceu a
presença de todos com um pequeno discurso. Alguns insistiram para que
demorassem mais, mas Adam não quis. Estava cansado e Rebecca se dispôs a lhe
dar uma carona já que havia bebido mais que o costume e estava meio zonzo. A
moça, no entanto, parecia estar em perfeitas condições.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Então até
segunda pessoal. – disse se despedindo – E obrigado novamente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Os amigos
deram com a mão e logo voltaram a dançar e beber. O casal saiu pelo portão da
frente e contornou a universidade, seguindo em direção à praça. Rebecca que até
então caminhava ao seu lado pegou em seu braço e sorriu suspirando.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– E então, o
que achou da festa?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Achei
ótima. Vocês me enganaram direitinho. Achei que alguma coisa ruim tinha
acontecido pelo modo como você falou ao telefone.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– A ideia era
essa. – disse a jovem sorrindo – Se dissesse outra coisa estragaria a surpresa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Pois é. Até
minha mãe ficou preocupada. Por falar nisso ela vai me dar uma bronca por não
ter ligado e tranquilizado ela depois.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– É mesmo
coitada. Nem deve ter dormido direito. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam
concordou com a cabeça e seguiram conversando. Contornaram a praça que ficava
em frente ao campus e viraram a esquina entrando em uma rua escura que dava
para o distrito industrial. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Mudando da
água para vinho; onde vocês esconderam os carros? – perguntou Adam estranhando
o percurso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Deixamos
estacionados atrás daquela estação ferroviária para que você não os visse – respondeu
Rebecca apontando com o dedo – Seu amigo Willian que indicou o lugar. Disse que
quando quer namorar escondido sempre deixa o carro lá.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– O Willian me paga. Quase tive um ataque
cardíaco correndo atrás dele com aquela capa preta e o capuz. Parecia uma
versão escura do uniforme da Ku Klux Kan.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Rebecca riu e
seguiram em direção ao carro que estava estacionado ao lado de um velho vagão. Ela
desligou o alarme e entraram, tomando suas posições. Adam como sempre foi de
carona e a moça arrancou tomando a direção da casa dele. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Queria te
contar uma coisa. – disse Adam de supetão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Diga. –
respondeu Rebecca virando brevemente o rosto para encará-lo. Adam abaixou o
olhar como se estivesse em dúvida se devia ou não falar sobre o acontecido.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Fale logo
homem. Quer me matar de curiosidade? – insistiu Rebecca brincando.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam
ruborizou, mas decidiu contar já que havia começado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não sei se
você vai acreditar em mim, mas... – levantou o rosto e olhou para a moça com
firmeza antes de continuar – acho que vi anjos rodeando a minha casa hoje. Sei
que parece loucura, mas...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não. –
respondeu Rebecca voltando a olhar para a estrada – Não é loucura. O movimento
já começou Adam, então é normal que essas coisas aconteçam. Espero que... –
parou antes de completar a frase para ultrapassar um fusca que segurava o trânsito
na avenida. – Bem vamos conversar sobre isso outra hora. Pode ser? Se não me
concentrar na estrada vou acabar cometendo uma barbeiragem.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam
consentiu com a cabeça enquanto olhava de relance para Rebecca. A moça parecia
mais quieta que o normal e ele achou que talvez a bebida estivesse finalmente fazendo
efeito. Às vezes franzia a testa como se estivesse sentindo dor e parecia
incomodada com alguma coisa. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Permaneceram
em silêncio o resto do caminho e em poucos minutos chegaram à casa Adam, que não
se aguentou mais de curiosidade e perguntou:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Está tudo bem Rebecca? Você parece meio doente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Desceu do carro e fechou a porta atrás de si enquanto
a moça ponderava a resposta.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Tudo bem – disse por fim enquanto abaixava os vidros
do Corolla e o encarava – só estou menstruada, sabe como é.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ah! Normal. Minha mãe também fica incomodada quando
está nesses dias. Tome um analgésico e durma um pouco. Vai melhorar!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Pois é – disse a jovem de dentro do carro – Vou
fazer isso. – e forçou um sorriso – Até mais Adam, foi muito divertido passar o
dia com você. – e ligou o carro sem esperar resposta e desapareceu pela longa
avenida escura, enquanto Adam entrava em casa e subia para seu quarto, lembrando
que o frango com batatas de sua mãe teria que esperar até o almoço do dia
seguinte. <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Enquanto isso, do outro lado da cidade, num casebre em
ruínas, uma idosa pegou o celular e tentou desesperadamente ligar para o neto,
mas o aparelho apenas emitiu um ruído estranho antes de ser despedaçado por um
forte punho dourado que a arremessou contra parede. A velha levantou os olhos e
amaldiçoou os céus, até ser calada por uma espada reluzente que lhe atravessou
o peito. <o:p></o:p></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-hyphenate: auto; text-align: center;">
***<o:p></o:p></div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
Feitosahttp://www.blogger.com/profile/01786865127916010920noreply@blogger.com1R. Clóvis Bevilaqua, 532-658 - São Bento, Campo Grande - MS, 79004-630, Brasil-20.477195090661407 -54.60205078125-20.596198090661407 -54.75997928125 -20.358192090661408 -54.44412228125tag:blogger.com,1999:blog-9204546804128450555.post-74392927699399989372011-08-22T06:59:00.000-07:002014-11-27T12:52:41.973-08:00CAPÍTULO IV<h1 align="center" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
</h1>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIkszVMkFBZIRfpgtTPnknSoeHaCWdIOdTPYkkilZuKh463SioiUbegXqeAdJ41SUx-f2PaCz8-rn9PMpRLFbZoU1XbrOCBLWZQNud5CB9DhRwBqRM7wOha7rKGSVLqeTrmrarbPtktA9w/s1600/ex_passeio_110_passeio20a20cavalo20rio20da20prata.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIkszVMkFBZIRfpgtTPnknSoeHaCWdIOdTPYkkilZuKh463SioiUbegXqeAdJ41SUx-f2PaCz8-rn9PMpRLFbZoU1XbrOCBLWZQNud5CB9DhRwBqRM7wOha7rKGSVLqeTrmrarbPtktA9w/s320/ex_passeio_110_passeio20a20cavalo20rio20da20prata.jpg" height="231" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<h1 align="center" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="X-NONE" style="text-transform: uppercase;">A Proposta<o:p></o:p></span></h1>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 54.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Wesley abriu os olhos sonolentos. Estava deitado em uma grande cama de
madeira de cedro e coberto por um longo cobertor de pelo de carneiro. O quarto onde
repousava era grande e confortável, com duas grandes venezianas de mogno para
refrescar e iluminar o ambiente. A mobília, da mesma madeira, parecia constar
do século passado, assim como os detalhes nas portas e janelas e o teto, feito
de forro de pino pintado de branco, combinava com as paredes de madeira
pintadas da mesma cor. Ao lado da cama ficava um grande armário de roupas e ao
lado deste, a porta que dava para o banheiro. Do outro lado da porta ficava uma
penteadeira e um criado mudo adornado com um jarro de flor e aos pés da cama, sentado
numa cadeira estofada, seu primo Thomas o encarava com um olhar carrancudo e
preocupado.</div>
<a name='more'></a><o:p></o:p><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Até que enfim acordou! Achei que tinha entrado em coma. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Onde estou? – foi à resposta de Wesley sentando na cama e olhando ao
redor, estranhando o ambiente. Um vento gelado entrou pelas venezianas e
arrepiou os pelos do ranger que estava com o peito nu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Na casa da garota da estrada – disse Thomas sem emoção – Estamos a quase
dois dias esperando que acorde. Já pensava em te abandonar aqui e seguir
sozinho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Caramba! Dormi tanto assim? Acho que foi a combinação do cansaço da
viagem, mas o esforço do rito do tempo. Estou com uma fome terrível. Será que
podemos comer alguma coisa?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Antes que Thomas pudesse responder a porta do quarto se abriu e Mariah
entrou sem se anunciar. Estava usando um minúsculo vestido prateado e os
cabelos estavam amarrados num rabo de cavalo. Thomas tentou disfarçar a
comoção, mas Wesley encarou as pernas nuas e bem torneadas da garota,
devorando-a com o olhar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Que bom que acordou Wesley, eu e seu primo estávamos ficando preocupados.
Você dormiu por quase dois dias – Mariah sorriu e fechou a porta atrás de si,
sentando-se na beira da cama e cruzando as pernas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Eu não estava preocupado. Estava irritado pela perda de tempo
desnecessária – Thomas justificou-se olhando para o primo – E agora que acordou,
levante e se vista que temos trabalho a fazer e quanto antes sairmos desse
lugar melhor.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Como assim trabalho? Temos que trabalhar para pagar pela hospedagem?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Vamos deixar essa conversar para mais tarde, por hora vamos comer
alguma coisa. Você deve estar com fome depois de todo esse tempo desacordado –
disse a moça adivinhando seus pensamentos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– É verdade. Estou tão faminto que poderia comer um boi inteiro. Não comi
nada desde a sopa de sapos do Thomas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Mariah riu e o necromante lançou lhe um olhar azedo, mas logo se dirigiu
a saída deixando os dois sozinhos no quarto. Wesley aproveitou para pegar as
mãos da donzela e acariciá-las docemente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Sabe que estava sonhando com você esse tempo que fiquei adormecido.
Sonhava que estávamos sozinhos num grande jardim a colher flores e lhe ofereci
um buquê de rosas vermelhas enquanto lhe pedia em compromisso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Mariah corou e recolheu as mãos, juntando-as entre as pernas. Wesley não
se deu por vencido e acariciou seus longos cabelos prateados.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Sabe Mariah, já vivi muitas aventuras em minha vida, mas nunca
encontrei uma garota como você. Sinto que...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Thomas abriu a porta de supetão e encarou os dois com uma expressão fria
no olhar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Vocês vêm ou não para a cozinha?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Mariah levantou seguida por Wesley que estava apenas de cueca. O rapaz
vestiu um calção que estava dobrado em cima do criado-mudo e seguiu os demais
em direção à cozinha. A casa era grande, com longos corredores e muitas portas,
indicando vários aposentos e Wesley se perguntou se não perderia, caso tivesse
que caminhar sozinho por aquele casarão. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Atravessaram um salão com poltronas revestidas de couro e várias estantes
com livros e entraram em mais um corredor que dava para a cozinha. Mariah
entrou primeiro, seguida por Thomas e Wesley, que seguia apenas de calção. A
cozinha tinha um ar rústico e campal, com um grande fogão de lenha ao lado da
porta de saída e uma mesa redonda de cedro no centro cercada por várias
cadeiras e bancos de madeira feitos artesanalmente. Apesar de ainda ser cedo, diversas
panelas de barro ardiam no fogo e cheiro de comida caseira impregnou o ambiente
quando o grupo fechou a porta e se instalou no lugar. Wesley não se fez de
rogado, pegou um prato de porcelana de sobre a mesa e foi de panela em panela
escolhendo com uma colher de metal, aquilo que lhe interessava na grande
variedade gastronômica. Thomas abria a boca para protestar dos modos do primo
quando a bela madrasta de Mariah abriu a porta e adentrou no recinto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Bom dia rapazes. Vejo que acordaram com fome hoje.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Wesley quase derrubou o talher dentro da panela de feijão ao ser
surpreendido pela mulher, mas se recompôs e cumprimentou a senhora do recinto
com um sorriso amarelo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Bom dia senhora. Desculpe estar invadindo sua cozinha.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Tudo bem Wesley. Pode ficar à vontade. A casa é sua – e sorriu para ele
– e não precisa me chamar de senhora, afinal não sou tão velha assim. Pode me
chamar de Dalila.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Wesley estava extasiado, a madrasta de Mariah era quase tão bonita quanto
ela; morena de longos cabelos negros, olhos brilhantes e muito alta, quase da
altura de Thomas. Caminhava com desenvoltura, usando um longo vestido negro, de
babado e renda e sandálias de salto alto. Seu rosto fino combinava com seu
corpo esquio, e sua pele pálida e lisa, sem rugas, pareciam não pertencer a uma
senhora de quase 40 anos. Entretanto, apesar de toda beleza exterior, Wesley
sentiu algo maligno emanando dela, como se uma aura negra rodeasse e dominasse
o ambiente em sua presença. Mesmo assim ele sorriu e concordou. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Tudo bem então. Muito obrigado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não há de quê querido. Bem vou deixá-los à vontade. No jantar
conversamos novamente. – fez menção de sair, mas retornou e virou-se para a
afilhada – Mariah por que você não aproveita o belo sol que está lá fora e
mostra a propriedade para nossos convidados? Aposto que eles gostariam de um
pouco do ar puro do campo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Como quiser madrasta. – Mariah respondeu abaixando os olhos e se
encolhendo. A mulher sorriu mais uma vez e saiu, fechando a porta atrás de si.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Um clima tenso tomou conta do lugar e todos ficaram sem saber o que dizer.
Wesley tentava entender a relação entre Mariah e sua madrasta enquanto a moça
olhava para os pés como se tivesse vergonha de encarar os amigos. A situação
durou menos de um minuto, mas congelou a atmosfera e constrangeu os presentes.
Wesley se moveu na expectativa de abraçar Mariah, mas Thomas quebrou o silêncio,
movendo em direção as panelas e proferindo a sentença.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Bem, vamos comer enquanto está quente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Todos se serviram em silêncio. Thomas comeu apenas arroz e molho de carne
com salada, enquanto Wesley e Mariah comeram com vontade. O almoço foi rápido e
Thomas foi o primeiro a se levantar, seguido de Wesley e Mariah. A moça
convidou os demais para o passei no campo como havia sugerido sua madrasta, mas
Wesley precisou atender ao chamado da natureza e correu para o banheiro mais
próximo sugerindo que os demais fossem na frente. Thomas foi o primeiro a sair
apressadamente do lugar, seguido por Mariah que tentava acompanhá-lo da melhor
maneira possível. A moça tentou ser simpática e puxar assunto, mas o necromante
se limitava a respostas monossílabas e vazias. Estava estressado com a demora na
resolução do caso e a visão da madrasta de Mariah serviu apenas para piorar a
situação. Desde que chegara a propriedade não conseguia ignorar a presença
perniciosa da mulher e sua intuição vivia a lhe alertar sobre possíveis
problemas no trato com a senhora. Mariah, por sua vez, se mostrara avarenta a
respeito de informações sobre a demanda, sempre alegando que deviam esperar
Wesley acordar para discutir a situação.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Caminharam em ritmo acelerado em direção aos estábulos. Mariah
cumprimentou um ou outro empregado enquanto seguia o necromante que prosseguia na
frente e parecia disposto a completar rapidamente a caminhada. A distância não era
muito longa e logo chegaram à entrada do recinto. O Estábulo era um grande
cercado de madeira circundado por cocheiras e piquetes, e ao fundo, um grande e
abarrotado armazém completava a paisagem. Cavalos e peões se misturavam em meio
a montes de feno e alfafa e um cheiro forte de esterco fez o necromante torcer
o nariz assim que adentrou o local.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Um funcionário encarregado do lugar fez um aceno para a moça indicando os
animais reservados ao passeio e guiou-os para os fundos do recinto para buscar
as selas e arreios necessários para a cavalgada. Thomas e Mariah escolhiam e preparavam suas
montarias quando Wesley entrou correndo no local, ainda arrumando as calças e
com o rosto vermelho de exaustão. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ufa! Ainda bem que cheguei a tempo. Não queria montar sozinho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Thomas lançou para Mariah um olhar indagativo, estranhando a velocidade
com que o primo resolvera seu pequeno problema, mas Mariah preferiu não
comentar e convidou Wesley a montar o Quarto de Milha que atrelara para si.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Monte esse aqui então. Ele é dócil e inteligente, vai gostar de você.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
E ajudou Wesley a montar. O animal se mexeu levemente ao sentir o peso sobre
suas ancas, mas aquietou-se assim que Mariah lhe alisou o pescoço.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Bom garoto! – disse para o animal e se virou para Thomas – Bem vamos
então enquanto o sol não está muito quente, depois do meio-dia vai ficar
complicado cavalgar – montou no animal selado que o encarregado lhe trouxe e tomou
a dianteira da trupe desaparecendo a galope. Os demais a seguiram com alguma
dificuldade apesar do necromante cavalgar com elegância.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Mariah seguia na frente montada em sua égua baia e indicando o caminho. O
necromante havia escolhido um corcel negro e lustroso e seguia logo atrás
enquanto Wesley que ficara com o quarto de milha seguia por último tentando se
equilibrar na sela. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Atravessaram uma ponte e o barulho da água fez Wesley se lembrar do banho
no riacho quando ainda estavam na estrada, e de Mariah entrando na água de
lingerie branca. <i>Que calcinha ela deve
estar usando hoje?, p</i>ensou o ranger fitando a correnteza logo abaixo. Ao
levantar o olhar percebeu que Mariah lançava lhe um olhar atrevido como se
adivinhasse seus pensamentos e por um momento Wesley pensou em perguntar, mas
logo caiu em si, considerando a estranheza da situação e seguiu em frente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Pararam embaixo de uma mangueira e a moça arriou do cavalo e convidou os
amigos a acompanhá-la. Os rapazes desmontaram e soltaram os animais no campo
para pastarem enquanto Mariah estendia uma colcha xadrez e preparava o
piquenique.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Vamos comer aqui? – perguntou Wesley se jogando no chão e tirando a
mochila.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Vamos! – Respondeu Mariah – Estamos bem longe da sede e acho que poderemos
conversar com alguma tranquilidade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Thomas que até aquele momento só observava, aninhou-se perto do tronco da
mangueira e estirou as pernas, esticando os músculos e encarando Mariah,
ansioso por seu discurso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Bem, vamos começar então – disse a moça se ajeitando no assento
improvisado – A questão é a seguinte: acredito que meu pai foi enfeitiçado por
minha madrasta e que, desde então, vem seguindo ordens dela em todos os
assuntos da fazenda. Acredito que ela planeja matá-lo e tomar posse de tudo que
é nosso assim que surgir a oportunidade e infelizmente não tenho condições de libertá-lo.
Queria que vocês me ajudassem. – E abaixou o olhar como que deprimida. – A
única coisa que posso fazer para agradecer é pagá-los pelo serviço. Tenho uns dois
mil reais guardados embaixo da minha cama e me disporia deles com prazer se
aceitassem minha proposta.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– É claro que aceitamos. – disse Wesley comovido – Vamos ajudá-la com
certeza. Eu não gostei de sua madrasta desde o momento que a vi. Sempre me
pareceu que ela escondia alguma coisa – E fechou o punho esmurrando o tronco da
mangueira. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Acho que devemos conhecer toda a história antes – disse Thomas
precavido – Precisamos que nos dê toda a informação que dispor sobre sua
madrasta, para não tenhamos surpresas no momento em que a confrontarmos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Tudo bem! – disse Mariah descendo a cesta de alimentos e servindo os
colegas – Vou contar minha história enquanto comemos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Nasci e cresci nessa propriedade,
em meio aos peões e colonos. Mamãe, quando estava boa, costumava me levar para
o bosque e me mostrar às maravilhas da natureza. Caçávamos besouros e
procurávamos rainhas em formigueiros, enquanto meu pai comandava os colonos e
distribuía serviços aos encarregados. Tínhamos uma vida feliz, apesar da saúde
frágil de mamãe que a obrigava a passar boa parte do tempo hospitalizada. Essa
fase durou até uns dois anos atrás, quando um circo chegou à cidade. Meu pai possui
um terreno perto da praça e, a pedido do prefeito, acabou por cedê-lo para as
instalações do espetáculo</i>. <i>Em troca de
sua generosidade, ganhamos ingressos para assistir ao show e tivemos licença
para conhecer os artistas no camarim. Eu estava animadíssima. Adorava ao circo
e sempre que um passava pela cidade insistia com meus pais para assistir as
apresentações.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Na data marcada fomos ao espetáculo
e conferimos a qualidade dos artistas. O circo era fantástico. Malabaristas,
dançarinos, globo da morte, trapezistas e palhaços, mas um fato em particular
me chamou a atenção; ao invés de um mágico como é de costume, o circo possuía
uma maga, uma bela maga vestida de negro. Ela fez alguns truques e mágicas
simples e depois convidou alguém da plateia para participar do próximo número. Meu
pai foi o escolhido. Ela o deitou numa prancha e depois de citar uma canção, o
palco escureceu e ele começou a levitar, como que suspenso por cordas
invisíveis. Todos aplaudiram e a mulher agradeceu fazendo uma reverência. Porém
quando meu pai retornou, percebi que algo de estranho havia acontecido com ele.
Seu olhar estava meio perdido, como que hipnotizado, minha mãe também percebeu
e perguntou se estava tudo bem, mas como ele confirmou e logo voltou ao normal,
deixamos de pensar nisso.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Após o espetáculo fomos convidados
pelo dono do circo para conhecermos os artistas nos camarins e novamente, ao
ver a maga negra, meu pai ficou estranho, como que hipnotizado. A mulher, no entanto, tratou cordialmente a todos
e ao ver minha mãe, sorriu de uma forma misteriosa. Mamãe retribuiu o sorriso e
por um momento, ficou um clima de tensão no ar, mas logo ela desviou o olhar e
foi cumprimentar os outros membros da equipe. Papai, no entanto, continuava a
conversar com a mulher, o que me deixou intrigada e, após alguns minutos,
anunciou que convidara a maga negra e todos os demais integrantes do circo a
passar um final de semana na fazenda. Aquilo me surpreendeu, mas pareceu
surpreender ainda mais minha mãe. A maga negra sorriu levantando os sobrolhos
como que surpresa enquanto os outros membros aplaudiam e agradeciam papai pelo
convite.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Foram dias divertidos junto aos
artistas. Dancei, cantei, saltei e brinquei com os palhaços. Papai fez festa
todos os dias e banquetes todas as noites, os artistas cantavam, faziam
malabarismos e piruetas, e contavam histórias junto à fogueira. Na
segunda-feira agradeceram meu pai pela hospitalidade e arrumaram as coisas para
partir. A maga, no entanto, anunciou que ficaria conosco mais um tempo, para
auxiliar mamãe no tratamento. Aquilo me surpreendeu. Não sabia que a mulher possuía
dons de cura e por um momento fiquei feliz, pois achava que sob os cuidados de
uma maga, mamãe logo ficaria boa. Os outros artistas estranharam a decisão, mas
ela explicou que papai lhe pagaria um bom salário e que mamãe precisava de seus
cuidados e ela não lhos poderia negar.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Nas primeiras semanas sob os
cuidados da mulher mamãe pareceu melhorar, mas nos últimos meses arruinou
rapidamente, vindo a falecer em seguida. Aquilo foi um golpe para mim. Adorava
minha mãe e não conseguia imaginar o mundo sem ela. O pior foi que papai
pareceu não se importar muito, apenas esperou passar o luto e anunciou o
noivado com a bruxa, insistindo que era preciso eleger outra senhora para
cuidar da casa. Em poucas semanas estavam casados e minha vida transformada em
um inferno.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Quando terminou o relato seus olhos estavam embriagados e avermelhados,
suas mãos tremiam e fazia um esforço terrível para não chorar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Vocês precisam me ajudar. Tenho certeza que foi aquela bruxa que
assassinou minha mãe. Ela sempre teve uma saúde frágil, mas ainda viveria
muitos anos se essa mulher não tivesse entrado em nossas vidas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Wesley estava emocionado. Abraçou Mariah e lhe afagou os cabelos carinhosamente.
A moça não segurou mais a emoção e caiu em prantos, abraçada com o ranger.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Deixe estar querida. Vamos fazer com que ela se arrependa de ter lhe feito
passar por tudo que passou, devolveremos em dobro seu sofrimento. Juro-lhe.
Deixe estar – frisou no final.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Thomas que acompanhara tudo sem demonstrar emoção, levantou-se e começou
a recolher as coisas e arriar os cavalos para partirem. Wesley libertou Mariah
e encarou o primo aguardando a sentença.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Uma necromante – disse Thomas enquanto montava – e da pior espécie. São
bruxas como ela que difamam e envergonham nossa classe. Vamos continuar que
logo vai anoitecer. Amanhã cuidaremos da madrasta.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O restante do passeio durou até o crepúsculo e percorreram quase toda a
propriedade, visitaram as plantações de milho e soja, passaram pelos currais e
granjas de corte, pelos bosques e pelo vilarejo dos colonos que acenavam e
sorriam para a filha do patrão. Voltaram com o a lua a despontar no céu. Mariah
os acompanhou aos seus aposentos e se retirou para ajudar no jantar e preparar
a mesa. Thomas aproveitou o tempo sozinho para arrumar sua mochila e tomar
banho, enquanto em seu quarto Wesley tirava um cochilo para descansar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Algumas horas depois Mariah veio chamá-los para o jantar. A moça estava
usando um vestido branco e tinha os cabelos amarrados com uma fita prateada.
Levou-os pelos corredores até a grande sala de jantar, onde a madrasta e o pai
da moça já estavam sentados. Ele cumprimentou os rapazes e lhes indicou seus
lugares à mesa, depois olhou para a esposa que confirmou com um sorriso. Era de
meia idade, aparentando mais de quarenta anos, e apesar do sorriso no rosto,
demonstrava certa insegurança ao tomar decisões. Thomas ficou a frente de
Mariah e Wesley ao lado dela, que por sua vez, ficou ao lado da madrasta que
ficara ao lado do marido. As demais cadeiras ficaram vazias. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O jantar foi servido pelos empregados que se esforçavam para servir e agradar
a todos. Uns vinham e voltavam trazendo enormes bandejas de carnes e massas
enquanto outros se encarregavam de manter as taças sempre cheias. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Comeram e beberam tranquilamente enquanto o Sr. Abraão, pai de Mariah,
tentava manter uma conversa agradável lhes perguntando sobre suas famílias e
formação escolar, sempre orgulhoso ao citar que a filha estava indo muito bem
na faculdade e logo seria uma cirurgiã de sucesso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Wesley sorriu surpreso. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Não sabia que Mariah fazia medicina e quis se aprofundar no assunto, mas
a moça logo mudou de assunto, comentando sobre a situação dos colonos que
moravam na propriedade. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O restante do jantar transcorreu sem contratempos. Thomas falara pouco e
fora o primeiro a pedir licença para se retirar, levantando-se da mesa. Wesley,
que terminava o segundo prato, estranhou os modos do primo, mas decidiu acompanha-lo
e ir se deitar também. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Tranque a porta – disse Thomas para o primo se despedindo no fim do
corredor – e durma com um olho aberto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Wesley assentiu com a cabeça e entrou em seu quarto, trancando a porta em
seguida. O Necromante seguiu mais a frente e se trancou também, com a mente
voltada para os acontecimentos que veriam a seguir.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Amanhã será o grande dia</i>,
pensou, e se deitou, adormecendo em seguida.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<b>***<o:p></o:p></b></div>
</div>
</div>
</div>
</div>
Feitosahttp://www.blogger.com/profile/01786865127916010920noreply@blogger.com0BR-262 - Miranda - MS, Brasil-20.246736652244191 -56.360635757446289-20.254185652244193 -56.370506257446287 -20.23928765224419 -56.350765257446291tag:blogger.com,1999:blog-9204546804128450555.post-67333400220642869522011-08-21T07:44:00.000-07:002014-11-27T12:53:28.332-08:00CAPÍTULO V<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_UPZ23yjCn8jWTNSWdjuQVPsnJwEGUEI2224jY8QDYfL2-IrHKLwF6Nq1ItRv_8gLs3wlfvuZZnfQB1pfF8IRIp6sr247iBXnL9taAEehik_fBl7fN2i1uBWjS3gBRFzsVQv_3YymoOKC/s1600/enterro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_UPZ23yjCn8jWTNSWdjuQVPsnJwEGUEI2224jY8QDYfL2-IrHKLwF6Nq1ItRv_8gLs3wlfvuZZnfQB1pfF8IRIp6sr247iBXnL9taAEehik_fBl7fN2i1uBWjS3gBRFzsVQv_3YymoOKC/s320/enterro.jpg" height="260" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<h1 align="center" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: center;">
<span lang="X-NONE" style="text-transform: uppercase;">A DECISÃO<o:p></o:p></span></h1>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam desceu as escadas preocupado. Havia marcado um passeio com Rebecca
no parque, mas estava novamente sem dinheiro. Apesar de sua mãe receber pensão
pela morte do marido e ter voltado a trabalhar, os gastos com a faculdade e com
os livros sempre minavam suas economias. Desde que terminara o primeiro ano
pensara em tentar um estágio em alguma veterinária ou fazenda da região, mas a
mãe insistia que ele devia se concentrar nos estudos, que o resto ela daria
conta.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Examinou novamente a carteira. Estava com míseros sete reais, amarrotados
em meio a rascunhos, anotações e conta por pagar e ainda precisaria abastecer o
carro que emprestara da mãe para levar Rebecca ao parque. A moça tinha
oferecido seu Corolla para a ocasião, mas Adam recusara. Não queria ficar
dependendo da garota para tudo e queria mostrar que era autossuficiente. Como
último recurso, só restava pedir um empréstimo à mãe. Tentava evitar isso a
todo custo já que vivia a lhe pedir trocados para se reunir com os colegas nos
bares em frente à <i>facul,</i> e a mãe,
apesar de não lhe negar, insistia que o filho deveria controlar os gastos.</div>
<a name='more'></a><o:p></o:p><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Bom dia! Como está a mãe mais linda do mundo?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– O que você quer? – respondeu a mãe sem demonstrar emoção e adivinhando
as intenções do filho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Me ofende desse jeito mãe. Até parece que só a elogio quando quero
dinheiro emprestado. – brincou Adam tentando parecer magoado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ah! Dinheiro de novo. De quanto você precisa?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Apenas uns cinquenta reais para levar Rebecca ao parque. Prometo que
pago tudo depois.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Dona Rute abriu a bolsa com cara de que duvidava que ele fosse cumprir a
promessa e tirou uma nota para o filho. Adam agradeceu com um abraço, mas
percebeu que havia algo de errado com a mãe, normalmente ela faria uma série de
recomendações e avisos antes de entregar o dinheiro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Está tudo bem? A senhora parece meio perdida hoje.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Só estou cansada. Tive uma semana cheia no serviço. – e virou-se para
sair – Divirta-se com Rebecca.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam preferiu não insistir. Despediu-se da mãe com um aceno, pegou o
carro e saiu. No caminho parou em um supermercado e comprou uma caixa de
bombons e biscoitos de chocolate. Queria ter algo para comer caso ficasse sem
assunto e a garota tinha cara de quem adorava doces.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Pagou a conta e voltou para o carro, colocou um CD de música brega dos
anos 80 e partiu, chegando logo em seguida. A rua estava movimentada ao redor
do apartamento de Rebecca e Adam teve um pouco de dificuldade em encontrar um
lugar para estacionar, mas felizmente um casal saiu apressado do condomínio e
arrancou em um Mercedes blindado e ele rapidamente ocupou a vaga.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O porteiro já havia sido avisado então Adam entrou sem contratempos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O condomínio era grande, com vários setores e áreas de lazer. Um
playground para crianças e uma grande piscina nos fundos fechavam o complexo
que parecia ser de alto padrão. <i>Deve ser
caríssimo,</i> pensou enquanto pegava o elevador para o décimo andar e olhava o
endereço rascunhado por Rebecca num pedaço de papel:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– <i>Condomínio Águas Claras – Apartamento
96, 10º andar</i> – leu em voz alta observando a forma como o bilhete fora
escrito.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A letra da moça era bem desenhada, quase como uma pintura, com as
iniciais sempre se destacando em relação ao restante das letras. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Saiu do elevador e procurou pelo apartamento. O corredor era longo e todo
decorado com quadros e vasos de plantas distribuídos no intervalo entre uma
porta e outra. Quando finalmente encontrou o número de Rebecca parou por um
instante imaginando a melhor maneira de cumprimentá-la. Apesar de ter
conquistado certa intimidade com a garota Adam por vezes se sentia inseguro
quanto à forma de tratá-la. Se deveria ser direto e ousado e falar-lhe de seus
sentimentos ou deixar a coisa rolar e ver se a moça se tocava. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Tocou a campainha e esperou, decidido a deixar as coisas por conta do
destino. Rebecca abriu a porta logo em seguida e o saudou com um sorriso.
Estava enrolada numa grande toalha felpuda e pingando água dos longos cabelos
pretos. Adam não resistiu a um rápido olhar por todo o corpo da garota e
retesou-se quando a jovem se aproximou para beija-lo no rosto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Oi Adam. – disse Rebecca ainda sorrindo e o convidando para entrar – Chegou
mais cedo do que eu esperava. Entre e sente-se. Eu vou me vestir e já volto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ok. Não se apresse. – respondeu Adam sentando no sofá e admirando o apê.
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O espaço era amplo e rigorosamente limpo e arrumado. Ao lado do sofá
ficava uma mesa de canto adornada com um jarro de flores e um aparelho de
telefone sem fio e, no centro da sala, um carpete persa dava um ar requintado
ao ambiente. Rebecca abria e fechava gavetas no quarto fazendo uma verdadeira
algazarra enquanto escolhia a roupa e se vestia para o passeio.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Se quiser beber alguma coisa fique a vontade, eu não demoro. – disse
Rebecca do quarto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Obrigado. – respondeu Adam – Mas estou dirigindo e...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Não terminou a frase, pois Rebecca surgiu em sua frente com um curtíssimo
short jeans azul celeste, tênis branco com detalhes azuis e uma tiara de
lacinho segurando os cabelos lisos. <i>Parece
uma boneca</i>, pensou Adam. A moça pegou a bolsa de sobre a mesinha e Adam
pode sentir o doce perfume que encheu o ambiente; uma mistura de flor silvestre
e chocolate que o rapaz não conseguiu identificar. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Vamos? – disse a garota jogando os cabelos para trás.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Vamos!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam abriu a porta e saíram. Rebecca contava as últimas fofocas da
vizinhança e explicava em detalhes como era a vida em condomínio enquanto o
rapaz ria e balançava a cabeça e num gesto de falsa reprovação.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Sempre preferi morar em casa. –
disse o alquimista – Não gosto desse tumulto do centro e dos condomínios. Se
não fosse minha mãe e a faculdade iria morar com minha avó no campo, lá tudo é
mais calmo e tranquilo, bom para por as ideias em ordem. – Coçou a cabeça e
sorriu timidamente enquanto se aproximavam do carro. Um bando de garotos passou
correndo com pistolas de água mirando e tentando atingir uma menina que corria
logo à frente enquanto um jardineiro atarefado praguejava contra a bagunça. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Entraram no carro e partiram. Rebecca pediu para ouvir um som, mas
desistiu assim que Adam verificou as opções musicais de que dispunha. Sua mãe
costumava ouvir músicas antiquadas e fora de época entulhando o porta-luvas do
carro com CDs desse gênero e nenhum pareceu interessar a garota.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Passaram em frente a um supermercado e Rebecca parou para comprar
aperitivos e refrigerantes. Adam quis pagar a conta, mas a moça não quis,
alegando que ele já pagara o almoço no outro dia. Saíram do supermercado e
dobraram a esquina. Um carro em alta velocidade virou atrás deles e quase
fechou o casal, o que lhe valeu um xingamento de Adam e um gesto obsceno de
Rebecca. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Percorreram mais cinco quarteirões e chegaram. O parque era grande e bem
arborizado, com campos de futebol e quadras de vôlei de areia espalhadas em
meio a playgrounds para as crianças e pistas de caminhada que atravessavam o
bosque. Bancos de madeira estavam dispostos em volta de um lago de águas claras
e, embaixo das arvores mais frondosas, pombos subiam e desciam a espera de uma
migalha. O lugar estava bem movimentado naquele dia. Pessoas caminhavam de um
lado para outro e idosas faziam exercícios à sombra de um arvoredo, enquanto
vendedores ambulantes buzinavam oferecendo seus produtos à crianças que corriam
pela grama, jogando bola ou brincando de pega.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam desceu e ajudou Rebecca a retirar as coisas do carro. Trancou as
portas e seguiram em direção ao lago, procurando um bom lugar para montar o
piquenique. Rebecca escolheu um arvoredo em volta do lago, sob a sombra de um
carvalho e estendeu a manta xadrez, dispondo os aperitivos e refrigerantes que
comprara no mercado. Cisnes nadavam de um lado para outro no pequeno lago e cantavam
uns para os outros uma triste canção de solidão. Um silêncio incômodo e pesado se
abateu sob os presentes enquanto comiam e Adam, constrangido, tentou puxar
assunto, mas Rebecca respondia com respostas monossílabas e ele acabou por
desistir. Após alguns minutos a moça tomou um gole de refrigerante e quebrou o
silêncio: <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Estava pensando Adam. Hoje é 26 de setembro e segundo o horóscopo
mágico<sup>6</sup>, faltam quatro dias para o início do <i>privilégio do ar</i>, então se partirmos para uma empreitada onde tenhamos
que enfrentar anjos, é melhor esperarmos até outubro. Li em algum lugar que eles
ficam mais fortes durante o <i>privilégio do
fogo</i>.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Eu também fico mais forte durante o <i>privilégio
do fogo</i> – respondeu Adam se gabando.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Na verdade o que rege sua alternância de poder são as estações do ano Adam.
Na primavera, os nascidos sob o privilégio do fogo, ar e terra fecham o ciclo e
revigoram suas energias, por isso a sensação de mais poder. A cada estação,
três privilégios do horóscopo se renovam e seus privilegiados sentem essa
mudança. Já com os anjos é diferente. Eles foram criados pelo próprio elemento
celestial fogo e não dependem das estações. São diretamente ligados ao elemento
que os criou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Mas o horóscopo mágico não tem doze elementos? – perguntou Adam.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Sim. Por quê?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Porque até onde sei os elementos conhecidos são apenas cinco: terra,
fogo, água, ar e luz e só há pouco tempo fiquei sabendo sobre a luz. Antes
achava que eram apenas quatro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– São cinco elementos primordiais Adam. – explicou Rebecca – Eles deram
origens a todas as coisas, inclusive aos outros elementos; a Terra deu origem a
Pedra, o Ar deu origem ao Espírito, o Fogo ao Raio, a Luz a Sombra e a Água a
Natureza. Os outros dois restantes são elementos de fusão; o Céu é uma fusão
dos elementos Ar e Luz e a Alma dos elementos Terra e Água.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– E todos os doze formam o Horóscopo Mágico. Um para cada mês do ano e um
para cada privilégio. – completou Adam querendo mostrar que também entendia do
assunto – Mas o terceiro elemento não é as Trevas, ao invés da Sombra. Ou os dois
são a mesma coisa?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não são a mesma coisa – explicou Rebecca – Apensar de ser comum a troca
dos nomes, e dos necromantes preferirem usar o termo “trevas” para dar um ar de
maldade ao seu privilégio; o correto é sombra, como consta no horóscopo mágico,
já que a sombra, assim como seu elemento, deriva da luz, enquanto as trevas são
a ausência de luz.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Entendi. Eu já tinha aprendido um pouco sobre os elementos com minha avó.
– Adam tentou não se mostrar totalmente ignorante a respeito do horóscopo
mágico e seus privilégios já que, aparentemente, Rebecca era uma expert no
assunto, mas a verdade é que sabia muito pouco sobre o mundo dos magos e o
pouco que garimpara com a avó logo era desmentido por seu pai, que não queria
ver o filho envolvido com magia. Pensou em mencionar a carta do avô e as
explicações sobre os elementos, mas preferiu não citá-lo por enquanto para a
conversa não se desviar para a busca da árvore da vida. – Ela também falava de
pessoas que dominavam totalmente seu privilégio e podiam fazer coisas
maravilhosas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Eram os Elementares. – respondeu Rebecca – Humanos que dominavam
totalmente seu elemento e rompiam as barreiras da física. Podiam fazer
maravilhas realmente, mas o poder traz consequências e nenhum Elemental
conhecido teve uma vida fácil. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam tentou se lembrar de algum Elemental citado nas histórias da avó,
mas ele nunca mencionara o nome de nenhum. O avô também não falara nada sobre
eles na carta deixada a seu pai e, no pouco que lera de livros de magia, eles
eram citados vagamente, como se o assunto fosse tabu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Mordeu um pedaço de torta, se recostou na árvore e decidiu improvisar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Acho que esses elementares nem existiram. Não me lembro de ter ouvido
ninguém falar que viu algum deles andando por aí e mesmo nos livros de magia
que li, as citações eram bem vagas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Os elementares viveram há muito tempo Adam. Atualmente não se tem
notícia de nenhum mesmo, exceto, talvez, o rei do mundo, mas a bíblia cita vários
elementares; Enoque muito provavelmente era um elementar do Ar e foi assunto
aos céus. Moisés era um de Terra e foi dito que morreu, mas seu corpo nunca foi
encontrado. Elias era um Elemental do Fogo e subiu aos céus numa carruagem do
seu elemento e o último que se tem notícia é Jesus, que tem todos os atributos
de um Elemental da Água; grande poder de cura, a escolha dos pescadores, etc, além
do fato de que a maioria dos seus grandes feitos estavam relacionados com a
água, como transformar água em vinho, andar sobre a água, etc. É possível que
Adão e Noé também fossem elementares, mas não temos certeza. Sobre eles não
serem citados nos livros de magia, acredito que foi para não entrar em
confronto com as religiões cristãs. As igrejas não gostam de ver seus grandes
heróis associados a magia.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Jesus não pode ter sido um Elemental da água – retrucou Adam – ele
podia no máximo ser um do espírito, pois nasceu em 25 de dezembro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– 25 de dezembro foi a data que atribuíram ao nascimento dele para
coincidir com o dia do Sol nos festejos pagãos. – Rebecca se remexeu
desconfortavelmente sobre a manta. Discutir sobre o cristianismo sempre
alterava os ânimos da cabalista e ela não gostava que colocassem suas
afirmações a prova. Lançou um olhar desafiador para Adam antes de responder – Ele
não nasceu nesse dia. Foi tudo invenção da igreja.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam pensou em responder como novos argumentos, mas ouviu passos
sorrateiros que se aproximavam por detrás da árvore tentando não fazer barulho.
Virou-se rapidamente e deparou com os rostos sorridentes de seus amigos Willian
e Lisa a poucos passos de distância.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Então foi aí que vocês se esconderam né seus safadinhos. – disse
Willian insinuante.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Rebeca mudou rapidamente de expressão. Jogou os cabelos para trás e
sorriu para os amigos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Então finalmente chegaram! Eu estava dizendo para o Adam que vocês iam <i>dar o bolo</i> em nós. Já estamos esperando
há uns vinte minutos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Foi a Lisa. – disse Willian sorrindo pra amiga – Demorou duas horas
para escolher um vestido. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Demorei nada – respondeu Lisa socando o ombro de Willian – É você que
para pra conversar com todo mundo que encontra no caminho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ah! Quer brigar? – Willian deu
um pulo para trás e tomou uma posição de ataque de algum estilo de arte marcial
desconhecido. – Pode vir, pode vir. – e gritava e pulava para frente e para
trás. Lisa entrou na brincadeira e dava chutes e tapas em Willian que se
defendia em uma posição diferente e extravagante a cada investida da amiga. Willian
era grandalhão; alto e pesado. Com músculos definidos e uma barriga saliente
que gostava de exibir para todos. Tinha os cabelos negros cortados curtos e
olhos grandes e perspicazes. Um sorriso largo e sarcástico sempre exibindo os
dentes perfeitos. Usava uma regata bege e espaçosa, que deixava seu tórax a
mostra, uma bermuda jeans e tênis de passeio, sem meias. Lisa era pequena e
franzina. Tinha os cabelos castanhos cortados na altura do pescoço e usava
vestido leve, azul e branco com sandálias havaianas. Sorria para tudo e todos e
tinha o hábito de beijar todo mundo que encontrava.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Parem com isso vocês dois – disse Rebecca assumindo o controle da
situação – e venham comer antes que o Adam acabe com tudo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Os dois correram instantaneamente para manta e se jogaram sobre a cesta
de piquenique. Liza pegou o último pastelzinho e pulou sobre Adam, puxando seu
rosto rudemente para beijá-lo. Adam se afastou um pouco para se proteger e
Willian aproveitou o descuido para tomar o pastelzinho que ele tinha na mão e
jogar rapidamente na boca.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Chega de comer, você já está muito gordo. – brincou Willian com a boca
cheia.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Olha quem fala – respondeu Lisa defendendo Adam – Você está parecendo
uma rolha de poço.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Eu não sou gordo, sou forte. – e ergueu os braços para destacar os
bíceps. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Todos riram e a conversa seguiu descontraidamente. Rebecca buscou mais
salgados no carro fazendo com que o amigo parasse de reclamar de Adam e começasse
a reclamar da faculdade. Falaram sobre as provas finais e a expectativa para o próximo
ano. Willian prometeu levar o curso a sério dali em diante e Liza reclamou que
os professores bajulavam Adam. O rapaz já ia se levantar para se defender
quando seu celular tocou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Oi mãe. O que foi? – perguntou Adam se afastando dos demais.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Oi filho. Olha sei que você está se divertindo com seus amigos, mas eu
precisava te avisar. Aconteceu uma coisa terrível. – e tossiu ao abafar um
soluço. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– O que foi mãe? Fale logo. Vai me matar de preocupação.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Os amigos que haviam permanecidos sentados conversando, agora se
levantaram e foram atrás de Adam ao ouvir a expressão preocupada do rapaz.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– É a sua avó. Um paramédico ligou e avisou que ela foi encontrada agora
a pouco, pelo carteiro. Estava estirada num canto com um enorme ferimento de
queimadura no peito.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Mas eles a socorreram? Ela
está bem?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não sei filho, ele não deu
detalhes. Pedi uma carona para a dona Penina e estou indo para lá, para saber
ao certo o que aconteceu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não quer me esperar. Vou agora
mesmo para lá também.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não, tudo bem. A dona Penina
já disse que me leva. E do parque é mais perto para você chegar lá. Se voltar
aqui vai ter que dar uma volta enorme.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Então está bem mãe. Estou indo
para lá. Espero que não seja nada grave.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Deus ajude que não. E vê se
dirige com cuidado. Não quero que saia que nem doido daí e acabe causando um
acidente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Pode deixar. Vou ter cuidado.
Cuida-se a senhora também.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Está bem filho. Vai com Deus.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Amém. Tchau. – e desligou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– O que aconteceu Adam, alguma
coisa grave? – perguntou Rebecca se aproximando.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– É, parece que sim. Sinto muito
pessoal, mas vou ter que me ausentar. Aconteceu um acidente com minha avó e vou
ter que ir pra lá. Ela mora sozinha numa casinha na área rural e deve ter feito
alguma besteira.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Tudo bem Adam. A gente
entende. Vai lá ver sua avó. A gente pode marcar outro dia. – respondeu Lisa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Vai lá cara. – completou
Willian – depois a gente se fala.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam se virou para Rebecca, mas
a moça já estava recolhendo as coisas. – Vou com você, sua mãe pode precisar de
ajuda.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam preferiu não discutir,
apesar de não conseguir imaginar em que Rebecca poderia ajudar sua mãe numa
situação dessas. Entraram no carro e partiram. Rebecca procurava acalmar Adam,
como se soubesse de alguma coisa que ele desconhecia.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Seja lá o que tiver acontecido
Adam. Quero que saiba que estou ao seu lado para o que der e vier. Pode contar
comigo ok.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Tudo bem Rebecca.
Sei que você é uma amiga fiel, mas acho que não foi nada de mais. No máximo
minha avó se queimou com um velho fogão a lenha que ela tem no barraco. Não
deve ser nada grave.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Rebecca
concordou com a cabeça e seguiram, alcançando a estrada de chão. Ao longe
surgiu a porteira da propriedade e Adam pode ver o movimento incomum ao redor
do casebre. Um cordão de isolamento tentava afastar os curiosos, que a esse
momento, já se inteiravam do caso e uma Ambulância, com as sirenes ligadas,
ofuscavam a imagem de tranquilidade que Adam tinha da casa da avó. Passou pelo
cordão de isolamento e um policial gordo, com os cabelos em desalinho e a testa
suada o parou com um gesto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Para trás da faixa
garoto. Só policiais e paramédicos são permitidos aqui. – disse o policial.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Mas ela é minha
avó. – respondeu Adam.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Tudo bem Jeremias.
Deixe o garoto passar. – disse outro policial parado perto da porta.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam entrou
acompanhado de Rebecca. O casebre estava todo revirado: a cama, a mesa e o
armário estavam despedaçados e seus pedaços jogados num canto junto a cacos de
pratos, louças e lençóis. Dois policiais procuram por evidencias ao lado do
corpo e olharam com pena para Adam quando ele se aproximou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Você é parente da
vítima? – perguntou o policial que estava mais perto do corpo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Sou neto. –
respondeu Adam – O que aconteceu?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ainda não sabemos
– disse o policial se levantando – Mas parece que ela foi atacada por algum
objeto cortante e abrasador que perfurou a caixa torácica e atingiu o coração.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Mas... – Adam
sentiu a cabeça girar e teve que se escorar na parede para não cair. – Ela está
morta? – disse por fim.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Sinto muito filho
– respondeu o policial com pesar – Mas não se preocupe, vamos pegar o canalha
que fez isso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam balançou a
cabeça atordoado, enquanto outros policiais entravam e saíam da casa, fazendo
anotações e colhendo pistas. Rebecca se aproximou do corpo inerte da idosa para
examiná-la e tocou o ferimento.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não toque no corpo!
– avisou o policial.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Desculpe –
respondeu Rebecca – Só queria ver a profundidade da queimadura.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O policial gordo que
os havia recepcionado entrou no casebre com uma mala e duas folhas de papel na
mão. Conversou nervosamente com o que parecia ser o líder da investigação e se
dirigiu até onde Adam havia se escorado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Sua avó deixou
essa mala arrumada embaixo da cama. Você sabe se ela pretendia viajar?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não sei. –
respondeu Adam – Estive aqui semana passada e ela não me disse nada. Eu tentava
incentivá-la a arrumar amigos e se divertir um pouco. Talvez fosse isso. Ela
não saia muito de casa desde que meu avô desapareceu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Também encontramos
essas duas cartas. Uma dentro da mala e a outra no meio da bagunça. Sabe do que
se trata?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam abriu a
primeira carta. Era apenas um bilhete e parecia ter muitos anos. O papel estava
sujo e amarrotado e a borda da folha estava rasgada, como se tivesse sido
arrancado às pressas. O bilhete dizia o seguinte:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Os Súditos pegaram Jonatas. Não consegui salva-lo,
mas dei cabo dos assassinos. Isso tem que acabar. Vamos partir em breve. Já
descobri a localização. Deixei Brow encarregado de levar os artefatos de volta,
caso algo saia errado.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Doces beijos. Te amo para sempre.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>D. O.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Abriu a segunda
carta e deparou com a letra da avó. Era uma carta de despedida e havia sido
escrita às pressas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Adam, meu querido. Tive que partir, pois não aguentava
mais a sensação de impotência que me atormenta há anos. Vou atrás do sonho do
seu avô e, quem sabe, dele próprio. Esperei até você estar crescido para tomar
essa decisão, pois sempre deve haver um Ocher apto para seguir a tradição.
Agora que você já está a par de tudo, parto para seguir meu caminho, seja onde
for que ele me leve. Espero em breve encontrar seu avô (nesse mundo ou no
outro) e por fim a esse vazio que sua partida me deixou. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Um beijo carinhoso para você e para sua mãe (apesar
dela me odiar) e que os círculos de poder os guardem de todo mal.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Vovó.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>PS. Seu avô tinha contatos na Europa e essas
pessoas podem ajudá-lo. Quando decidir seguir seu caminho procure pela GD e
pelo Mestre Matheus. Ele lhe dirá o que deve fazer. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam dobrou a carta
e olhou para o policial que aguardava ansioso uma resposta para aquilo tudo.
Rebecca se aproximou com ar de curiosidade e outros policiais formaram um
círculo em volta do rapaz aguardando a sentença.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– E então –
perguntou o policial gordo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam suspirou <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Sobre a primeira
carta, não sei do que se trata. Parece um bilhete antigo, do tempo que meu avô
ainda era vivo. Não conheço as pessoas mencionadas e nem sei para onde ele
estava indo. A segunda é para mim. Minha avó queria que eu fosse estudar na
Europa e vivia me dizendo que os amigos de meu avô que moram lá poderiam me
ajudar. Mas nunca tive interesse em deixar minha faculdade e me mudar e isso
sempre a desapontou. Imagino que é para lá que ela se dirigia. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Para Europa? –
perguntou o policial.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Acredito que sim.
Agora posso ir. Não estou me sentindo bem.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Pode ir. Assim que
for necessário pegaremos seu depoimento mais detalhado. – e os deixou, voltando
para perto do corpo para conversar com os outros policiais.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam virou as costas
e saiu com Rebecca a seu lado. Do lado de fora ainda havia algum movimento e,
apesar dos esforços dos policiais, um ou outro curioso tentava atravessar o
cordão de isolamento e arriscar uma olhadela. Alguns pardais que se aninhavam
no telhado da casa se ouriçavam e gritavam a plenos pulmões: <i>homens de fogo, homens de fogo...</i> <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Rebecca não
entendeu, mas o alquimista parou e fitou-os por um longo tempo tentando
entender o significado daquela expressão. A mãe de Adam chegou logo em seguida,
no momento em que se dirigiam ao carro. A Sra. Penina que a acompanhava desceu
radiante, olhando para todos os lados e anunciando que vinha trazendo um
familiar. Logo se enfurnou na casinha e foi vistoriar o corpo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Olá Rebecca. Fico
feliz em encontrá-la de novo, apesar das circunstancias. – disse Dona Rute
abraçando e beijando a moça.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Olá Dona Rute. Que
situação não é. Bem vou deixar vocês conversarem a vontade. Te espero no carro
Adam. – e saiu se despedindo com um aceno.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– E então filho, o
que aconteceu? – perguntou a mãe de Adam quando percebeu que Rebecca estava
fora de alcance.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Eles ainda não
sabem. Parece que ela foi morta por um objeto cortante, mas não sabem o que.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ai meu Deus! Que
horrível! Não conseguiram salva-la?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ela já estava
morta quando a descobriram. Agora se não se importa mãe, vou levar Rebecca para
casa e descansar um pouco, não estou passando bem.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Tudo bem filho.
Vai que eu resolvo tudo por aqui. – e se dirigiu para o casebre enquanto Adam
seguia até o carro onde Rebecca o aguardava.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Entrou no carro e
saiu. A estrada parecia longa devido ao silencio que se abateu sobre o casal.
Adam não disse uma palavra durante todo o percurso e Rebecca decidiu respeitar
sua decisão. Passaram sem parar pelo parque e seguiram para a casa de Adam. O
tempo começou a fechar e um vento frio entrou pelo vidro arrepiando os pelos e
estremecendo o casal que seguia afastado. Rebecca desceu assim que o carro
estacionou e virou-se para Adam que também descia pelo outro lado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Achei que você ia
me levar para casa. – perguntou fingindo surpresa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não ia. Só falei
aquilo para nos livrarmos de minha mãe. Queria sua opinião sobre o que
aconteceu. O que você acha que foi aquilo?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Rebecca suspirou e
pegou no braço de Adam.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Acho melhor a
gente conversar lá dentro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Entraram na casa e
Adam ofereceu uma bebida a Rebecca. A moça aceitou um refrigerante e se jogou
no sofá da sala, pensando por onde iria começar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Bom acho que não
tem uma maneira fácil de dizer isso então vou direto ao assunto. – disse por
fim a cabalista – Acho, ou melhor, tenho certeza que sua avó foi assassinada
por anjos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Por anjos? – disse
Adam surpreso – Está certo que as circunstancias da morte dela foram estranha,
mas anjos. Acho que...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Foram anjos Adam.
Apostaria minha virgindade nisso. O corte queimado no peito dela só poderia ser
feito por uma espada flamejante, ou seja, uma espada de querubim. Eu sei que
parece bizarro, mas não é a primeira vez que vejo um corte desse tipo. Tenho
certeza; foram anjos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Como assim
Rebecca? Você já viu algo parecido com aquilo antes?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Sim, mas isso não
importa agora. O importante é que sua avó foi assassinada por querubins. Isso
significa que Deus não estava contente com os planos dela. O que dizia nas
cartas que você leu?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não muita coisa –
respondeu Adam retirando as cartas do bolso e entregando à Rebecca – Uma
parecia ser uma carta do vovô antes dele desaparecer. Não sei quem é Jonatas
nem Brow. E a outra é para mim. Uma carta de despedida. Acho que ela ia sair do
país e procurar pelo meu avô.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Pois eu sei quem
era Jonatas e Brow. – Rebecca passou as mãos no cabelo e abriu um sorriso
malicioso – Lembra quando almoçamos juntos e eu disse que sabia sobre seu avô e
sobre o envolvimento dele com o necromante Jonatas Black? Então é esse Jonatas.
Ele era parceiro do seu avô na busca pelo jardim e os dois desapareceram
juntos, ou pelo menos era isso que a comunidade mágica pensava. Agora sabemos
que ele morreu primeiro e seu avô foi sozinho em busca do jardim. Brow deve ser
John Brow; um sujeito esquisito e mal falado, que se dedicava a estranhas invenções
e disfarces absurdos. Ele fazia serviços para o seu avô às vezes, mas depois
que ele desapareceu, o sujeito se mudou para Londres e abandonou a vida de
aventuras.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Caramba Rebecca,
como você sabe tudo isso?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Rebecca sorriu
constrangida, mudando de posição no sofá. – Eu estudei muito sobre a busca pela
Árvore da Vida Adam. Coletei bastante informação sobre os grandes especialistas
no assunto e seu avô era um dos principais. Agora cabe a você completar a
missão deles. Não pode deixar o que aconteceu com sua avó e seu avô impune.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam fechou a cara. Não
gostava da idéia de abandonar tudo e seguir para uma aventura maluca, em busca
de algo que ele nem acreditava que existia. No mais não existia provas que sua
avó havia mesmo sido assassinada por anjos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Você parece minha
avó falando assim e eu não estou totalmente convencido que foram anjos que
mataram ela.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– O que os pássaros
disseram quando saímos da cabana?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam estacou. Como
era possível que Rebecca soubesse do seu dom de falar com os animais. Apenas
sua avó e uns poucos conhecidos do círculo místico dela sabiam. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Como você sabe
sobre isso? – perguntou Adam se afastando.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não precisa ficar
ressabiado comigo Adam. Eu sei por que sua avó registrou nos anais do círculo
vermelho<sup>7</sup> que nascera um menino que
herdara o legado de Adão. Achei que você sabia disso, está disponível para
todos os integrantes do círculo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Mas você não é uma
alquimista. Você é uma cabalista. Como teve acesso ao círculo vermelho?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Pedi a um amigo
alquimista que conseguisse para mim, mas isso não importa agora. Apenas me diga
o que os pássaros disseram.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ficavam gritando: <i>homens de fogo, homens de fogo</i>, esse
tipo de coisa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– E de que provas
você precisa mais! Esta claro que homens de fogo é uma referência a anjos. Eu
sabia Adam. Sua avó foi assassinada a mando de Deus.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Deus não faria uma
coisa dessas. – resmungou Adam.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Acho que você
nunca leu a bíblia não é. Deus manda matar muita gente por muito menos que
isso. Sua avó estava tentando quebrar um círculo profético. Se ela ou seu avô
conseguisse o fruto da árvore da vida, poderia mudar todos os planos de Deus
para o futuro. Você acha que Ele permitiria uma coisa dessas?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ok, mas se for
mesmo verdade, o que impede que Ele me mate assim como matou os dois. – Ao
dizer isso Adam se lembrou dos dois vultos angelicais que ele viu voando sobre
sua casa e um calafrio percorreu sua espinha arrepiando seus pelos do corpo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Nada impede Adam,
a não ser nossa união. Anjos não são invencíveis no plano material e Deus não
costuma sujar as mãos com humanos. Se ficarmos juntos poderemos enfrentá-los e
vencê-los. Eu creio nisso. E creio em você também. Sei que é você que a magia
escolheu para essa missão e vou te ajudar com o que eu puder se você me aceitar
como parceira. Juntos vamos acabar com essa tirania que tanto restringe a
liberdade do ser humano.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam se emocionou e
levantou para abraçar Rebecca. Seu coração batia acelerado e não sabia se era
pela emoção da conversa ou pela proximidade de sua amada. Pensou em se declarar
ali, e tomá-la nos braços, mas ela estava chorando e ele não quis atrapalhar o
momento. Pegou um lenço no bolso e secou as
lágrimas da cabalista que agradeceu emocionada. Adam apenas sorriu e se afastou
tentando mudar de assunto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Você vai ao enterro
amanhã. – perguntou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Claro que sim –
respondeu Rebecca se recompondo – Você me pega em casa ou quer que eu passe
aqui.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Se você passar
aqui é melhor. Minha mãe vai querer que eu a ajude a preparar as coisas então
vai ser bem complicado sair.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Tudo bem. Acho que
vou embora então, depois conversamos mais. Você me da uma carona para casa?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam assentiu com a
cabeça e saíram. À noite Rebecca voltou e participou do velório com Adam e
alguns amigos de sua mãe. Poucas pessoas na faculdade sabiam do ocorrido então
apenas Willian e Lisa vieram. No final Adam despediu a todos e tentou dormir um
pouco apesar da tempestade ruidosa que caia do lado de fora.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
No outro dia
levantou cedo e fez o café para sua mãe que não tinha dormido direito. A chuva
ainda caia torrencialmente e parecia que não ia dar trégua por um bom tempo. Ajudou
sua mãe a arrumar as coisas e pegou um café para aguardar o horário do enterro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Pouco antes da hora
marcado Rebecca chegou com o Corolla e o deixou na garagem entrando na casa
pela porta dos fundos. Dona Rute estava atarefada ligando para um e para outro
e apenas acenou quando ela adentrou a sala. Adam veio recebê-la e lhe ofereceu
uma tolha para se secar, mas a moça não quis.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Esta chovendo
horrores lá fora, então não adianta nos secarmos por enquanto, mas você pode
levar a toalha, depois do enterro poderemos usá-la.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam consentiu e
olhou o relógio, já estava quase na hora do enterro. Pegou a chave com sua mãe
e tirou o Chevette da garagem e o estacionou na beira da rua, de frente para o
portão, depois abriu a porta para Rebecca que correu até ele e se jogou no
banco enquanto Adam fechava a porta do passageiro e corria para outro lado
entrando rapidamente, tentando evitar ficar mais molhado do que já estava.
Fechou a porta, ligou o limpador de pára-brisas e os faróis e arrancou. Estava
mais conformado agora e sabia que a decisão que havia tomado era a mais correta
e também aquilo que sua avó queria para ele. <i>Deve haver um motivo para eu ter nascido com esse dom e se fosse para
desperdiçá-lo cuidando de uma clínica veterinária seria melhor deixá-lo para a
próxima geração, como meu pai fez, </i>pensou,<i> mas sinto que não é esse o desejo de meu coração</i>. A chama da magia
começava a arder mais forte em seu peito e nesse momento parecia ser capaz de
realizar qualquer coisa, por mais difícil e improvável que fosse. <i>Um mago deve ser ousado, </i>dizia sua avó<i> </i>e ele decidiu que o seria. Seria ousado
a ponto de desafiar o maior poder existente no universo e o maior exército que
uma vez foi criado e vencê-lo. Como conseguiria isso ele ainda não tinha
certeza, mas sabia por onde começar e já dera o primeiro passo: tomara a
decisão e isso era tudo que importava no momento.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O cemitério ficava
num bairro afastado da cidade e era bem cuidado. Possuía várias ruas largas e
bem arborizadas, como uma cidade funerária. No centro ficava uma grande capela
abobadada rodeada de pilares e ao fundo, grandes jardins regados por um lago
artificial. As ruas estavam movimentadas apesar da chuva. Visitantes andavam de
um lado para outro portando enormes guarda-chuvas e sobretudos pretos que
combinavam com os óculos escuros e o semblante carregado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O enterro ocorreu
rapidamente e apesar de Adam impor alguma resistência, acabou aceitando que sua
mãe convidasse um padre, que discursou por alguns minutos e despachou a alma da
avó. Depois deu os pêsames para Adam e sua mãe e voltou para o carro, saindo em
seguida. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Do outro lado do cemitério
Adam percebeu um estranho grupo que veio se despedir de sua avó. Gente que ele
nunca vira antes e que se sua mãe parecia evitar, mantendo certa distância. Alguns
ostentavam o “A” ensolarado sobre o sobretudo e Adam percebeu que eram
alquimistas, mas eles não se aproximaram, apenas acenaram com a cabeça e
cumprimentaram sua mãe de longe, com exceção de uma ruiva de meia idade que se
aproximou e colocou uma rosa vermelha no túmulo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– O que está em cima
é igual ao que está embaixo – disse a mulher se afastando. Usava um vestido
vermelho, apesar do luto, e um grande colar de rubis adornava seu pescoço fino.
Era muito bonita e Adam se pegou perguntando a qual das grandes famílias ela
pertenceria.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Rebecca ficou o
tempo ao seu lado e seus amigos da faculdade e alguns professores também vieram
para consolá-lo. O enterro terminou com o lançamento de pétalas de flores e o
fechamento da gaveta quando sua mãe deixou escorrer uma lágrima. Adam não
chorou. Estava se sentindo renovado pela escolha que fizera e jurou que não
deixaria a morte dos avos ter sido em vão. Voltou com Rebecca para o carro e
descobriu a caixa de bombons e biscoitos de chocolate que comprara no caminho
para a casa de Rebecca e esquecera-se de comer no parque.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Quer chocolate? –
perguntou Adam assim que Rebecca entrou no carro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A moça sorriu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Porque não? – e pegou um bombom na caixa e enfiou na boca –
Já lhe disseram que você é um doce? – completou com a boca cheia e cuspindo
chocolate por cima de Adam.<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
***<o:p></o:p></div>
</div>
</div>
</div>
Feitosahttp://www.blogger.com/profile/01786865127916010920noreply@blogger.com0R. Betim, 395-675 - Aero Rancho, Campo Grande - MS, 79082-020, Brasil-20.506782077186216 -54.63775634765625-20.744742577186216 -54.953613347656251 -20.268821577186216 -54.321899347656249tag:blogger.com,1999:blog-9204546804128450555.post-46029020802989862452011-08-20T07:46:00.000-07:002014-11-27T12:54:18.230-08:00CAPÍTULO VI<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-vdBP_6i3a15x3w0akFVConFCCpfE5WKFiPdj28vlzZ12i7224Ob_QziaMnHBxjgetT4kv0NxVqiMnLqxaCzxhyYLCrsjH59JZcnBlVurFke83-J3jADKPTqVRTuM4JfMlfiBZpiMAofy/s1600/wicca.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-vdBP_6i3a15x3w0akFVConFCCpfE5WKFiPdj28vlzZ12i7224Ob_QziaMnHBxjgetT4kv0NxVqiMnLqxaCzxhyYLCrsjH59JZcnBlVurFke83-J3jADKPTqVRTuM4JfMlfiBZpiMAofy/s320/wicca.jpg" height="243" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<h1 align="center" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: center;">
<span lang="X-NONE" style="text-transform: uppercase;">A </span><span style="mso-ansi-language: PT-BR; text-transform: uppercase;">BATALHA</span><span lang="X-NONE" style="text-transform: uppercase;"><o:p></o:p></span></h1>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O dia amanheceu quente. Wesley levantou e foi ao banheiro tomar um banho
e escovar os dentes, enquanto planejava o dia com Mariah. Ainda não tivera uma
oportunidade com a moça e o tempo estava a correr. Saiu do banheiro, vestiu um
calção e se dirigiu à cozinha para o desjejum. Mariah já estava lá, a comer e
tomar café.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Bom dia Wesley! Levantou cedo hoje. – A moça se levantou e o saudou com
um beijinho no rosto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– É, levantei. Quero aproveitar o dia já que passei os últimos dormindo.
– sentou-se e comeu um pedaço de pão com manteiga – O Thomas ainda não
levantou? Na estrada ele sempre levantava antes de mim.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Acredito que sim. Ele sempre levanta cedo. Já deve estar nos estábulos
cuidando dos cavalos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Wesley franziu o cenho. Apesar de nunca ter visto o primo maltratando
animais desnecessariamente, também nunca o vira cuidando de um. – <i>Terá o campo amolecido o coração do
necromante, </i>pensou.</div>
<a name='more'></a><o:p></o:p><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ele faz a limpeza todas às manhãs. Meu pai determinou que pelo menos um
de vocês trabalhasse para pagar pela hospedagem e comida – disse a moça
limpando a boca com o punho – Thomas aceitou sem pestanejar e como você estava
desmaiado...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Sério! Não sabia disso. – Nunca imaginou o primo orgulhoso limpando
estábulos e a cena despertou sua curiosidade – Está aí uma cena que eu gostaria
de ver.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Podemos passar lá agora se você quiser. – respondeu a moça se
levantando da mesa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não, não! Se eu aparecer por lá é bem capaz de ganhar serviço. Vamos
fazer algo mais divertido.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Então podemos passear no bosque. O dia está quente e debaixo das
árvores sempre corre um vento fresco. Podemos levar docinhos e refrigerante e
fazer outro piquenique.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Wesley concordou com a cabeça e Mariah passou a fazer os preparativos
para o passeio. Organizou a cesta com os lanches e deu a garrafa de suco para
Wesley segurar, enquanto avisava os criados que sairia para o bosque com o
amigo. O ranger buscou sua mochila de viagem e saíram para o campo, mas
preferiram ir andando para não correr o risco de Thomas os interceptar e
frustrar seus planos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O caminho era arborizado e sereno. Um vento fresco soprava do leste e
levantava as folhas caídas que forravam o terreno formando pequenos redemoinhos
que Wesley tentava dissipar com os braços, enquanto Mariah ria e aplaudia as
travessuras do rapaz.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Caminharam por cerca de meia hora e chegaram. O bosque era o mesmo que
tinham estado anteriormente, ainda na companhia de Thomas, e parecia intocado
pelo tempo. Grandes carvalhos subiam aos céus e causavam uma sensação de
inferioridade nos presentes, que se sentiam minúsculos, frente às árvores
imponentes. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Mariah forrou o chão e sentaram. Wesley retirou a mochila das costas e
sacou o bandolim enquanto a moça servia uma fatia de torta e encarava o amigo
com ternura.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Vai tocar pra mim? – perguntou enquanto o ranger afinava as cordas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Se você quiser. – e sorriu para ela – Estou meio fora de forma. Há dias
não pego no bandolim.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Mas você está me devendo uma canção. – disse forjando um ressentimento
– Não pense que me esqueci.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Pois pagarei agora. Sobre o que quer que eu cante?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A jovem pensou um pouco olhando ao redor. Um leve zumbido soava no vento
e quebrava o silêncio e, ao longe, um exame de abelhas seguia em direção aos
jardins. Nuvens esparsas enfeitavam o horizonte e conferiam uma atmosfera calma
ao lugar, enquanto ao seu lado, um jovem rapaz de cabelos loiros a encarava
como que perdido em seu olhar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Sobre meus olhos. – Respondeu a moça – E sobre o céu, e cavalos, e
abelhas colhendo mel e tudo mais que é belo e bom.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Certo. Verei o que posso fazer. – E ajeitou-se na relva acomodando o
bandolim no colo e dedilhando algumas notas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Os primeiro acordes indicavam uma canção animada e a moça começou a se
agitar ao seu lado.<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i>Campeiros cavalgam, montando um corcel;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i>Vendo seus olhos no céu.<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i>Abelhas sugaram, das flores, o mel;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i>Vendo seus olhos no céu.<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i>Ooooh. Vendo seus olhos no céu.<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i>Ooooh. Vendo seus olhos no céu.<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i>Guerreiros lutavam com espada e broquel;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i>Vendo seus olhos no céu.<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i>Cantores cantavam cantigas ao léu;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i>Vendo seus olhos no céu.<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i>Ooooh. Vendo seus olhos no céu.<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i>Ooooh. Vendo seus olhos no céu.<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A moça aplaudiu e ovacionou o rapaz que sorriu constrangido. Ia se
levantar para dar um abraço e um beijo de agradecimento quando uma raposa
vermelha surgiu de uma moita carregando um filhote de lebre nos dentes. O
animal ainda estava vivo e remexia vigorosamente tentando se libertar do
predador. Mariah avançou rapidamente em direção ao animal e este fugiu deixando
a presa para trás. A moça pegou a lebre e a colocou no colo. Seu vestido branco
manchou-se de vermelho com o sangue que vertia continuadamente do animal e
Wesley fez menção de retirá-lo do colo da garota, mas ela não quis. Abraçou o
bichinho e virou-se para o rapaz como olhos suplicantes.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ela vai morrer se não fizermos alguma coisa. – Wesley tentou falar, mas
não sabia o que dizer. O mais certo era levá-lo a um veterinário, mas no fundo
sabia que o animal não sobreviveria ao percurso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Vamos levá-lo para a sede e tentar um curativo, mas não tenho grandes
esperanças, o ferimento é muito grave – concluiu o ranger examinando a lebre.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Mariah levantou-se decidida e Wesley imaginou que ela acataria sua idéia,
porém a jovem deitou o animal no chão folhado e desenhou um pentagrama com um
círculo em volta. Uma luz pálida seguia seus movimentos e iluminava o local
produzido um efeito fantástico entre as folhas. Wesley assistia a tudo
boquiaberto enquanto a moça fechava os olhos e recitava lentamente.<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<b><i>X CANÇÃO
DO LIVRO BRANCO<o:p></o:p></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Mariah abriu os olhos e Wesley reparou que as pupilas haviam
desaparecido. Seus olhos estavam totalmente brancos e emitiam uma luz prateada.
A moça fixou o olhar na lebre e iniciou o canto.<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Luz e terra, Folhas e vento;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Círculo Branco, feliz tratamento;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Problema tratado, por mãos de mulher;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Ferida sarada, a maga requer!<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Os círculos brilharam mais intensamente e produziram uma nuvem branca
sobre o animal. Subitamente a luz subiu aos céus e desceu violentamente,
atingindo em cheio, a lebre que se esparramou com a descarga e guinchou em
protesto, no mesmo tempo em que a luz se espalhava sobre seu corpo e a ferida
desaparecia instantaneamente. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Wesley estava estarrecido, nunca imaginara que Mariah poderia ser uma druidiza<sup>8</sup>.
Levantou-se para abraçá-la enquanto a jovem colocava o animal sadio no colo e
chorava de emoção. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Eu a salvei Wess. – O rapaz sorriu emocionado pela forma carinhosa como
a moça o tratou e concordou com a cabeça, enquanto Mariah continuava falando
extasiada – Como minha mãe havia me ensinado. Eu consegui – E sorriu em meio às
lágrimas abraçada com o ranger. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O vento começou a soprar novamente e levantou as folha que forravam o
solo. Araras vermelhas saíram em revoada gritando e grasnando enquanto do alto
das árvores bandos de sagüis guinchavam e pulavam de galho em galho como que
comemorando o ato recente, mas nada disso foi ouvido pelos dois que pareciam
envolvidos por uma mágica especial. Os corpos se aproximaram e Wesley pode
sentir o doce sabor dos lábios de Mariah. Parecia que nada no mundo poderia
interromper aquele momento, porém um som irônico vindo de trás da árvore mais
próxima os trouxe de volta a realidade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– <i>Clap, clap, clap</i> – A madrasta
com seu belo vestido preto saía de trás da árvore batendo palmas e sorrindo
para os dois. Wesley assustou-se e supôs que a mulher fosse repreendê-los pelo
comportamento ousado, mas ela se limitou a encará-los com uma olhar sarcástico.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Meus parabéns Mariah!– disse finalmente – Até que enfim desencalhou.
Apesar do seu pretendido não ser grande coisa, combina bem com você. Feio,
burro e um mago de quinta categoria. Diga-me afilhada, ele também só sabe
executar magias de cura?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Wesley é um mago muito melhor que a senhora um dia poderá sonhar a ser.
Ele tem um coração gentil e ama a natureza – disse Mariah se levantando e
enfrentando a bruxa que a encarava com um olhar de desprezo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– É! Deve ser um ótimo mago mesmo. Se escondendo atrás de uma bruxa fraca
que possui apenas ridículos poderes de cura. Foi uma bela herança que sua mãe lhe
deixou não afilhada? – e mudou o semblante – O <i>privilégio da água</i> não á salvou de mim e muito menos salvará a ti.
Pretendia esperar você se formar e desaparecer daqui para colocar meus planos
em curso, mas já que contratou esses projetos de magos para me impedir acho que
vou ter que acelerar as coisas. Depois que acabar com você e dar um fim no seu
inútil pai, será fácil requerer a propriedade e tomar posse das terras como
herdeira legítima.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Wesley que até aquele momento permanecera sentado levantou-se e encarou a
maga negra frente a frente. Seus olhos estavam totalmente esverdeados e um
vento fresco recomeçou a soprar brincando com seu cabelo e balançando os galhos
das árvores.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Pode me criticar sempre que quiser senhora. Eu não ligo. Mas não posso
permitir que ofenda Mariah na minha frente. Não gosto de lutar com mulheres,
mas o farei se não se retratar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O vento ficava mais forte à medida que Wesley falava, o vestido da
necromante levantou-se, revelando a lingerie preta e as belas pernas torneadas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– É só isso que você sabe fazer? – zombou a bruxa – Levantar saias de
mulheres? O que pretende fazer? Vencer-me pela vergonha. – e riu mais alto – Ou
pretendia mostrar à minha tola afilhada o seu <i>grande poder</i>? – completou frisando o final.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– CHEGA! – Wesley abaixou e desenhou pentagramas no chão em volta de si
enquanto a necromante parecia se divertir com a situação. O ranger levantou,
fechou os olhos e recitou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<b><i>XXXVI
CANÇÃO DO LIVRO VERDE<span style="text-transform: uppercase;"><o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Abriu os olhos e tocou no tronco das árvores ao redor, os círculos brilharam
e subiram pelo caule atingido as folhas e se espalhando no ar no mesmo instante
em que o ranger iniciava o canto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Progênies da terra, barreira solar;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Umidade dispersa, vapores no ar;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Terreno fecundo, promessa cumprida;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Levante regido, liberdade retida<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Carvalho frondoso, plantado no chão;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Se ergue da terra, uma verde prisão;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Oferta servida, Exórdio do rito;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Domínio da flora, eu solicito!<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O ar se tornou mais quente e seco. A grande árvore que os sombreava
balançou de um lado para outro como se quisesse se libertar do chão. De repente
seus galhos moveram-se e formaram punhos que se abriram e agarram a necromante
erguendo-a até o topo. A mulher, embora surpresa, não revelou sinais de medo ou
apreensão. Apenas curvou-se para frente ao ser espremida entre os galhos que a
suspendiam no ar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– RETRATE-SE! – gritou Wesley se posicionando embaixo da estranha prisão
verde que armara para a Madrasta - RETRATE-SE E A DEIXAREI IR. CASO CONTRÁRIO
ORDENAREI QUE ESSES GALHOS ESPALHEM SUAS TRIPAS POR TODA A EXTENSÃO DO BOSQUE.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Apesar da situação aparentemente desfavorável a mulher riu e levantou o
rosto para encará-los.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Meus parabéns garoto. Acho que o subestimei. Não imaginava que um
pé-rapado como você fosse capaz de executar um canto dessa complexidade e ainda
permanecer em pé. Eu bateria palmas novamente, mas meus braços estão um pouco
ocupados no momento.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Ao dizer isso a mulher moveu o corpo para trás aparentemente tentando se
soltar. Wesley percebeu e apertou ainda mais o abraço da árvore. A necromante
abaixou a cabeça e ao levantar, seus olhos estavam totalmente negros, como se a
pupila houvesse engolido o restante. Ela sorriu maleficamente e recitou
lentamente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<b><i>XVIII
CANÇÃO DO LIVRO NEGRO<o:p></o:p></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O tempo escureceu. Wesley e Mariah sentiram como se o ar ao redor estivesse
sendo sugado. Uma névoa negra saiu das mãos da mulher e se espalhou pelos
galhos em forma de punho. O ranger apertou ainda mais o punho e saliva e espuma
escorreram da boca da madrasta, envolvendo e molhando as folhas e galhos ao
redor. Um cheiro sufocante de veneno inundou o lugar e a necromante iniciou o
canto.<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Pedido cumprido, oferta pendente;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Saliva rogada, resposta prudente;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Encanto nocivo, contágio seguro;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Curtido veneno. Eu asseguro!<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Feixes de luz negra saíram das mãos da bruxa e percorrem o caule e as
raízes da planta. O local onde a saliva havia caído começou a ferver e liberar
uma fumaça negra que infestou o ambiente. As folhas murcharam e a árvore parou
de se mexer liberando a necromante que deslizou pelos galhos em direção ao solo
com um sorriso nos lábios.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Wesley não se deu por vencido, moveu os braços para a próxima árvore e
imediatamente ela se moveu em direção a necromante tentando agarrá-la. A
madrasta apenas cuspiu sobre seus galhos e o carvalho murchou e secou, parando
de se mover. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não adianta moleque! – zombou a bruxa – Seus truques não passam de
brincadeira de criança perto de mim. Dê-me um segundo e lhe mostrarei magia de
verdade. – dizendo isso a necromante sacou uma velha mochila de trás da árvore
da qual saíra e despejou seu conteúdo com estardalhaço no chão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Reconhece Mariah? Isso é o que sobrou da sua mãe. – A garota levou as
mãos ao rosto e chorou ao contemplar aquela cena grotesca. Um amontoado de
ossos e cabelo se formou aos pés da necromante que sorriu e atirou um osso no
casal que contemplava horrorizado. – Diga olá para a mamãe – E riu
diabolicamente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Wesley se moveu na expectativa de apanhar a bruxa de surpresa enquanto
ela zombava de Mariah, mas a mulher se virou e encarou-o fingindo ternura.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não se preocupe queridinho. Não me esqueci de você. E antes que eu me
esqueça, não trouxe esses ossos aqui apenas para unir a família. Vou lhe
mostrar o verdadeiro poder dos nascidos sob o <i>privilégio das trevas</i>.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Dizendo isso a madrasta abaixou-se e começou a desenhar um pentagrama com
as mãos. O tempo voltou a escurecer a medida que ela desenhava e os olhos, que
tinham voltado ao normal, agora estavam negros novamente. A mulher levantou e
exclamou lentamente:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<b><i>LXVI
CANÇÃO DO LIVRO NEGRO<o:p></o:p></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O tempo fechou. Uma fumaça negra emanou da mulher e infestou o ambiente
tornando-o sombrio e gélido. Os ossos tremeram sob seus pés e a necromante
iniciou o rito.<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Clamores das trevas, refúgio sombrio;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Almas seladas, hospedeiros do frio;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Oferta arriscada, de restos mortais;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Implante soturno, vontade jamais.<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Feliz apatia, domínio firmado;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Permuta concreta, serviço comprado.<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Círculo negro, respaldo impuro;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Controle das mentes. Eu asseguro!<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A terra tremeu. A escuridão inflou-se como um balão e em seguida
retornou, envolvendo os ossos e consumindo-os. Mariah gritou de aflição e caiu
de joelhos, enquanto Wesley assistia embasbacado o círculo negro devorar o que
sobrou da mãe de sua amada e desaparecer no ar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Pronto. – debochou a bruxa – Agora é só esperar a cavalaria chegar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Wesley que não conhecia aquele rito estranhou que nada estivesse
acontecendo imediatamente e por um minuto suspeitou que a magia houvesse
falhado, mas então ouviram ao longe gritos exasperados de revolta e selvageria
e o som inconfundível de uma multidão em movimento. O pai de Mariah foi o
primeiro a chegar. Carregava um facão de cortar cana em uma das mãos e um
punhal de prata na outra e avançou para o casal com sangue nos olhos. Aos
poucos outros colonos foram chegando. Todos carregando enxadas, foices e
ferramentas dos mais variados tipos e formaram um círculo em volta do casal que
se abraçavam e assistiam assustados aquela reunião nada acolhedora. Então
Wesley se livrou de Mariah e deu um passo a frente. O vento recomeçou a soprar
e movimentar as árvores ao redor que abaixaram e juntaram boa parte dos colonos
num abraço apertado. Gritos de fúria foram ouvidos enquanto tentavam, em vão,
se libertar dos galhos que os prendiam e os sustentavam no ar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não adianta fedelho. Posso me livrar de quantas árvores forem
necessárias. Livro-me da floresta toda se for preciso. – e tocou na árvore mais
próxima fazendo a secar e curvar, libertando o pai de Mariah e alguns colonos –
Um truque bobo desse nunca vai me impedir.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Então convocarei os elementos; chuvas, raios e granizo se for preciso.
Ou bestas do campo; cães e serpentes. Não sirvo apenas para controlar árvores.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– E como pretendo me atingir com isso. Não duvido que consiga invocar um
raio, mas não tem poder para direcioná-lo e poderia atingir qualquer um, desde
um desses colonos imprestáveis até minha inútil afilhada. E se invocar algum
animal contra mim, vou simplesmente mandar que meus homens dêem cabo dele. Você
vai ter que escolher, ou salva os colonos dos animais, ou os animais dos
colonos. – E riu descaradamente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Wesley sabia que ela tinha razão, mas não queria demonstrar na frente de
Mariah. Por outro lado a situação se tornava desesperadora. O grupo armado se
reunia novamente em volta dos dois e seus melhores trunfos haviam sido
descartados. Mariah abraçou o amigo e esperou pelo pior enquanto a bruxa movia
a tropa para atacá-los e se preparava para mais um ritual, movendo os braços e
desenhando círculos negros no ar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Digam adeus crianças, foi um prazer tê-los em minha companhia todo esse
tempo, mas... – A necromante não terminou a frase, pois um vento gélido começou
a soprar fortemente arrepiando os cabelos e agitando os presentes. Uma força
descomunal se movia ligeiramente em direção à floresta vinda dos estábulos e
todos se entreolharam como que surpresos pelo acontecimento. Wesley que
conhecia aquela energia maléfica sorriu e apontou com o dedo para o vulto negro
que se aproximava rapidamente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Agora vai ficar interessante.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O vulto tomou forma a poucos metros de onde todos se encontravam. A
necromante pareceu surpresa ao reconhecer Thomas envolto em toda aquela energia
tétrica.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ora, ora! – exclamou a madrasta – Mais um convidado para nossa festa. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Thomas riu – Então finalmente se revelou bruxa. Imaginei que fosse
esperar até a noite e tentar algo em surdina, mas nunca pensei que seria tola o
suficiente para tentar um ataque direto em plena luz do dia. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Dia ou noite. Que diferença faz? Não preciso ocultar minhas ações
quando posso controlar todos que poderiam se opor a mim. – E fez um gesto com
as mãos movendo o grupo de colonos em direção a Thomas. O necromante pareceu
não se importar, tirou a camiseta preta e empoeirada que usava e jogou sobre um
amontoado de folhas e galhos que forravam o chão do bosque.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Podem vir. Há tempos não participo de um bom corpo a corpo e já estava
ficando enferrujado – e desviou do primeiro colono que tentou acertá-lo com uma
foice, socando-o no rim direito, o velho contorceu-se e sentou no chão largando
a foice a tempo de Thomas erguê-lo com um chute no queixo – Não preciso de
magia para dar cabo desses velhos moribundos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Por um momento a madrasta pareceu preocupada com o rumo que a situação
estava tomando. Os colonos cercaram Thomas, que parecia estar se divertindo com
a situação, mas não houve tempo para mais combates. Wesley, livre de atenção,
moveu-se para o meio da disputa e comandou as árvores ao redor que, mais uma
vez, prendeu a todos, com exceção da bruxa, nos galhos mais altos de suas
copas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não precisa me ajudar. – disse Thomas irritado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não estou ajudando. Estou salvando esses homens de ti. – respondeu
Wesley – Eles são inocentes. Não devemos feri-los.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Bah! Você e sua piedade simplória. Que seja então. Vamos acabar logo
com isso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Em seguida moveu os braços e formou um círculo que desceu à terra e se
expandiu por toda a região ao redor. Fumaça negra subiu da terra e infestou o
ambiente ao mesmo tempo em que o rapaz sacou uma faca de cozinha do bolso
traseiro e fez um corte no pulso, derramando sangue no local onde o círculo
descera. Um pequeno terremoto sacudiu o local e necromante recitou com voz
grave.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<b><i>LXXXIX
CANÇÃO DO LIVRO NEGRO<o:p></o:p></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Os círculos engoliam o sangue que vertia e liberavam fumaça e cheiro de
carne apodrecida. As pupilas de Thomas dilataram e encobriram toda a extensão
dos olhos quando ele iniciou o canto.<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Sussurros da noite, gélida sorte;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Névoa sombria, serventes da morte.<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Artéria rompida, serviço comprado;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Alma rasgada e destino selado.<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Círculo negro e terreno ungido;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Força das trevas, cadáver erguido.<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Oferta de sangue, de grado, servida;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Regime imposto, pendência suprida.<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Sede maldita e fome voraz;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Controle astuto, vontade sagaz.<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Sono suspenso, sepulcro escuro;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Morte sangrenta. Eu asseguro!<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O medo tomou conta dos presentes. Wesley que apenas tinha ouvido falar
naquele canto se encolheu arrepiado enquanto Mariah o abraçava receosa do que
poderia acontecer. Um relance de terror passou pelos olhos da Madrasta que
encarou Thomas com um olhar suplicante enquanto vultos negros e gélidos subiam ao
céu e desciam à terra enquanto rodeavam o necromante bebendo do sangue que
escorria no chão. A cena grotesca durou alguns segundos e então a luz
desapareceu como se o Sol tivesse sido engolido pelas sombras. Gritos de terror
foram ouvidos enquanto o necromante se escorava no tronco mais próximo
relativamente estafado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Passos vagarosos foram ouvidos em meio a escuridão extrema. Sussurros e
grunhidos acompanhavam a tétrica marcha e gelava o coração dos presentes.
Mariah gritou abraçada a Wesley e Dalila soluçou percebendo o destino que a
aguardava.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– <span style="text-transform: uppercase;">Espere por favor</span>! –
suplicou a madrasta em meio à escuridão – Vamos entrar em um acordo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Hah! Tarde demais – respondeu Thomas – Agora que foram invocados, os
mortos precisam comer. Você sabe. Não é nada pessoal – E sorriu uma risada
macabra.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Aos poucos o tempo foi clareando e todos puderam ver o que se aproximava.
A uns cem metros de distância um grupo de mortos-vivos se arrastava lentamente
em direção ao grupo, enquanto suas vísceras e pedaços de carne apodrecida
ficavam pelo caminho. Wesley pareceu tontear com a visão e se escorou, com
Mariah, na árvore mais próxima. A mudança de atenção libertou os colonos que estavam
pendurados nos galhos acima dos presentes e todos caíram estatelados ao redor
de Dalila. A mulher aproveitou a ocasião e posicionou-os ao seu redor para
protegê-la. Thomas fungou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não vai adiantar. Eles não pararão até terem alcançado seu objetivo.
Mesmo que os faça em pedaços eles se levantarão novamente até que sua ordem
seja cumprida.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Então os detenha. – a madrasta implorou – Pare-os e eu farei o que você
quiser.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Sabe que não posso fazer isso. Eles precisam cumprir a ordem ou se
levantaram contra mim. Você conhece as regras suponho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Então mude o comando. Pode fazer isso. Ordene que comam um dos colonos,
tenho certeza que ninguém vai se importar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Mariah abriu a boca para protestar, mas Wesley balançou a cabeça
indicando que era melhor a moça não se intrometer. – Deixe por conta de Thomas
– sussurrou ele. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Enquanto conversavam os zumbis aproximavam-se perigosamente do círculo de
batalha. Alguns eram apenas ossos e frangalhos enquanto outros ainda
conservavam uma aparência humanóide. Mariah tampou os olhos e soluçou ao ver
uma criança nua acompanhando o cortejo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– E porque eu faria isso? – perguntou Thomas respondendo à madrasta.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Para dar fim a essa situação. – respondeu a mulher – Prometo libertar
todos e ir embora para sempre. Vocês nunca mais ouvirão falar de mim. – E olhou
para Mariah – Sua mãe não ia querer que você participasse disso, ela era uma
pessoa boa. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Vamos acabar com isso – Mariah
suplicou para Thomas – Nada pode trazer minha mãe de volta e se ela prometer
nos deixar em paz, não precisamos machucá-la. – e suspirou pesarosa – Você não
pode direcioná-los para outro lugar? É terrível sacrificar um animal inocente,
mas é melhor que matar uma pessoa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Eu juro que não me verão mais. – chorou a madrasta – Por favor!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Os zumbis chegaram ao cerco e confrontaram os colonos que protegiam a
necromante. O pai de Mariah partiu o mais próximo ao meio com um golpe de facão
e a criatura agarrou e mordeu sua perna ao cair, arrancando um pedaço de carne
sangrenta. Outros colonos tentavam afastá-los com paus e foices, mas os zumbis
prosseguiam mesmo aos pedaços. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– POR FAVOR – gritou Mariah – <span style="text-transform: uppercase;">Eles
vão matar meu pai.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ok! – respondeu Thomas para a madrasta – Liberte-os e eu tirarei as
criaturas daqui. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A mulher fez um gesto com a mão e todos sob seu controle caíram. Os
zumbis avançaram por cima dos corpos e cercaram a madrasta que implorava para
que Thomas cumprisse sua parte do acordo. O necromante riu sarcasticamente e
virou as costas ao ordenar as criaturas. – <span class="st1"><i><span lang="PT">Bon</span></i></span><span class="st1"><i><span lang="PT" style="color: #222222; mso-ansi-language: PT;"> Appétit</span></i></span>. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– NÃO! – A mulher gritou e foi tomada pelos corpos podres que rasgaram
suas roupas e começaram a devorar seu corpo nu – VOCÊ PROMETEUUU – uma poça de
sangue ia se formando no local em meio a pedaços de carne e restos de vísceras
que os zumbis deixavam cair por dentre seus corpos. – DEUS ME AJUDE – Os gritos
cessaram quando as criaturas rasgaram sua garganta e abriram seu peito. A cena
grotesca durou poucos instantes e as criaturas se voltaram para o lugar de onde
vieram deixando um amontoado de ossos ensanguentados e um rastro de sangue
pisado no caminho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– <i>Ainda que eu ande pelo vale da
sombra da morte, não temerei mal algum... </i>– zombou Thomas enquanto pegava o
saco que a necromante havia trazido com os ossos da mãe de Mariah e calmamente
recolhia os ossos da bruxa, limpando-os com as folhas secas que forravam o
solo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Podem ser úteis – disse em resposta ao olhar repugnante que Mariah lhe
lançava – E não precisa me olhar com essa expressão. A bruxa não tinha intenção
de libertar seu pai. Era apenas uma questão de tempo até ela voltar e assumir
novamente o controle da situação.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Como você sabe? – perguntou a jovem assustada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Porque conheço aquele encanto. Sou um necromante lembra-se. Ele só é
desfeito com a morte do mago ou com algum tipo de magia divina. Mesmo que ela
aparentemente os tivesse libertado, bastaria olhar em seus olhos novamente para
assumir o comando. E depois que fossemos embora, ela voltaria e você estaria em
maus lençóis.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ela se arrependeu no final. Clamou por Deus. – disse Mariah angustiada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Deus não iria ajudá-la. Ele não se importa com o que acontece a reles
mortais imprudentes. Devia estar mais preocupado com seu pai e os colonos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Eu estou preocupada. – respondeu a jovem olhando ao redor – Eles estão
fora de perigo agora, não estão?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Por enquanto sim. Apenas um novo encanto poderia submetê-los. – e
virou-se para Wesley – Temos que voltar à sede e dar um jeito de levar todo
esse pessoal para o hospital mais próximo. Principalmente o Sr. Abraão. Ele
perdeu muito sangue.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Mariah se moveu para o lado do pai e colocou sua cabeça no colo,
acariciando sua testa suada. Wesley seguiu o conselho do primo e buscou um
caminhão com o qual levou todos os colonos e o pai de Mariah para o hospital de
Miranda. Thomas deixou Mariah em seu quarto e se dirigiu para o pequeno
cemitério da propriedade onde constatou que todos os mortos, ou o que sobrou
deles, estavam novamente em seus túmulos e, com uma pá, enterrou a todos
novamente. Um vento gélido começou a soprar e balançou as árvores ao redor
atraindo a atenção de Thomas que olhou ao redor desconfiado enquanto uma figura
negra e fantasmagórica espreitava a atividade do necromante por trás de uma
estátua angelical e esboçou um sorriso ao constatar a identidade do seu
vigiado. A criatura esperou Thomas se retirar e voltou ao local do combate onde
tentou, sem sucesso, lamber as marcas de sangue que ficaram na terra.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
No dia seguinte todos estavam no hospital para ter notícias da saúde dos
envolvidos na disputa. Enquanto esperavam, Wesley contou que dissera aos
médicos que o grupo havia sido atacado por algum animal selvagem enquanto
participavam de uma caçada e infelizmente a Sra. Dalila Darkness fora devorada
pelo animal e nada pode ser feito para salvá-la. O Sr Abraão já estava
consciente e recebeu a todos carinhosamente. Felizmente não se lembrava do
acontecido e engoliu a história do ataque selvagem.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Muito triste o que aconteceu com sua madrasta. – disse para a filha – O
mais estranho é que nem eu, nem os colonos nos lembramos de nada. É como se
nossas memórias tivessem sido apagadas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Isso é muito comum. – disse Thomas com ar de quem entendia do assunto –
Sofreram um grande trauma. É normal que o cérebro tenha bloqueado essa memória.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O Sr. Abraão não discutiu, parecia feliz por ter receber alta do hospital
e voltou sorridente para casa. Os demais fizeram uma grande recepção quando ele
chegou e as coisas aos poucos voltaram ao normal. Mariah pagou com gosto o
combinado com os rapazes embora Wesley se negasse a receber sua parte. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não quero! – disse o ranger constrangido – Não te ajudei por dinheiro.
Fiz aquilo porque gosto de você. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Eu sei Wess. – respondeu a garota – Mas trato é trato. Aceite o
dinheiro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Thomas tomou a frente e sacou a bolsa com o dinheiro das mãos de Mariah.
– Se ele não quer, eu quero. Perdemos muito tempo aqui e não vou prosseguir com
as mãos abanando.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Wesley fez menção de reclamar, mas sabia que o primo tinha razão, então
convidou Mariah para um passeio nas redondezas enquanto Thomas contava o
dinheiro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Sabe Mary. Quando aceitei seguir nessa jornada com Thomas, não imaginei
que teria motivos para deixá-lo, mesmo conhecendo sua personalidade forte, mas
agora não tenho vontade de prosseguir. Quero ficar aqui. Com você. – e abraçou
fortemente a moça.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Também quero ficar contigo Wess, mas sei que Thomas também precisa de
você, mesmo ele não demonstrando isso. Será que ele não permitiria que eu
seguisse com vocês nessa jornada?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Viria comigo? – perguntou Wesley se afastando – Deixaria seu pai me
acompanharia nessa empreitada maluca?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Meu pai não corre mais perigo, segundo o que Thomas disse, e vocês vão
precisar de uma maga branca para ajudá-los a enfrentar esse tal <i>Adam Ocher</i> se ele for mesmo tudo aquilo
que vocês disseram. – e sorriu mostrando os dentes perfeitos – Mas se não me
quiser ao seu lado, claro que vou entender.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– É claro que quero – disse Wesley pulando de alegria – É o que mais
quero no mundo. – e abraçou Mariah novamente – Vamos contar ao Thomas, ele
provavelmente não vai gostar, mas no fim vai aceitar. Tenho certeza.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Como previram Thomas não ficou nem um pouco satisfeito com a entrada da
jovem no grupo, mas depois que Wesley ameaçou ficar na fazenda com ela, ele
aceitou a contragosto. O pai de Mariah foi mais difícil de convencer. Agora que
estava viúvo novamente, não queria perder a filha também.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Entendo que você queira passar o resto das férias com seu namorado, mas
sua madrasta acabou de falecer. Devia esperar uns dias até passar o luto para
depois pensar nisso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Mas os meninos têm que voltar
pai. Eles têm negócios na capital e não podem demorar mais. E essa casa me
deprime. Tantas lembranças da mamãe e da madrasta que quase não posso suportar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Compreendo filha. Se é assim tem minha permissão. Acompanhá-los-ia se
pudesse, pois também estou precisando de umas férias, mas não posso abandonar a
fazenda agora, porém deixe-me pelo menos levá-los até o aeroporto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Claro pai. E assim que as coisas se equilibrarem, deixe tudo e vá fazer
aquela viajem à Grécia que tanto queria. O senhor merece.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O pai concordou e todos foram arrumar as coisas. Na saída Wesley colheu
umas flores e pediu Mariah em namoro. A jovem aceitou com um beijo e os dois
seguiram de mãos dadas até o carro que os esperava para levá-los ao aeroporto
da cidade. O trajeto era longo, mas a alegria e descontração que seguiu aos
acontecimentos, aliado a perspectiva do que vinha adiante, fez com que as horas
passassem rapidamente e até o necromante se deixou contagiar pela emoção.
Wesley e Mariah cantavam uma canção qualquer e riam toda vem que a moça errava
uma parte. Thomas tentou acompanhar a cantoria, mas sua voz grave destoava dos
demais e acabou por desistir. Wesley tentou animá-lo a continuar cantando, mas
o necromante não quis. Esboçou um sorriso amarelo e virou-se para a janela
pensativo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– <i>Estamos a caminho alquimista...<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<b><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">***<o:p></o:p></span></b></div>
</div>
</div>
</div>
Feitosahttp://www.blogger.com/profile/01786865127916010920noreply@blogger.com0BR-262 - Miranda - MS, Brasil-20.235140288260332 -56.344757080078125-20.294735288260334 -56.423721080078124 -20.175545288260331 -56.265793080078126tag:blogger.com,1999:blog-9204546804128450555.post-70039050916373760582011-08-19T08:17:00.000-07:002014-11-27T12:56:06.568-08:00CAPÍTULO VII<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwYVE6cchVUA-TUwk_gunUOLgy_ibA5dgBSpVoH2qn-HOkxKd1ycMYmzKMZv6uLdSYD9f9X4MX3Ya060jRLWqIeaCOinv26NxaDAMUAbhAzVN8cpvEnaGtAomVYQNEzHhwm37LucpAUL_5/s1600/tumblr_l4awnt78501qaeaeqo1_500.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwYVE6cchVUA-TUwk_gunUOLgy_ibA5dgBSpVoH2qn-HOkxKd1ycMYmzKMZv6uLdSYD9f9X4MX3Ya060jRLWqIeaCOinv26NxaDAMUAbhAzVN8cpvEnaGtAomVYQNEzHhwm37LucpAUL_5/s320/tumblr_l4awnt78501qaeaeqo1_500.png" height="200" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<h1 align="center" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: center;">
<span lang="X-NONE" style="text-transform: uppercase;">A PROMESSA</span><span lang="X-NONE" style="text-transform: uppercase;"><o:p></o:p></span></h1>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O avião decolou e incidiu sobre o ladino<sup>9</sup> o desejo de voltar
atrás. Não gostava da ideia de invadir a GD e não tinha certeza de que os
riscos que correria valeriam a pena, mas não podia deixar passar essa
oportunidade. Estava bem acomodado na poltrona executiva, ao lado de um garoto
gordo e espinhento que, volta e meia, lançava-lhe um olhar inquisidor, espiando
por cima dos óculos de fundo de garrafa. Tinha tentado ignorá-lo desde o
momento em que encontrou e sentou em seu lugar, mas o garoto ficava mais ousado
a medida que o tempo passava e parecia incomodado com a presença do ladino ao
seu lado. <i>De todas as malditas poltronas
disponíveis nesse avião, tinha que cair logo ao lado desse bolo-fofo espinhento,</i>
pensou enquanto mudava de posição e virava as costas para o rapaz. A aeromoça
passou e ofereceu uma bebida, mas Justin recusou. Queria estar lúcido para
revisar o plano e sempre perdia as estribeiras quando bebia, então aceitou
apenas uma água com gás e um pacotinho de amendoim.</div>
<a name='more'></a> A aeromoça foi até o final
do corredor e voltou, dando um meio sorriso ao passar por ele. Justin devolveu
o sorriso e colocou o pescoço para fora da poltrona para ver melhor. Fingiu um
pigarro e deu uma piscadela quando a moça olhou para trás. A aeromoça era loira
e alta. Tinha olhos azuis vividos e maquiagem carregada, típico das comissárias
de bordo. Justin, por sua vez, era negro, alto, olhos negros e o cabelo
arranjado em várias tranças, ao estilo rastafári. Seu rosto fino e ossudo
aliado aos caninos proeminentes lhe conferia uma aparência lupina,
principalmente quando sorria e exibia a dentição perfeita. Estava bem vestido;
com blazer preto e calça preta, camisa branca de seda e sapato mocassim. Um
brinco de prata reluzia em sua orelha esquerda, com um L de ouro pendurado,
simbolizando a classe dos ladinos e um anel de ferro grosseiro com um ônix
incrustado indicava que Justin pertencia a antiga família Brow.<o:p></o:p><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Abriu a bolsa que carregava a tiracolo e examinou o estranho artefato
embrulhado em papel jornal. Era um objeto negro, que refletia parcialmente a
luz, formando um vulto escuro sobre os olhos do rapaz. O garoto nerd que
compartilhava a poltrona com ele esticou o pescoço na esperança de ver o que
havia atraído a atenção do ladino, mas Justin fechou a bolsa rapidamente
lançando um olhar de censura e repulsa para o jovem, que recuou intimidado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Perdeu alguma coisa aqui quatro olhos? – perguntou encarando o rapaz – Se
não, vire essa cara purulenta para a janela antes que eu a enfie no saquinho de
vômito.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O garoto virou o rosto para a janela e permaneceu assim pelo resto da
viagem. Justin esperou o avião pousar e desceu, esperando a aeromoça que se
despedia dos passageiros. Ela esperou até o último descer e se dirigiu a ele
com um sorriso no rosto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Fez boa viagem senhor? – perguntou puxando conversa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Muito boa senhorita. Como é seu nome por obséquio?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Lia. – respondeu a jovem lançando lhe um olhar inocente. – E o seu? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Muito prazer Lia. Meu nome é Justin Brow e estava pensando se seria
muita ousadia de minha parte convidá-la para jantar?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A moça sorriu e aceitou o convite. Trocaram telefones e algumas palavras
e, no final, Justin combinou de pega-la às 20:00 horas e foi para um hotel
indicado pelo taxista que o recebeu na saída do aeroporto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Pretende ficar muito tempo na cidade <i>monsieur</i>? – perguntou o taxista tentando puxar conversa. Falava
inglês, mas seu sotaque carregado fez Justin percebeu que era novo no ramo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não tenho certeza. Tenho uns assuntos para resolver aqui, mas não imagino
quanto tempo demorará. A propósito pode falar francês comigo. Seu sotaque é
péssimo e feri meus ouvidos – contrapôs Justin. Uma característica dos <i>magos, </i>independente de sua classe, era a
capacidade de falar e entender a maioria das línguas e Justin usava essa
qualidade para dar um ar de culto e impressionar as garotas, no entanto, dessa
vez, usaria a habilidade para algo necessariamente útil.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Desculpe senhor – respondeu o taxista em francês – Se quiser posso
indicar uns lugares para o senhor visitar. Paris é muito aconchegante no outono
e os cafés ficam lotados...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Como é seu nome taxista? – perguntou, interrompendo a indicação do
rapaz.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– François senhor. Como eu ia dizendo...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Obrigado François, mas dispenso a indicação. Tenho assuntos mais
importantes para pensar no momento e não quero desperdiçar meu tempo com cafés
– falava com desdém como se a conversa com um taxista não fosse de seu
interesse. O Francês percebeu a pouca vontade de seu passageiro e encerrou o
assunto até o ladino puxar um maço e acender um cigarro, soltando uma baforada em
sua direção.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não pode fumar aqui senhor – disse o taxista calmamente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Porque não? – retrucou Justin.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– São as regras senhor.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Que o demônio leve suas regras! – respondeu com pouco-caso e continuou
a fumar e jogar baforadas na direção de François. O taxista ainda resmungou
algo, mas logo desistiu de reclamar e acelerou bruscamente o carro na esperança
de se livrar logo do cliente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– São oito euros senhor – disse assim que chegaram ao seu destino.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Fique com o troco – respondeu Justin ao jogar doze dólares sobre o
banco do carona e sair do carro com as malas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O taxista arrancou deixando o ladino na entrada de um grande e luxuoso
hotel. Justin anotou o número do serviço de taxi escrito na traseira do veículo
e se dirigiu à entrada. O saguão era todo dourado, com pilares sustentando o
teto abobadado e no chão, um enorme carpete felpudo forrava o assoalho. Justin
entrou e falou com o <i>concierge</i> para requisitar a suíte que tinha
reservado e o carregador de bagagens levou suas coisas para o aposento. O rapaz
deixou as malas na entrada do cômodo e voltou para a porta a espera de uma
gorjeta, mas Justin bateu-lhe a porta na cara e levou seus pertences para o
quarto. Desfez as malas e tomou um banho rápido enquanto pensava no compromisso
que tinha marcado com a aeromoça. Não contava com esse contratempo, mas não
podia deixar passar uma belezura como aquela. Saiu do banho e vestiu-se para o
encontro e como ainda não passava das 19:00 horas, serviu-se de um uísque para
matar o tempo e relaxar. Sentou-se no sofá e tomou um trago enquanto pensava no
último objeto que tinha roubado e ressentiu-se por usar a irmã para alcançar
seu objetivo, mas o disfarce que usara era infalível e a irmã provavelmente não
teria problemas com a justiça. Largou o copo no canto do sofá e foi até o
espelho conferir o visual. Estava usando um blazer preto e camisa branca, com
calça e sapato preto. Não gostava de se vestir como um pingüim, mas a ocasião exigia
vestimenta a rigor, então deu mais uma arrumada no cabelo, conferiu o dinheiro
na carteira e saiu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A noite estava quente e o <i>concierge</i> perguntou se
ele desejava um taxi, mas Justin recusou. Não gostava de depender de outras
pessoas e criar laços poderia ser perigoso quando se é um ladrão, sendo assim retirou
o celular do bolso e ligou para o número que havia anotado anteriormente, mas
desta vez quem atendeu foi uma mulher.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Boa noite, em que posso ajudá-lo? – disse a voz em francês do outro
lado da linha.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Boa noite. Preciso de um taxi. Estou em frente ao hotel <i>Le Luxe</i> e estou com um pouco de pressa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Muito bem senhor. Já estou enviando um taxi para pega-lo. Obrigado pela
preferência – e desligou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Justin acendeu um cigarro e esperou o taxi que chegou rapidamente. O
motorista não era o mesmo da corrida anterior e não deu importância ao fato do
ladino entrar fumando no interior do veículo. Também não tentou puxar assunto,
apenas perguntou o destino fazendo com que Justin se lembrasse que ainda tinha
que ligar para a aeromoça para saber onde pega-la. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Só um minuto – respondeu ao taxista e ligou para Lia.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Oi – foi a resposta do outro lado da linha.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Oi Lia, aqui é o Justin, o cara do avião. Já posso passar para pega-la?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ah! Olá Justin. Eu estou pronta. Pode me pegar aqui no alojamento da
Airpress Company.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ok. Estou indo para aí, beijo gata.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Beijinhos. Tchau.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Justin desligou e indicou ao taxista o local onde deveria pegar sua
acompanhante. O rapaz arrancou com o taxi e tomou uma direção contrária a do
GPS, o que deixou Justin indignado, mas o taxista avisou que ia pegar uma rota
alternativa para fugir do trânsito daquele horário e assim chegar mais depressa
ao seu destino, porém no caminho um pneu do taxi furou e gerou um pequeno
atraso na corrida, o que deixou o ladino irritado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Meia hora depois o taxi encostou em frente ao alojamento e a aeromoça
entrou. Já estava esperando o rapaz a um bom tempo, mas não demonstrou
irritação, ao contrário de Justin, que acusou o taxista de incompetência.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Em poucos minutos chegaram ao restaurante. O local era requintado, com as
mesas dispostas de maneira à deixar os clientes de frente para o palco, onde um
cantor de blues animava a platéia. Lia achou curioso o formato da mesa, quase
como um triângulo, e comentou que devia ter algum significa maçom, mas Justin
desconversou e chamou o garçom para pedir o menu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O jantar correu sem contratempos. A moça era extrovertida e não faltava
assunto para os dois conversarem. No final Justin convidou-a para conhecer seu
apartamento e tentou disfarçar uma surpresa com a resposta afirmativa da
aeromoça. Como todo conquistador, esperava alguma resistência por parte dela e
a facilidade com que as coisas ocorreram tirou um pouco a expectativa do rapaz,
mas acreditou que a sorte estava ao seu lado e decidiu não questionar. Chamou o
garçom, pagou a conta e saíram.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O taxista aguardava do lado de fora e pareceu surpreso com o pouco tempo
que o casal gastou para jantar, mas não fez nenhum comentário para evitar uma
resposta mal-humorada do ladino. Abriu a porta para os passageiros, entrou no
táxi e arrancou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Em poucos minutos chegaram ao hotel e dispensaram o taxista. Lia fez um
comentário sobre a imponência do lugar e quanto custaria a diária num hotel
como aquele, mas Justin se limitou a desconversar. Pegaram o elevador e,
enquanto subiam para o quarto, a moça aproveitou que estavam sós para se atirar
nos braços do rapaz. O ladino aproveitou a deixa e desabotoou a blusa da moça, enfiando
a mão sob o sutiã e apertando o seio firme da aeromoça, que se afastou sorrindo
e fechando os botões. Entraram no apartamento e Justin serviu uma bebida para Lia
que tomou um trago e derramou o restante sobre os seios, tornando a blusa
parcialmente transparente. Justin tirou a camisa, mostrando o tórax bem
definido e se jogou sobre ela, derrubando-a no sofá, enquanto beijava seu
pescoço e abria novamente os botões de sua blusa. Em poucos minutos estavam no
quarto e as roupas amontoadas aos pés da cama.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O encontro se arrastou noite adentro e quando Justin deu por si estava
amarrado à cabeceira da cama, com os olhos vendados e com Lia a pingar vela
derretida em seu peito. Tentou forçar os braços e se soltar, mas as amarras
estavam bem presas e sua tentativa só serviu para que a moça aumentasse os
castigos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Quieto aí cãozinho. – disse Lia com voz dominadora – Não adianta tentar
se soltar. Você não vai sair daqui enquanto mamãe não quiser que você saia. – e
torceu o mamilo de Justin fazendo com que ele arrebentasse as amarras e se
jogasse, furioso, em cima da aeromoça. Lia o abraçou, virando por cima e o
mordendo no ombro enquanto o Justin puxava seus cabelos e a estapeava nas pernas
e na bunda. A brincadeira terminou no
banheiro, onde tomaram um banho e conferiram os hematomas. Lia ria da situação
enquanto o ladino contava as marcas no corpo e prometia se vingar na próxima
vez que se encontrassem. O vapor do banho quente encheu o banheiro e embaçou o
vidro do box onde a moça desenhou um coração e escreveu o nome dos dois, cruzando-os
com uma flecha. Justin a abraçou e disse que não queria ficar apenas naquela
vez, que queria vê-la de novo e Lia o beijou, prometendo que se encontrariam de
novo. Ficaram no chuveiro até a pele dos dedos da moça começar a enrugar, então
voltaram para o quarto, acenderam um cigarro em cima da cama e fumaram enquanto
conversavam sobre as viagens que fariam e os lugares que visitariam quando
estivessem de férias. Lia deitou sobre o peito do ladino e o acariciou enquanto
Justin alisava seus cabelos loiros, até que vencidos pelo cansaço, adormeceram.
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A madrugada seguia silenciosa do lado de fora do apartamento, mas Justin,
acostumado com a vida de risco, ouviu, meio dormindo, um barulho de algo se
movendo em seu quarto. Abriu os olhos lentamente e viu Lia, nua em pelo,
vasculhando suas coisas. A moça abriu as gavetas e remexia nas malas a procura
de algo, que o ladino não tinha certeza do que seria. <i>Dinheiro não pode ser</i>, pensou. Sua carteira estava no bolso de trás
da calça e ela já havia revirado suas roupas, então só poderia ser sua mais
nova aquisição e a aeromoça; uma agente de algum grupo místico interessado nos
artefatos. <i>Estava fácil demais, eu devia
ter desconfiado</i>, e tossiu levemente, dando um susto em sua companheira. A
moça se recompôs e sentou-se na beirada da cama, vestindo a calcinha e a calça
rapidamente, indo em seguida para a sala onde terminou de se vestir. Amarrou os
cabelos e deu uma última olhada para o ladino espichado sobre a cama e saiu,
batendo a porta atrás de si. Justin levantou, trancou a porta e se dirigiu ao
banheiro, tirando um embrulho de dentro da caixinha de descarga e lavando-o na
pia. Uma forte batida na porta atraiu a atenção do ladino que correu para
guardar o embrulho em sua bolsa de viagens e esconde-la embaixo da cama, depois
vestiu as roupas e foi até a porta ver o motivo da interrupção. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Desculpe Senhor – disse o carregador de bagagens – mas a moça que o
acompanhava saiu correndo pela área de serviços e roubou o carro de um dos
cozinheiros, o gerente mandou acordá-lo para perguntar se o Senhor poderia nos
dar uma explicação sobre isso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Meu Deus, como pode ser isso! – respondeu o ladino fazendo cara de
espanto – Estou tão surpreso quanto vocês, mas se quiser posso conversar com
seu chefe e prestar depoimento. Imagino que já chamaram a polícia não?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
–Imagino que sim Senhor. Então pode me acompanhar, por favor?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Com certeza. Só um minuto que vou calçar os sapatos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O carregador assentiu com a cabeça e Justin voltou para o quarto e abriu
sua bolsa, tirando o embrulho e o escondendo dentro das calças, em seguida foi
até a sala e calção os sapatos e, antes de sair, pegou uma máquina fotográfica
antiga de cima da estante, pendurou-a no pescoço e saiu. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O moço ia na frente mantendo um silencio constrangedor e Justin seguia
logo atrás mexendo em sua máquina fotográfica. O rapaz notou o comportamento do
ladino, mas imaginou que a câmera continha alguma foto da moça e que ele a
estava levando para ajudar na identificação e possível captura da ladra, porém
Justin cutucou-lhe o ombro e assim que ele se virou, tirou uma foto, provocando
uma cegueira momentânea e fazendo com o rapaz perdesse o equilíbrio e caísse. Tentou se levantar escorando na parede e abriu
os olhos lentamente, bem a tempo de ver uma cópia idêntica de si, armando um
soco e acertando-o acima da fronte, fazendo com que tombasse novamente,
totalmente desacordado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Justin voltou ao quarto arrastando o corpo inerte do carregador e jogou-o
no banheiro, ao lado do vaso sanitário. Enquanto trancava a porta, tentava não
pensar que seu plano quase fora por água abaixo por causa de uma
distraçãozinha, mas a consciência martelava lhe a cabeça alertando que ainda
não saíra do hotel e as coisas ainda poderiam dar errado. Voltou ao quarto, arrumou
suas malas e ligou para o taxi pega-lo em frente o hotel. O disfarce deveria
servir para sair do estabelecimento sem contratempos, mas temia que a polícia
já estivesse no local, o que poderia piorar as coisas. Não que a cadeia o
preocupasse. Já fora preso antes e fugira sem dificuldades, mas o tempo que
perderia e os objetos que carregava poderiam complicar a situação. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Fechou a porta e saiu. O corredor ainda estava deserto então não teve
dificuldades em chegar ao saguão e já ia saindo com as malas quando ouviu o <i>concierge</i> chamá-lo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Onde vai Pierre? Não lhe mandei buscar o Senhor do 205?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Justin que não esperava por aquilo e tentou improvisar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ele já está a caminho Senhor. Apenas me pediu um tempo para se vestir e
colocar as ideias em ordem. Enquanto isso me dispus a carregar as malas do
casal do 204 que partem dentro de meia hora.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Tudo bem então, mas assim que terminar com isso volte ao quarto e o
conduza até o escritório. A polícia logo
chegará e vai querer ouvi-lo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Sim senhor. – respondeu Justin, e saiu para o estacionamento.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O táxi já o esperava quanto chegou a rua. Deu uma olhada ao redor para
conferir se ninguém o vira voltar ao normal e entrou no automóvel. O taxista,
que era o mesmo da primeira vez, perguntou o destino com seu sotaque carregado
e o ladino respondeu apenas para ele seguir em frente até sair da cidade e
adentrar a área rural.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O dia já estava amanhecendo quando o taxista o deixou na estrada de chão
que dava acesso ao campo. Justin abriu uma das malas na grama que margeava a
estrada e retirou uma mochila de pano, tipo militar, na qual guardou alguns
pertences: roupas, e calçados leves e sua câmera fotográfica antiga, depois
retirou o embrulho que carregava nas calças e o guardou num dos bolsos laterais
da mochila. Abriu a outra mala e retirou uma barraca desmontável, uma garrafa
de água, faca, lanterna e alguns apetrechos culinários. Prendeu a barraca numa
fivela que tinha na base da mochila e guardou o restante, estufando a bolsa ao
limite. Trocou de roupa e jogou as malas com as roupas caras na grama alta ao lado
da passagem e seguiu viagem a pé. A estrada era larga e bem delineada e um
vento fresco que soprava do leste facilitava a caminhada, balançando as tranças
do ladino e levantando folhas que repousavam sob as árvores. Aos poucos o sol
foi esquentando e Justin procurou um riacho para tomar banho e preparar uma
refeição, mesmo sabendo que seria difícil avistar alguma coisa daquele ponto do
caminho. Pensando assim, deixou a estrada e se embrenhou na mata fechada até
encontrar um lago de águas profundas e frias. Já passava das quinze horas e
decidiu montar acampamento e comer alguma coisa. Juntou algumas pedras e acendeu
um fogo, deixando a água esquentando, enquanto montava a barraca e tomava banho.
Quando voltou a água já fervia no caldeirão e os galhos, que usou como suporte,
estavam quase consumidos pelas chamas. Trocou o suporte e preparou uma sopa com
legumes e macarrão instantâneo e usou o resto das brasas para assar um milho.
Comeu a sopa e guardou o milho para o jantar, já que não pretendia acender fogueira
a noite para não chamar atenção. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O restante do dia correu tranquilamente. Justin revisou seu plano e
conferiu os artefatos. Estava preparado para o grande dia e mal podia esperar
para rever a GD. Ouvia-se todo tipo de historias sobre ela; de como a magia era
ensinada a todos os aptos, sem distinção de cor, raça, credo ou classe. Todos
eram bem vindos naquele lugar. Seus alunos sempre se destacavam no mundo dos
homens e seus feitos deixavam os anciãos dos círculos mágicos morrendo de
inveja. Podia se encontrar todo tipo de pessoa ali: alquimistas, necromantes,
bardos, rangers, cabalistas, paladinos e ladinos. Justin já conhecera um Mestre
da GD e ainda carregava consigo uma das grandes invenções do sujeito. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A noite chegou rapidamente e com ela, nuvens de mosquitos advieram sobre
o ladino tirando-lhe o sono e nada do que fazia parecia afastá-los, então saiu
para o luar e deu um mergulho para abrandar a coceira no local das ferroadas. A
noite estava linda, com um céu claro e lua cheia que refletia nas águas
plácidas do lago e emanava uma paz tranquilizadora, apenas o piado de uma
coruja e o cricri dos grilos quebravam a calma do lugar. Nadou durante algum
tempo e voltou para a barraca, comeu o milho assado que havia guardado e
deitou. Os mosquitos ainda estavam por ali, zunindo e picando, mas apesar da
perturbação e do incômodo conseguiu dormir um pouco.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
No outro dia, acordou cedo, desmontou o acampamento e voltou para a
estrada. O sol começava a esquentar quando finalmente avistou a GD. O prédio
era enorme e lembrava um castelo medieval, mas com uma arquitetura moderna. As
paredes eram de pedra escura, mas não tinha torres como os castelos antigos,
apenas colunas, grossas como troncos de carvalho e uma marquise que delimitava
o segundo andar. O nome “GD” estava destacado em grandes letras de metal polido
e ao redor das letras, uma rosa vermelha marcava o centro de uma cruz de aço
levemente inclinada. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Em volta do prédio principal se erguiam vários menores, com aparência de
alojamentos e grandes obeliscos demarcavam a área de cada um. Mais ao fundo da
propriedade, um prédio menor se destacava e, ao redor dele, áreas alagadas cortavam
os campos e formavam uma espécie de pântano, onde se cultivava arroz e ceva de
peixes. Na frente, do lado esquerdo das construções, via-se campos e pastagens
onde bois e carneiros pastavam despreocupados e do lado direito, continuava a
reserva florestal banhada pelo lago que vinha até bem próxima das construções. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A fazenda era enorme e da estrada Justin teve apenas um vislumbre de toda
sua magnitude. Pessoas se movimentavam ao redor do prédio principal e o vai e
vem constante lembrava a agitação dos grandes centros urbanos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Justin sentou-se na beira da estrada e acendeu um cigarro para se
preparar para a invasão. Precisava se disfarçar de aluno, mas chegar próximo o
suficiente para bater uma foto seria muito arriscado com toda aquela agitação
ao redor do local e se fosse pego seu plano iria por água abaixo. Pensava com
seus botões quando ouviu o som de algo se aproximando estrada acima. Era uma
carroça de madeira puxada por bois e seu dono parecia se dirigir a GD com
provisões e ferramentas, pois tomou Justin por um aluno desgarrado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Bom dia – disse o carroceiro – O
senhorzinho está aguardando para me ajudar com os mantimentos ou só deu uma
fugida para matar aula?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O homem parecia acostumado a encontrar alunos matando aulas nas estradas
e seu tom de censura irritou um pouco o ladino.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Quem dera estivesse matando aula. –
respondeu com irritação na voz – Aqueles velhos desgraçados me mandaram aqui,
nesse sol escaldante, para servir de burro de carga e carregar as mercadorias
para o depósito. Isso sempre acontece comigo, deve ser por que eu sou negro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Deixe de bobagens rapaz –
respondeu o carroceiro censurando-o – Se tem uma coisa que não existe aqui é
preconceito. Já faz mais de 10 anos que faço entregas pra eles e nunca vi
nenhum menino ou menina sendo destratado por causa da cor.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Justin ainda resmungou alguma coisa para disfarçar, mas aproveitou a
oportunidade para entrar na GD sem ser notado. O velho carroceiro encostou a
carroça nos fundos, perto do depósito, e gritou para outro menino, que
conversava com um grupinho de meninas, para ajudá-los a descarregar. O rapaz
era louro e aparentava uns 14 anos, mas a barba rala que cobria o rosto e o
timbre de voz mais grave indicavam que era um pouco mais velho. Fez uma cara de
pouco amigos quando foi selecionada para descarregar as mercadorias, mas não
reclamou. O depósito era enorme, com várias caixas empilhadas ao redor de
pilares que sustentavam o teto e fardos de café amontoados nos cantos, ao lado
de sacos de feijão graúdo, arroz e outros cereais. Ao lado da porta ficavam uns
carrinhos de ferro com rodinhas, usados para transportar as caixas e sacos e,
mais ao fundo, um painel forrado de ferramentas cobria toda a parede.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O velho se dirigiu até o prédio maior, para conversar com os Mestres e
deixou os dois meninos trabalhando. Justin aproveitou a deixa e assim que ficou
sozinho com o garoto dentro do depósito, tirou sua câmera e bateu uma foto do
menino. Automaticamente a luz voltou para a câmera e se projetou sobre o ladino
que assumiu a forma e as roupas do aprendiz, que assistia a tudo atônito. O
garoto só fez menção de gritar quando Justin se lançou sobre ele e o amordaçou
com uma tira de pano e pedaços de cordas, arrastando-o e o amarrando a um pilar
atrás das caixas mais antigas que forravam o fundo do depósito. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O carroceiro voltou poucos minutos depois e perguntou por Justin, que
teve que inventar uma desculpa dizendo que o outro menino tinha aproveitado a
ausência dele para fugir do serviço. O velho pareceu acreditar na conversa e
assim que todas as caixas e ferramentas foram descarregadas e guardadas, seguiu
seu caminho estrada afora. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Justin se dirigiu até o grupo de meninas que ainda conversavam perto do
depósito. Precisava descobrir mais coisas sobre o garoto do qual roubara a
aparência e se fingir de bobo sempre funcionava, pensando assim chegou até as
meninas e suspirou, fazendo cara de cansado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– O que foi Michael, por que essa
cara de desânimo? – perguntou uma garota indiana. Seu rosto era fino e gentil e
seu cabelo, arranjado em tranças, descia até a cintura. Usava roupas típicas da
Índia, amarela e vermelha, que contrastava com sua pele morena e bem cuidada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
As outras meninas riram enquanto o ladino pensava numa explicação. Por
sorte apareceu um homem de meia idade que fez com que todas se calassem. Vestia
uma toga, azul e amarela, com uma listra dourada cortando o traje de cima a
baixo. Seu rosto sereno emanava tranquilidade e poder, e seus olhos eram a
coisa mais perturbadora que Justin tinha visto. Era como se olhasse através do
corpo e enxergasse a alma do indivíduo, seus pensamentos, medo e desejos. Ele
fixou o olhar no ladino e, por um momento, Justin acreditou que seu disfarce
viria a baixo, mas o homem sorriu e abaixou a cabeça cumprimentando a todos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Mestre Matheus. – disse a garota indiana com reverência, e todas se
curvaram em sua presença. Justin imitou a reação das meninas e se curvou,
olhando de rabo de olho para o sábio<sup>10</sup> que se apresentava diante
deles. Mesmo com a reação amistosa o ladino estava perturbado, tinha a
impressão que aquele olhar revelara os desejos mais íntimos de sua alma e que
nada lhe ficaria oculto se ele quisesse. Tentou se recompor esfregando as mãos
suadas na calça antes de erguer a cabeça e voltar a encarar o Mestre. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– É bom vê-lo novamente Michael. –
disse Matheus coçando a barba bem aparada – Mestre Jeú não gostou das cores que
você escolheu para suas cortinas, você sabe como ele é. Então gostaria que você
mudasse para cores mais claras, um azul claro ou amarelo. O que acha? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ok Mestre – respondeu Justin com um sorriso tímido. Os olhos azuis de
Matheus se fixaram em Justin de tal maneira que o deixaram tonto – Vou trocá-las
assim que me restabelecer. Fiz muito esforço descarregando as mercadorias e não
estou passando muito bem.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não tenha pressa. Aproveite para tomar um banho e descansar um pouco. –
e virou-se para a garota indiana que estava ao seu lado – Nádia pode ajudar Michael
a tomar banho? Não queremos que ele desmaie no banheiro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Tudo bem Mestre. Eu já ia tomar banho agora mesmo. – e pegou na mão do
ladino – Vamos Michael. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A garota saiu arrastando Justin em direção as banheiros que ficavam ao
lado dos dormitórios. Eram vários e se dispunham lado a lado com os quartos,
com uma porta para fora e outra para dentro, podendo ser usados tanto por quem
estava no pátio, como por quem estava no quarto. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Nádia entrou e começou a tirar a roupa enquanto ria e perguntava o motivo
do assombro do ladino com relação a sua nudez. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– O que foi Michael? Até parece que você nunca me viu sem roupa. – Justin
não respondeu de imediato, apesar de saber que a nudez era considerada normal
na GD. O fato de estar nu ao chuveiro com uma garota o fez lembrar-se de Lia e
seu corpo bronzeado e em que fim teria tomado a aeromoça e, por alguns
instantes, pensou em voltar e investigar o paradeiro da moça e o motivo que a
levara a tentar roubá-lo. O pensamento fugiu de sua mente quando a garota
indiana sentou no vaso sanitário para urinar e pediu ao ladino para virar de
costas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não consigo se tiver alguém
olhando. – justificou-se enquanto o ladino virava de costas e começava a se
esfregar embaixo do chuveiro<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Pode virar agora, já acabei – disse depois de alguns instantes e entrou
no chuveiro com o rapaz. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Justin sabia que todos os aprendizes tomavam banho juntos e dividiam os
dormitórios, sendo que não havia divisões quanto ao sexo. No entanto, relações
sexuais eram proibidas sob pena de expulsão e apesar de muitas vezes os Mestres
e Companheiros fazerem vista grossa sobre o assunto, preferiu não se arriscar e
manteve uma distância segura da garota durante todo o banho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Você não respondeu minha pergunta. – disse Nádia provocando-o enquanto
enxaguava os cabelos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não é nada – respondeu por fim, enquanto contemplava o corpo nu e
depilado da garota – É que o Mestre Matheus parece revirar minha mente toda vez
que olha para mim. Isso é perturbador. – resmungou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Nádia riu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ele é assim mesmo, você já deveria estar acostumado. Só não entendi a
brincadeira que ele fez com você a respeito das cortinas. Ficamos todos
boiando.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não entendi. Que brincadeira?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ora! Sobre as cores das cortinas. Como você sabe Mestre Jeú não enxerga
a pelo menos doze anos e apesar de toda a sua sensibilidade ele nunca
reclamaria da cor das cortinas. O que Matheus quis dizer com aquilo?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Justin assustou-se.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Espera aí! Mestre Jeú é cego? – Uma sensação de insegurança percorreu o
corpo do ladino. Sabia que a “brincadeira” de Matheus não era apenas uma
brincadeira. Ele fora descoberto e precisava agir rápido para completar sua
missão. Há essa hora já deveriam estar esperando para prendê-lo do lado de
fora.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Credo Michael! – protestou Nádia – Você está estranho mesmo heim. É
claro que Mestre Jeú é cego. Você mesmo me disse isso quando entrei aqui. – e
pegou uma toalha para se enxugar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Preciso ir. – respondeu Justin apavorado – Depois a gente conversa
mais. Lembrei de algo que não posso adiar. Tchau. – E vestiu as roupas com o
corpo ainda molhado saindo em seguida.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Ao contrário do que imaginava, não havia ninguém para prendê-lo do lado
de fora do banheiro. Tudo transcorria normalmente e por um momento suspeitou
que houvesse se enganado a respeito de Matheus. Aproveitando a situação, se dirigiu
para o prédio central da GD, onde ficavam as salas de aulas e os dormitórios
dos Mestres e Companheiros, assim como os refeitórios e ala histórica com museu
e teatro. Ninguém pareceu estranhar quando ele perguntou onde poderia encontrar
o Mestre Jeú. Sabia que Jeú era o Mestre supremo da GD e se pudesse se
disfarçar dele, todas as portas se abririam. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Foi encontrar Jeú em sua sala de diretor tomando uma taça de uma bebida
amarela que lembrava vinho de pêssego. O lugar era enorme e se assemelhava a uma
sala de reuniões. Tinha uma grande mesa de mármore a frente e varias cadeiras
luxuosas dispostas ao redor. Na cabeceira ficava a maior delas e, balançando
nela, estava um velho quase careca, com o rosto enrugado e membros flácidos.
Seus olhos pareciam perdidos e ele pressentiu a presença do ladino, virando o
rosto lentamente para sua direção.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Quem está aí? Não estou reconhecendo muito bem cheiro. É você Nádia?
Seu sabonete indiano parece estar vencido querida.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Justin não respondeu. Tirou a câmera do bolso da calça e disparou o
flash, fazendo com que o velho tombasse da cadeira e derrubasse a bebida no
carpete.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Acho que me enganei. – lamentou o velho – Pelo clique parece uma de
minhas câmeras copiadoras, mas que me lembre elas não copiavam o cheiro. Como
conseguiu imitar o cheiro da Nádia ladino?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Isso não interessa para você velho. Agora fique quietinho aí até que eu
faço o que vim fazer aqui e saia em segurança. – respondeu Justin.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O velho tossiu por alguns instantes enquanto o ladino amarrava seus braços
e o arrastava para o banheiro do aposento.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não poderá sair em segurança meu filho. Sinto muito, mas você já foi
descoberto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Cale a boca velho, ou teria que amordaçá-lo. Não tenho muito tempo e
não hesitarei em nocauteá-lo se for necessário. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não será necessário. Não será necessário – respondeu o velho
deitando-se no chão gelado do banheiro e tossindo um pouco.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Justin saiu apressado da sala do diretor e conferiu o mapa. Ele não
mostrava a cabine do diretor, nem os aposentos dos Mestres, mas mostrava o
museu e o anfiteatro, onde o ladino começou a procurar o objeto que viera
roubar. Após alguns instantes de busca infrutífera, Justin voltou para a sala
do diretor e pressionou Jeú sobre a localização do artefato.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Onde está o brinco velho? Juro que o esmurrarei se não me contar. – tentou
se mostrar ameaçador para convencer o velho Mestre a lhe dar a informação que
desejava, e assim, adquirir o que viera buscar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– A violência não será necessária meu filho. – respondeu o velho
suspirando – O objeto que procura está no armário da sala, dentro de um pequeno
cofre dourado. Era muito perigoso deixá-lo no museu ou em qualquer outro lugar,
mas não recomendo que o roube. O brinco devasso pode ser muito perigoso para
aqueles que pretendem usá-lo para objetivos egoístas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– O que vou fazer com ele não é de sua conta velho. – e correu de volta
para a sala, voltando em seguida com um cofre dourado. Podia tentar arrombá-lo
ou descobrir a combinação, mas estava sem tempo e cabeça para pensar então
entregou-o ao velho ordenando:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Abra!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O velho se remexeu no piso e virou o rosto para o ladino.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não posso abri-lo criança, você me prendeu os braços.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Então me diga a combinação.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não é tão simples assim. Está lacrado com magia. – respondeu Jeú e tossiu
mais algumas vezes.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O ladino puxou os braços do velho e cortou as amarras com uma faca que
carregava a tiracolo. O velho pegou o cofre e desenhou um pentagrama com o
indicador, provocando uma fina luz amarronzada que seguia seu dedo e circundava
o desenho. O círculo se expandiu e a luz do pentagrama se espalhou sobre o
cofre ao mesmo tempo em que o velho o levou aos lábios e recitou uma oração. Justin
não ouviu as palavras proferidas, mas ouviu um <i>clique</i>, indicando que a porta do cofre se abrira e revelara seu
conteúdo. Rapidamente tomou o objeto das mãos do idoso e observou seu interior.
La no fundo um brilho dourado iluminou a sala e Justin sorriu de emoção ao
retirar um brinco de ouro e guardá-lo no bolso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não vai adiantar. – resmungou o velho – Não conseguirá sair com ele
daqui.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Veremos. – respondeu o ladino e saiu, fechando a porta do banheiro
atrás de si. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Agora que já conseguirá o artefato, só lhe restava deixar a GD sem ser
visto e tudo sairia como planejado. Decidiu voltar ao deposito e assumir a
aparência de Michael novamente, pois seria muito mais fácil para um aprendiz
deixar a GD sem dar explicações, do que para o Mestre supremo do lugar.
Pensando assim tomou o corredor que daria para a saída quando viu Mestre
Matheus trancar-lhe a passagem. Seu rosto não demonstrava sinais de ter
descoberto a farsa e pensou que tinha superestimado as habilidades do Sábio. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Onde pretende ir a essa hora Mestre Jeú. Não tínhamos combinado uma
reunião para agora.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Sim – respondeu o ladino – Mas antes preciso ir ao depósito para
averiguar se todas as mercadorias foram empilhadas corretamente. Sabe como são
os aprendizes, nunca fazem o serviço direito.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– É verdade Mestre. Eu sei como são os aprendizes, mas sei também que o
senhor arrasta uma das pernas há pelo menos doze anos, desde que perdeu a visão
e os movimentos da perna esquerda com a explosão do seu laboratório. Sei também
que o senhor não verifica o depósito desde os tempos de Companheiro e sei até o
que se passa em sua mente agora ladino. Sei que está pensando em um modo de
escapar e fugir como o artefato que roubou, mas devo dissuadi-lo a fazer isso.
Não há fuga da GD. Se conhecesse realmente o lugar saberia disso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Justin não esperava ser desmascarado a caminho da saída, mas não era do
tipo que desistia de alcançar suas metas. Encarou Matheus e sorriu seu sorriso
de lobo, apagando a foto de Jeú e assumindo sua verdadeira aparência.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– É o que veremos Mestre! – sabia que a saída não estava longe e se
conseguisse se misturar a multidão poderia se disfarçar novamente e alcançar o
campo sem levantar suspeitas. Uma vez fora da GD nunca mais o pegariam, porém
seu plano só poderia ser posto em prática se passasse pelo Sábio e ele não
parecia disposto a colaborar. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Virou-se para a outra ponta do
corredor e fez menção de correr, mas outros Mestres e Companheiros chegaram,
trancando as vias de saída e reduzindo suas chances de fuga.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Desista ladino. Não há saída. – disse um Mestre gorducho às costas de
Justin. Alguns alunos também se aproximavam para ver o que estava acontecendo e
se surpreenderam ao ver que alguém havia tentado roubar a GD.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– É. Parece que vocês me pegaram mesmo – respondeu o ladino abaixando a
guarda – Será que temos alguma chance de resolvermos isso amigavelmente?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Os Mestres relaxaram frente à demonstração de derrota de Justin e se
aproximaram para prendê-lo, mas era exatamente o que o ladino estava esperando.
Ele abaixou as mãos, cruzando-as e formando um circulo estrelado. Fechou os
olhos rapidamente e recitou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><i>XXVI CANÇÃO DO LIVRO MARROM<o:p></o:p></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Abriu os olhos e ergueu as mãos. Uma pequena rachadura se formou no lugar
onde havia se apoiado e começou a emanar uma luz turva. O ladino sorriu desdenhoso
e executou o canto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Da pedra o sustento, da terra o recurso;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Caso perdido, mudança de curso;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Um circo marrom, mudando o desfecho;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Fuga segura. Eu reconheço.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A pequena rachadura subiu pela parede e começou a se alargar. O círculo
marrom se expandiu e começou a se elevar até a altura da rachadura. Um crash
foi ouvido e pedaços de rocha sólida voaram pelo corredor e foram engolidas
pelo círculo. Ao final, a luz e as rochas haviam desaparecido e o ladino fugido
pela fenda na parede.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– NÃO! – gritou o gorducho e correu para a abertura na parede na
esperança de alcançar o ladrão, mas Justin já havia desaparecido, correndo
campo afora. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O vento soprava fortemente esvoaçando as roupas nos varais e balançando
as árvores do campo enquanto nuvens carregadas se formavam no horizonte e
escureciam a floresta, tornando-a escura e tenebrosa, mesmo assim um sorriso se
instalou no rosto do ladino quando a avistou. Sabia que, assim que chegasse
nela, as chances de ser capturado diminuiriam drasticamente e poderia testar
seu artefato em segurança. Não conhecia muito bem o brinco devasso, mas sabia
que se pudesse usá-lo a sós, sua escapada e segurança estariam garantidas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Tomado pela euforia da fuga, acelerou o passo em direção a mata cerrada
que se aproximava, mais e mais. Ao longe ainda podia ouvir vozes que gritavam
atrás de si e sabia que estava sendo perseguido, mas a GD não tinha histórico
de violência e duvidou que algum deles usasse uma arma de longo alcance para
detê-lo. Foi quando sentiu a fisgada. Foi como se seu cérebro fosse sugado da
cabeça pelos poros. Uma voz branda dentro de sua cabeça o dizia para parar, que
não adiantaria prosseguir. A dor aumentou e Justin colocou, inutilmente, ambas
as mãos sobre as orelhas para tentar diminuir a pressão. Seus pensamentos começaram
a se anuviar e flashs de lembranças povoaram sua mente atordoada. <i>Deve recuperar nossa honra meu filho.
Prometa que recuperará, não importa os meios que use para fazê-lo. Prometa.</i>
A imagem de seu pai em seu leito de morte o perturbou ainda mais, fazendo com
que o ladino perdesse a concentração e diminuísse o ritmo. <i>Prometa meu filho, só assim poderei morrer em paz.</i> A visão
desapareceu com uma nova pontada ainda mais forte e a voz voltou a insistir que
Justin deveria desistir da fuga. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Com um último esforço, lançou-se desesperado em direção à floresta. Seus
olhos já não enxergavam o que passava ao seu redor e apenas sua determinação em
cumprir a promessa que fizera ao pai o manteve correndo. <i>Eu prometo pai.</i> <i>Prometo</i>.
Repetia para si mesmo quando o mundo começou a girar, antecedendo a dor que voltaria
ainda mais aguda. Balançou a cabeça numa tentativa de afastar o sofrimento, mas
acabou por tropeçar em uma raiz sobressaltada e cair sobre um pedregulho
afiado, rasgando a calça e ferindo profundamente a perna direita. Sangue escorreu
pela ferida e encharcou sua calça, grudando-a na perna suada, mas mesmo a dor
do corte não se comparava as pontadas que sentia no cérebro. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Apertou a ferida com a mão e seu rosto se crispou de dor, tentou se
levantar, apoiando-se na perna boa, mas outro ataque o atingiu fazendo com que
suas derradeiras forças o abandonassem e ele caísse novamente praguejando
contra a sorte. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A chuva começou a cair ensopando seu corpo, que jazia inerte,
ensanguentado e estendido sobre a grama alta e a última coisa que ouviu, antes
de ser envolvido pela escuridão, foi a voz solene de Matheus sussurrando em seu
cérebro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– <i>Bem vindo a GD!</i><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<o:p></o:p></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
***<o:p></o:p></div>
</div>
</div>
</div>
Feitosahttp://www.blogger.com/profile/01786865127916010920noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9204546804128450555.post-64774705513152579582011-08-18T05:49:00.000-07:002013-11-19T09:52:28.446-08:00CAPÍTULO VIII<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhC1tbIf2Y1nNNtFTcwFWjWaao9yNfcJqbEUwj6ydEVfbrgwPtF3WpXwRGtzDT7l0CcLOW8_tTO0_8KcUoBPsfPs0xjFNOvKRt7ZugRsDV6PtlYSKhHCAUJ2ssdcqfKuBr1GoMm5pnNPaBQ/s1600/lago-parque-7.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="210" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhC1tbIf2Y1nNNtFTcwFWjWaao9yNfcJqbEUwj6ydEVfbrgwPtF3WpXwRGtzDT7l0CcLOW8_tTO0_8KcUoBPsfPs0xjFNOvKRt7ZugRsDV6PtlYSKhHCAUJ2ssdcqfKuBr1GoMm5pnNPaBQ/s320/lago-parque-7.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<h1 align="center" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: center;">
<span style="mso-ansi-language: PT-BR; text-transform: uppercase;">O</span><span style="text-transform: uppercase;"> </span><span style="mso-ansi-language: PT-BR; text-transform: uppercase;">ENCONTRO</span><span lang="X-NONE" style="text-transform: uppercase;"><o:p></o:p></span></h1>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
U<span style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">ma moça sorriu e acenou para Adam no primeiro dia de aula na faculdade
depois do luto pela morte da avó. A notícia se espalhara rapidamente e, depois
do enterro, sempre aparecia alguém para lhe apresentar as condolências e
desejar força. Sua mãe lhe pedira para ficar mais uns dias em casa, para por as
idéias em ordem, mas Adam não quis. Precisava conversar a sós com Rebecca e
quando a moça ia a sua casa, a mãe sempre ficava por perto dando atenção à
garota e trazendo lanches e bebidas.</span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Entrou atrasado na sala e o professor parou a explicação para
cumprimentá-lo enquanto seus colegas lhe preparavam uma carteira e pediam para que
sentasse com eles. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– E ai cara? – perguntou Willian assim que Adam sentou-se ao seu lado –
Como vai a força?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Estou bem. Acho – respondeu guardando a mochila embaixo da carteira.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Já descobriram os assassinos? – perguntou Ana, uma morena de olhos
claros que escrevia para o jornal da universidade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ainda não, mas os policiais estão otimistas, parece que já têm um
suspeito e devem divulgar alguma coisa em breve.<br />
<a name='more'></a><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Ana ia perguntar mais, mas o professor interrompeu a discussão, chamando
a atenção dos alunos para a aula, que transcorreu normalmente o restante do
horário. No intervalo Rebecca veio sentar-se com ele e Willian no refeitório,
mas logo foram rodeados por colegas da classe e de outras turmas, ávidos por
notícias e atenção.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Pessoal, deixem o Adam respirar. Ele passou por um momento difícil,
dêem um tempo pra ele. – disse Rebecca e pegou o alquimista pelo braço – Vamos
Adam, vamos nos sentar no gramado. – e saiu arrastando Adam pátio afora. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Povo chato, parecem urubu em cima de carniça. – disse a cabalista
zangada assim que saíram da vista dos demais.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Eu já esperava por isso. – respondeu Adam – Cidade pequena é assim
mesmo. Todo mundo quer saber da vida de todo mundo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Rebecca resmungou alguma coisa e seguiram até o pátio externo, onde
soprava uma suave brisa de primavera. Rebecca amarrou os cabelos que teimavam
em esvoaçar ao vento e sentou-se embaixo de uma mangueira. A árvore começava a
enflorar e algumas flores pequenas acompanhavam o vento em movimentos
circulares. A cabalista pegou nas mãos de Adam e o encarou com perspectiva no
olhar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– E então, vai me contar sua história?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam recolheu as mãos. Apesar de gostar da atenção da moça, não estava
disposto a expor sua vida pessoal tão abertamente, mas a Rebecca puxou suas mãos
novamente e as aconchegou entre as suas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Pode confiar em mim Adam. Sei exatamente pelo que você está passando. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam quase se declarou para Rebecca nesse momento, a proximidade e o
cheiro doce da cabalista faziam com que suas mãos suassem e seu coração batesse
em ritmo acelerado, tudo o que desejava naquele momento era deitar em seu colo
e esquecer o que passava ao redor, mas não era sobre seus sentimentos que
Rebecca queria saber, era sobre sua história como mago, e Adam sabia disso.
Retirou as mãos do colo da cabalista e desviou o olhar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Aqui não é um bom lugar. Vamos marcar no parque mais tarde, embaixo
daquela árvore frondosa, daí conversamos com mais tranquilidade. Aqui volta e
meia vai aparecer alguém para bisbilhotar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Rebecca balançou a cabeça concordando.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Tudo bem então Adam. Vamos marcar às 14:00 horas, está bom pra você?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Pode ser – respondeu Adam – A gente aproveita e faz outro piquenique, o
último não deu muito certo não é.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Rebecca riu e ia comentar quando sinal tocou, indicando o fim do
intervalo. Adam se despediu e voltou para a sala se preparando para mais uma
rodada de perguntas e especulações, mas ao contrario do que imaginara, ninguém
mais tocou no assunto da morte de sua avó, apenas falavam sobre coisas banais e
corriqueiras como se o episodio do intervalo não houvesse acontecido. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O restante da aula transcorreu sem novidades, Adam, como sempre, prestava
pouca atenção ao que era dito pelo professor e contava os minutos para que o
sinal tocasse e pudesse conversar novamente com Rebecca na saída, mas assim que
ele tocou e todos se prepararam para sair, o Sr. Manoel fez sinal para que ele
aguardasse um pouco. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Percebi que esteve meio distante
na aula hoje Adam. Sei que é difícil perder um ente querido, mas você precisa
se animar; a vida continua rapaz. – disse o professor enquanto puxava uma
cadeira e se sentava ao lado de Adam.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Eu sei professor. Vou me esforçar para estar mais animado nas próximas
aulas, mas minha avó era minha última família por parte do meu pai e o jeito
como ela morreu me deixou muito triste.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Eu entendo Adam. No seu lugar também estaria deprimido, mas não cabe a
nós, meros mortais, entender os desígnios do Criador, cabe a nós apenas aceitar
que tudo o que Ele faz é reto e necessário. Ninguém quer perder um parente,
principalmente um parente querido, mas nós podemos tirar lições das ações do
Criador e nos basearmos nela para que sua ira não recaia também sobre nós. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Espera aí professor, o senhor está querendo dizer que o assassinato
cruel de minha avó foi um castigo pela vida que ela levou?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Quem sou eu pra julgar as pessoas filho, mas sua avó tinha fama de
brincar com coisas que seria melhor deixar olvidado e, muitas vezes, as
tragédias são conseqüências diretas das escolhas que fazemos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O professor tentou consolar Adam, estendendo a mão para tocar em seu
ombro, mas o alquimista recuou repulsado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não quero que pense mal de mim filho. – continuou o professor – Se digo
isso é para o seu bem. Se estiver disposto podemos ir até minha casa orarmos
pela alma de sua avó e pedir que o Senhor conforte seu coração quebrantado,
tenho certeza que... <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Obrigado professor – respondeu Adam rapidamente – mas tenho que ir.
Rebecca aceitou me ajudar com os estudos hoje a tarde e não quero deixá-la
esperando. Obrigado novamente e até amanhã.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Todo bem filho, vamos deixar para outra hora então. Vá com Deus e não
se esqueça, <i>o futuro não pertence a nós</i>.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam acenou com a cabeça e saiu. Sentia se zonzo, pensando sobre tudo o
que o professor tinha dito a respeito de si e de sua avó. O Sr. Manoel sempre
fora meio estranho, fanático religioso e metido a conselheiro da escola e,
talvez por ser o mais velho da instituição, se sentia na responsabilidade de aconselhar
a todos, no entanto, a forma como ele se referiu a sua avó fez com que Adam
perdesse o pouco do respeito que nutria pelo idoso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Chegou em casa anuviado e com a estranha sensação que algo de ruim iria
acontecer. Sua mãe o esperava para o almoço e, como sempre, perguntou como ele
passara o dia. Adam tentou desconversar, dizendo que tudo correra normalmente,
mas o semblante carregado acabou por denunciá-lo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– O que aconteceu na faculdade que te deixou com essa cara de poucos
amigos? A Rebecca não te convidou para sair hoje?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não mãe. Não tem nada a ver com a Rebecca. Só estou meio chateado pela
forma como algumas pessoas trataram o assassinato da vovó.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ah! As pessoas são assim mesmo. Ávidas por fofocas. Não esquente que
logo esquecem o caso. O que você vai fazer à tarde? Se estiver livre podemos
passear no shopping? O que acha?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não vai dar mãe. Marquei com Rebecca no parque. Fica pra outra hora.
Pode ser?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Claro bebê. Eu tinha mesmo que adiantar um serviço do escritório.
Aqueles seus amigos bagunceiros vão também, ou é apenas você e a Rebecca?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Dona Rute não aprovava o comportamento de Willian e Lisa e sempre que
eles os visitavam ficava de mau humor, temendo que o comportamento folgado dos
dois pudesse influenciar seu filho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Só eu e a Rebecca mãe – Adam respondeu por fim. – E eles não são
bagunceiros, só... Bem deixa pra lá. Vou deitar um pouco, estou meio cansado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Isso filho. Descanse um pouco. Vou lavar a louça e depois vou pro meu
quarto trabalhar. Qualquer coisa me chame ok?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam consentiu com a cabeça e subiu para seu quarto. O sol do meio-dia
irradiava pela janela e ele teve que fechar as cortinas. Deitou, mas não
conseguiu dormir. Ficava pensando se Rebecca estava realmente interessada nele,
ou se era apenas a maneira como ela normalmente tratava as pessoas. Por fim
decidiu que hoje tomaria a iniciativa. Ia dar um ultimato a Rebecca e se não
desse em nada, pelo menos tirava a dúvida da cabeça.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Levantou uma hora depois, decidido a adiantar o encontro. Tomou um banho
e se arrumou, tomando o cuidado de não deixar o quarto bagunçado. Às vezes
depois dos passeios, Rebecca ia a sua casa e subiu para seu quarto para
conversarem a sós e se estivesse bagunçado ela o olhava com ar de reprovação.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Desceu para a sala, pegou a carteira e saiu, tentando não fazer barulho
que denunciasse sua saída para evitar ter que dar mais explicações. Sua mãe era
sempre muito curiosa no que se referia a Rebecca e gostava de insinuar que eles
estavam namorando. <i>Quem sabe a partir de
hoje</i>, pensou ganhando a estrada e partindo em direção ao parque.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Chegou ao local antes de Rebecca e aproveitou para apreciar a paisagem. O
parque estava tranqüilo, apesar de ter certo movimento à beira do lago. Alguns
rapazes brincavam de bola e outros jogavam sinuca em uma mesa que ficava em um
quiosque embaixo de um arvoredo. Adam conseguiu identificar alguns colegas da
faculdade jogando, mas não quis se aproximar para não chamar a atenção dos
amigos e atrapalhar seu encontro com Rebecca.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Certa de meia hora depois Rebecca chegou. Carregava uma mochila nas
costas e uma caixa térmica em uma das mãos enquanto tentava equilibrar o peso,
pendendo o corpo para o lado aposto. Acenou para Adam ao vê-lo perto do lago e
se aproximou ofegante.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Oi. Atrasei-me um pouco. Estava difícil achar uma roupa que combinasse.
– Adam deu uma olhada de cima a baixo para averiguar o figurino da cabalista.
Estava vestida com uma calça legging cinza e top azul decotado, tênis de
passeio e uma fita azul prendendo o cabelo num rabo-de-cavalo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Pelo menos a espera valeu à pena – respondeu Adam sorrindo – Você ficou
muito bonita.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Rebecca sorriu e sentou na relva em frente a Adam. Estendeu a manta ao
lado das cinzas de uma fogueira, provavelmente deixada ali por algum campista
descuidado, e dispôs os aperitivos e as bebidas no centro, para que ficasse
entre os dois e facilitasse o acesso. Curvou-se para frente para dar um
beijinho no rosto de Adam e pegou uma latinha de refrigerante suspirando.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ufa! A caixa estava pesada. Acho que exagerei nos comes.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Eu não trouxe nada. – respondeu Adam com um sorriso amarelo – Me
esqueci.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não esquente. Eu trouxe o suficiente para nós dois. – abriu o
refrigerante e tomou um gole – Como vai sua mãe?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Vai bem. – respondeu Adam pegando um salgadinho – Ela mandou
lembranças. Hum! Me passe o refrigerante. Obrigado!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Quando estava vindo para cá – começou Rebecca – pensei no que você me
disse em sua casa outro dia. Sobre a herança que seu avô lhe deixou e as
instruções para continuarmos a busca. A partir de quando você tomou ciência de
que era o descendente prometido? E por que você acha que os alquimistas foram
escolhidos para comandar essa busca?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Bem. Não tenho respostas para todas essas perguntas Rebecca. O que
posso fazer é contar o que sei. Talvez quando estiver a par de tudo você
compreenda melhor que eu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Rebecca concordou com a cabeça, enquanto Adam se ajeitava sobre a manta
para iniciar seu discurso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Tive uma infância divertida, apesar
de ser diferente das outras crianças. Minha avó me dizia que os inaptos não
entendiam o nosso dom e, por isso, tínhamos de ser reservados quanto a eles.
Frequentei sua casa diversas vezes e ela sempre me tratou muito bem. Fazia
doces de abóbora e mamão, e sucos de laranja e abacaxi sempre que sabia que
íamos visitá-la. A chácara era próspera aquele tempo. Havia canteiros de
hortaliças e plantações de legumes e mandioca, e a casa, que ultimamente estava
caindo aos pedaços, era bem conservada e limpa. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Meu pai que me levava. Ele não
gostava dos assuntos de magia e desmentia tudo que minha avó me ensinava quando
íamos embora, mas eu sabia que a magia era real, tinha provas disso, mesmo
ainda não tendo idade para realizar nenhum rito. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Na escola, meu jeito tímido e
reservado me manteve afastado dos outros garotos, que me desprezavam e me
tratavam como “filhinho da mamãe”, mesmo quando os ajudava nos estudos e
trabalhos de escola. Sempre fui inteligente. Tirava as melhores notas e era
elogiado pelos professores, o que servia apenas para aumentar minha rejeição
pelos colegas que me invejavam.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Na adolescência minha situação
melhorou. A magia começou a se manifestar em mim e, graças a ela, fiz amizade
com Willian e Lisa. Também acertei minha relação com os outros colegas que
notaram minhas novas companhias e se aproximaram pouco a pouco. Willian era
conversador e popular, e me arrastava para todos os lugares fazendo com que eu
me enturmasse com os outros rapazes, mesmo a contragosto. Lisa não era
diferente. Promovia festas em sua casa e me obrigava a participar, sempre
fazendo questão de me apresentar para as amigas e forçar uma amizade.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Conheci os dois de forma inusitada.
Estava indo para a escola quando vi um Rottwailer escapar do seu quintal e
atacar o casal que passava perto do seu portão. Willian, na época com quatorze
anos, ficou aterrorizado e fugiu, deixando a colega a mercê do animal. Liza
gritou apavorada, o que fez com que o animal ficasse ainda mais nervoso e se
preparasse para atacar. Foi quando eu intervi.
Corri para o local e acalmei o cão, alegando que a menina não oferecia
uma ameaça a ele e que foi simplesmente o acaso que os levou até ali. Demorou
um pouco, mas consegui tranqüilizar o cachorro até o dono chegar com uma
coleira e o levar para dentro. Willian, que observava tudo de cima de uma
árvore, desceu e veio falar comigo, me felicitando pela coragem enquanto Lisa,
ainda em estado de choque, chorava agachada ao lado do muro. Esse incidente me
despertou. Percebi que podia usar meu dom para ajudar as pessoas e, apesar de
ainda continuar tímido, agora me sentia mais confiante para estabelecer
amizades e participar de eventos. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Minha avó não gostava das minhas
amizades. Ela dizia que eu devia ter amigos do Círculo e uma vez, chegou a
trazer alguns garotos de minha idade para nos conhecermos, mas meu pai inventou
uma desculpa e me levou embora. Depois desse dia, ela meio que desistiu de me
aproximar de outros alquimistas, mas me contava histórias de personagens
famosos e de meu avô, que segundo ela, fora um grande mago. Quando estava
empolgada, abria o livro vermelho e, com orgulho, me mostrava as canções
registradas por ele, ou fazia pequenos ritos para me entreter, cantando uma musiqueta
e fazendo coisas acontecerem. Uma vez acendeu o fogão a lenha sem usar fósforos
ou algo que o valha e, em outra, curou um pequeno ferimento que eu havia
sofrido quase instantaneamente, usando apenas uma gota do meu sangue na troca.
O sangue é muito poderoso - dizia minha avó – e os maiores ritos são feitos com
ele. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Meu pai não aprovava esses rituais
e dizia que a velhota estava usando truques para me iludir, mas não sabia
explicar como os ferimentos se curavam, então não me convencia muito. Vovô
dizia que os alquimistas não eram especialistas em magias de cura, mas podiam
fazer trocas simples e curar pequenos ferimentos. Dizem – dizia ela – que os Bloods conseguem
curar até mesmo doenças graves, mas é difícil ter certeza já que não há nenhum
rito de cura avançada registrado por eles no livro vermelho. Meu avô, por outro
lado, registrou alguns ritos de cura simples, o que criou certo atrito entre os
Ocher e os Bloods e resultou na saída de Jason Blood da direção do Círculo
Vermelho e conseqüentemente, das rodas sociais da nossa família, mas minha avó
não gostava de falar sobre isso. Ela dizia que seu marido não era culpado e que
os Bloods o acusaram por pura inveja e “dor de cotovelo”. Esse episódio abalou
meu avô, que se afastou do Círculo e decidiu seguir sozinho, seu projeto de
mudar o mundo, deixando para trás, minha avó e meu pai, que, revoltado, jurou
não seguir os seus passos e nunca abandonar a família, quando tivesse uma. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Apesar da promessa, meu pai ficava
pouco tempo em casa. Com seu emprego na ONU, estava sempre viajando e minha mãe
acabou tendo que abandonar o emprego que conseguira numa empresa de advocacia
para cuidar melhor da casa e de mim. Quando, porém, ele estava em casa, sempre dedicava
a nós, todo seu tempo livre. Levava-me para passear e comer fora e sempre havia
festas. Ele convidava os amigos e parentes para comemorar seu retorno, mas
minha avó nunca ia. Minha mãe dizia que ela não aprovava o casamento do filho
com uma “inapta” e que a decisão dele fora um choque para a velhinha. Ela
queria que o filho seguisse a tradição e se casasse com uma mulher estranha;
uma ruiva libertina e prepotente, apenas pelo fato dela pertencer à antiga família
dos Reds, coisa que, segundo ela, era muito importante. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Apesar dos problemas com minha mãe,
não deixei de visitar minha avó. Queria aprender sobre a alquimia, as trocas e
sobre a história da minha classe.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Ela me ensinava com toda a
paciência. Falava-me sobre a tradição
dos alquimistas. Sobre as cinco grandes famílias e sua importância no cenário
mágico mundial. Falava dos Reds, dos Rubys, dos Bloods, dos Crimsons e claro,
de nós os Ochers, sempre ressaltando a importância que cada uma tivera na
criação e manutenção do Círculo e do Livro Vermelho. Ela própria pertencera aos
Ruby antes de se casar com meu avô e fora muito rica. Grande parte do dinheiro
usado por ele em suas expedições veio dos cofres da família dela que apoiava e
financiava seus projetos, inclusive o último, que o levou a uma viajem sem
volta para os confins da terra.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i> Até bem pouco tempo não sabia o que tinha
levado meu avô a desaparecer, pois minha avó sempre desconversava e mudava o
rumo da conversa quando eu perguntava. Das poucas vezes que consegui arrancar
algo dela ela dizia que ele saíra pelo mundo buscando artefatos mágicos que
possibilitariam mudar o destino da humanidade, mas infelizmente algo dera
errado em sua jornada e ele nunca mais retornou. Ela atribuía esse infortúnio
às parcerias que ele havia formado. Não confiava em necromantes e ladinos e a
presença deles em sua casa, sempre fora motivo de discussão entre eles. No fim meu
avô desapareceu e, depois de um tempo, minha avó recebeu seus pertences pelo
correio, selados numa arca de madeira. Meu pai sugeriu que ela colocasse fogo
em tudo e acabasse com aquela história, mas ela se recusava dizendo que aquilo era
a herança da família e que, um dia, tudo seria útil.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– O resto da história você já conhece. – concluiu Adam – Meu pai morreu e
minha avó me passou o baú com as coisas de meu avô pouco antes de morrer
também, e agora aqui estamos nós, discutindo sobre o que fazer com elas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Rebecca levantou-se para responder, mas uma estranha movimentação atraiu
sua atenção. O grupo de jovens que jogava sinuca no quiosque em meio ao
arvoredo movia-se rapidamente em direção ao casal, brandindo os tacos de sinuca,
levantados em posição ameaçadora. Adam
virou-se para olhar o que chamara a atenção da cabalista, mas pensou que os
amigos estavam de brincadeira, ameaçando-o por não convidá-los para o
piquenique.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Nem adianta pessoal. Os salgados são exclusivos para os alunos do 2º
ano e...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam não terminou a frase, pois o colega mais próximo atingiu-o, com toda
a força, com o taco em sua cabeça, fazendo com que ele caísse para trás,
protegendo o rosto com os braços. O taco partiu-se em dois e voou para perto de
Rebecca, que se desviou e abaixou para ajudar Adam a levantar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– O que significa isso? – perguntou Adam se apoiando na cabalista para se
levantar. – Vocês ficaram loucos? – e afastou Rebecca que se posicionara em sua
frente para protegê-lo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Os olhos dos rapazes estavam fixos, como se olhassem sem realmente
enxergar e se moviam perigosamente para cima do casal.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não adianta Adam. Eles estão sendo controlados – disse Rebecca quando
Adam abriu a boca para tentar conseguir uma explicação.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Hahahaha – veio a risada grave e gutural – Esperava mais de você Adam
Ocher. Até a sua bela acompanhante percebeu o óbvio – fez um movimento com as
mãos, parando o grupo que se aproximavam do casal e encarou Rebecca como se
curioso – A propósito, ela não me parece uma alquimista, com esse rosto pálido
e olhos azuis. Está se relacionando com inaptos alquimista?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Quem são vocês e o que querem da gente? – disse Adam se virando para o
estranho grupo que se aproximava, vindo de perto do lago e achou estranhou não
ter reparado neles antes. O grupo era no mínimo exótico; o interlocutor era
alto e magro, com cabelos pretos e lisos, olhar severo e semblante carregado. Tinha
uma voz grave e usava uma roupa escura e espessa apesar do calor que fazia
naquele momento. O rapaz ao seu lado não era mais comum. Era loiro e usava uma camiseta
verde fluorescente e bermuda branca que ficava relativamente apertada cobrindo
o corpo rechonchudo, cobria os olhos com óculos escuros e parecia estar se
divertindo com a situação. A única menos estranha do grupo era uma bela moça de
cabelos prateados que segurava a mão do rapaz loiro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ora não se faça de tolo alquimista – disse o rapaz de preto – Sabe
muito bem quem eu sou e o que vim buscar. Quero os artefatos do meu avô e você
à de me entregá-los, por bem ou por mal. – moveu novamente as mãos e o grupo de
rapazes se mexeu como que se comandados por fios invisíveis.<i><o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Você só pode ser maluco – respondeu Adam irritado. Sua cabeça ainda
doía da pancada e suas pernas tremiam de irritação quando se virou para a
cabalista a espera de uma resposta para aquela situação.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– A inapta não vai poder ajudá-lo alquimista – zombou o rapaz de preto – mas
vou ser legal e permitir que você a mande embora daqui sem ferimentos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Vou te mostrar quem é a inapta necromante – respondeu Rebecca levantando
os braços e cruzando-os, formando pentagramas azuis e envolvendo seu corpo com
uma aura azul celeste. Seu cabelo começou a esvoaçar, como se um forte vento o
tivesse circundando e seu rosto contorceu-se de dor quando fechou os olhos e
sussurrou lentamente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<b><i>XXXIX
CANÇÃO DO LIVRO AZUL<o:p></o:p></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A aura se expandiu e se concentrou em seu rosto quando Rebecca abriu os
olhos. Suas pupilas haviam desaparecido e o azul celeste cobria toda a extensão
de sua vista. Os círculos dançaram em torno de seus pés, subindo e descendo em
volta de seu corpo, no momento em que a cabalista iniciou o canto:<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Prece sincera, pedido a fazer;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Escudo sagrado, antigo poder;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Alvedrio comprado, benção provida;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Encargo quitado e oferta servida.<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Permuta sincera, vontade real;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Sopro de vida, declínio do mal;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Arco celeste, barrando o impuro;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Abrigo seguro. Eu contribuo.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A luz que se concentrava em seus olhos, projetou-se de em direção ao céu
subindo como um raio até desaparecer em meio às nuvens, um brilho celeste ainda
pairava no ar quando a luz voltou e se desmanchou sobre a calista formando uma
abóboda que se expandiu e envolveu o casal num invólucro de luz azul. Os
agressores que tentavam atravessar a barreira cintilante agitavam-se e caiam
desmaiados enquanto a cabalista se escorava em Adam tentando manter a
consciência.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Nada mal para uma cabalista – zombou Thomas – mas vamos ver se você
consegue manter essa barreira com a cabeça nas nuvens – e moveu os braços
impedindo que mais rapazes entrassem na barreira de luz.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Rebecca olhou para Adam tentando entender o motivo do gracejo do
necromante, quando o outro rapaz retirou os óculos e começou a entoar um canto.
A música falava sobre carvalhos e prisões e Adam tentou se lembrar de onde
ouvira algo semelhante. O vento ficava mais forte a medida que a canção se
desenrolava e formava pequenos turbilhões, balançando as árvores ao redor.
Instintivamente pôs-se na frente de Rebecca para protegê-la, mas era tarde
demais. O ranger terminou o canto e moveu os braços sobre o casal fazendo com
as árvores ganhassem vida e descessem seus galhos sobre eles, jogando Adam de encontro
ao seu tronco. O alquimista sofreu o impacto no meio das costelas e sentiu
algumas se quebrarem, mas Rebecca parecia estar em situação pior. O outro galho
apanhou a cabalista pela cintura e a ergueu acima da copa. Rebecca gritou, mas
não havia nada que pudesse fazer. A árvore balançava os galhos descendo e
subindo a cabalista que parecia desesperada enquanto o invólucro de luz azul
desaparecia no ar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Esmague-a! – gritou Thomas para Wesley – Espalhe suas tripas pelo
parque e o alquimista verá que não estamos para brincadeiras.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam viu um vislumbre de dúvida nos olhos do ranger e aproveitou a deixa
para se levantar. Wesley, apesar de acompanhar e apoiar Thomas, não parecia
muito disposto a derramar o sangue de pessoas que, talvez, fossem inocentes. Ponderava
que Thomas poderia ter se enganado, ou talvez eles tivessem um motivo para
fazerem o que fizeram.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Rebecca se debatia presa aos galhos enquanto o necromante ria. Adam
reuniu todas as suas forças e se levantou, escorando-se na árvore, para examinar
a situação. Sabia que sua vida e a de Rebecca dependeriam do rito que executaria
em seguida e que não teria segunda chance. Se não resolvesse a contenda em um
único lance Rebecca poderia pagar com a vida. O vento ficou mais forte e uma
nuvem cinzenta emergiu da fogueira deixada pelos seus antecessores, irritando
seus olhos e prejudicando sua visão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam abaixou-se e desenhou, com um galho, um pentagrama em meio às cinzas.
Fechou os olhos ignorando a tontura e recitou lentamente:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 35.45pt;">
<b><i>LXXIV CANÇÃO DO LIVRO VERMELHO<o:p></o:p></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Abriu os olhos lentamente tentando focar a visão. Suas pupilas dilatadas e
vermelhas se fundiam com a íris em brasa. Fixou o olhar no círculo e sussurrou
o canto.<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Chama robusta, distúrbio termal;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Circo vermelho, escambo formal;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Oferta rogada, esforço medido;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Rito forçado e destino cumprido.<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Ave lendária, das cinzas renasce;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Estrela de fogo, ditoso enlace;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Assalto frustrado, anseio tropeço;</i><o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Sinistro de chamas. Eu ofereço!<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O círculo incendiou. Chamas vermelho vivo seguiam o contorno como se
pólvora tivesse sido espalhada sobre ele e levantavam labaredas incandescentes.
Quando o círculo de fogo se uniu, as chamas subiram aos céus, formando uma estrela
vermelha que explodiu e desceu em formato de uma ave, enorme e ardente, pousando
sobre o círculo de cinzas e apontando o bico em chamas na direção de seus
opositores. As cinzas desapareceram e o alquimista se levantou, com o grande
pássaro vermelho pairando sobre sua cabeça.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Com um movimento de Adam a fênix disparou, circundando os presentes,
queimando a grama por onde passava e chamuscando as roupas dos controlados que
eram atirados para o lado pela força da investida. O sorriso morreu no rosto de Thomas quando
viu que a ave vinha em sua direção. Tentou correr para o lado, mas já era tarde
demais. Por sorte Wesley moveu os galhos das árvores para frente e absolveu a
maior parte do choque, mesmo assim o impacto foi grande o suficiente para
atirá-los à borda do lago, enquanto os carvalhos ao redor pegavam fogo,
libertando Rebecca, que caiu de mau jeito ao lado do Alquimista. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Uma multidão começava a se aglomerar a volta da confusão e Adam não sabia
se fugia com Rebecca e deixava tudo como estava ou terminava o serviço, dando o
golpe final nos três agressores que o atacaram. Decidiu em primeiro lugar
ajudar Rebecca. A cabalista tinha caído de costa e estava com dificuldades para
respirar, então Adam colocou-a de pé, se apoiando em seu ombro, e olhou ao
redor, procurando pelo trio desconhecido. Thomas já estava de pé, com os olhos
totalmente negros, limpando a sujeira da roupa, enquanto Mariah ajudava Wesley
a se levantar. O Ranger parecia ter sofrido a maior parte do ataque e estava
zonzo, como se tivesse batido a cabeça ao cair. Rebecca se recuperou e insistiu
com Adam para saírem dali, mas Thomas não parecia a fim de encerrar a disputa.
Sacou uma faca de serra do bolso traseiro da calça e puxou a manga da blusa,
descobrindo o pulso e expondo a pele esbranquiçada. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– NÃO! – gritou Mariah quando percebeu o que Thomas pretendia fazer –
Isso de novo não! – e se jogou sobre o necromante, caindo com ele dentro do
lago e espantando os cisnes que vagavam por ali.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Wesley olhou ao redor sem saber o que fazer, mas por fim decidiu ajudar o
primo e a namorada que lutavam para chegar à margem. Adam aproveitou a deixa. Colocou
Rebecca nos ombros e correu para o carro, deixando uma multidão perplexa e o
bosque em chamas atrás de si, enquanto Thomas gritava, ensopado e furioso, que
ainda se encontrariam novamente. <o:p></o:p></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
***<o:p></o:p></div>
Feitosahttp://www.blogger.com/profile/01786865127916010920noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9204546804128450555.post-1987827612686385182011-08-17T11:22:00.000-07:002014-09-23T10:31:23.022-07:00CAPÍTULO IX<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXMgt3M2Xrfp75jojDO-OGHLaHlvXAl9oDVhX2gd_aPErr_YSzrPEWjMlsuvtlCLocCy-9Goqu1s-Fs7Y-WrsUah8lQLD2mhNiDp0htQKWAiXdgHT56yj1undncPm-J4C0GZgnvOT2fdjE/s1600/lindas-garotas-mundo-02.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXMgt3M2Xrfp75jojDO-OGHLaHlvXAl9oDVhX2gd_aPErr_YSzrPEWjMlsuvtlCLocCy-9Goqu1s-Fs7Y-WrsUah8lQLD2mhNiDp0htQKWAiXdgHT56yj1undncPm-J4C0GZgnvOT2fdjE/s320/lindas-garotas-mundo-02.jpg" height="213" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<h1 align="center" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: center;">
<span style="mso-ansi-language: PT-BR; text-transform: uppercase;">A revelação</span><span lang="X-NONE" style="text-transform: uppercase;"><o:p></o:p></span></h1>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A chuva ainda caía quando um caipira, vestido com cores fortes, deixou um
prato fumegante sobre uma pequena mesa ao lado de Justin e saiu. O ladino estivera
desmaiado por apenas algumas horas, mas parecera uma eternidade o tempo que
permanecera trancado ali. Ainda se lembrava do temporal que caíra sobre sua
cabeça, da imagem de seu pai lhe cobrando sua promessa e da dor. Perdera
totalmente seus objetivos ao ter seu cérebro lacerado por aquela dor e agora
tudo o que restava era torcer para que seus esforços não fossem em vão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Desceu da rústica cama de madeira que adornava seu aposento e pegou o
prato de comida que lhe deixaram. Apesar de sua cabeça ainda doer, não comera
nada desde a noite anterior e seu estômago protestava de fome. Seu quarto de
prisão não se parecia exatamente com uma cela. Era relativamente confortável e
não havia grades, apenas uma grossa porta de madeira de carvalho e um espaço da
parede, sem reboco, no lugar onde deveria haver uma janela</div>
<a name='more'></a>. Sua cama, apesar de
simples, era macia e havia até um banheiro para quando a necessidade urgisse,
mas mesmo assim ainda estava preso. Olhou ao redor, refletindo, enquanto
depositava o prato vazio sobre a mezinha no canto do pequeno cômodo. Ainda
estava muito fraco para tentar uma canção que o libertasse, mas em pouco tempo
estaria recuperado e poderia por aquela parede abaixo. Seus captores deveriam
saber disso, então era estranho que não o tivessem amordaçado ou algemado seus
braços. <o:p></o:p><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Ainda pensava com seus botões quando a porta se abriu e Mestre Matheus
adentrou o cubículo. Usava uma toga colorida com detalhes em dourado e azul,
mas sem a faixa que representava o cargo de Mestre. Abaixou a cabeça num
cumprimento e se sentou na cama, ao lado do ladino.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Espero que esteja sendo bem tratado – disse o Mestre sem demonstrar emoção
na voz.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Quão bem tratado eu poderia estar sendo, jogado nesta cela fétida e
alimentado com algo entre comida de cachorro e bosta de neném? – respondeu Justin com raiva. Estava revoltado
por ter sido capturado tão facilmente e a presença do Mestre só fazia piorar as
coisas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Mestre Matheus sorriu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Você não é fácil de lidar mesmo não é?! Mestre Jeú me disse que não
seria uma conversa amigável, mas eu não lhe dei ouvidos, como sempre. Veja, não
há motivos para não convivermos amigavelmente, já que você terá que permanecer
um bom tempo conosco, até pagar pelo seu crime.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Por que não me entregaram as autoridades? Se cometi um crime devo pagar
por ele da mesma maneira que todo criminoso comum. Por que me mantêm aqui?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– As coisas não funcionam dessa forma na GD – respondeu o Mestre – O que
acontece aqui, resolve-se aqui, essas são as regras.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Começo a entender a situação – zombou Justin – Se passam por honrados
professores, preocupados em ajudar os pobres garotos ignorantes que buscam
instrução aqui, quando na verdade usam esse lugar para satisfazer seus anseios
de autoritarismo e dominação. Veja o que eu sinto pela suas regras – e cuspiu
nos pés de Matheus.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Você me lembra seu pai sabia? – disse o Mestre calmamente limpando o pé
– A mesma raiva interior, a mesma ambição, mas seu pai não tinha esse
sentimento de remorso, como se tivesse feito algo do qual não pudesse se
perdoar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Há! – zombou Justin – Está enganado velho. Eu não sinto remorso. Nunca
– mas no fundo estremeceu a menção de seu pai.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Sua boca diz uma coisa, mas sua alma canta outra canção. Eu posso lê-la
claramente. Não há necessidade de mentir – respondeu Matheus.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Justin recuou. Ouvira historias a respeito dos sábios e de como podiam
ler a alma das pessoas, descobrindo seus mais íntimos segredos e dominando suas
mentes, mas nunca os levara a sério. Lendas eram comuns no mundo dos magos e
todas as classes gostavam de inventar histórias fantasiosas sobre si mesmas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Pode mesmo ler a mente das pessoas? – perguntou, temendo por seu
segredo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não posso ler mentes – respondeu Matheus sorrindo – apenas capto
algumas projeções da alma das pessoas e consigo interferir em seus cérebros,
projetando imagens, sons ou dor, como fiz com você. Mas não é uma leitura. Não
sou nenhum <i>professor Xavier</i>.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Quer dizer que não consegue saber o que estou pensando agora, nem o que
já fiz no passado, ou quem sou eu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Com absoluta certeza não, mas sei quem é você. Seu pai já esteve aqui há
algum tempo e, apesar de tê-lo visto apenas uma vez, e de longe, percebo a
semelhança incrível que existe entre vocês. Sua freqüência cerebral, suas
expressões neurais, são praticamente idênticas, você é como seu pai a dezoito
anos atrás, apenas suas intenções são indecifráveis. Você parece que precisa
fazer algo que não quer fazer.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Isso não é ler a mente? – perguntou Justin, disfarçando com um sorriso
amarelo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não – respondeu Matheus sorrindo – Isso é percepção extra-sensorial, mas
não é difícil descobrir o que você está pensando. O que um prisioneiro pensa se
não em conseguir sua liberdade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Justin confirmou com a cabeça. Não gostava de Matheus, mas se tinha que
permanecer ali por um tempo era melhor não ter o Mestre como inimigo e ainda
tinha testes a fazer, antes de ter certeza que o objeto adquirido era mesmo o
verdadeiro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– O que vai acontecer comigo? – perguntou tentando parecer ansioso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Obviamente você terá que trabalhar para pagar por seu crime. Há muito
que fazer por aqui e precisamos de toda mão-de-obra disponível – Matheus sorriu
quando ladino fez uma careta, como que insatisfeito com o destino que o
aguardava – É isso ou permanecer nessa cela.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Justin fungou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Também terá que devolver o brinco – continuou Matheus – ou nos dizer
onde o escondeu. Não o encontramos com você quando o socorremos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Eu o perdi na floresta quando você me atacou – e remexeu-se
dolorosamente na cama, pousando a mão sobre a perna ferida – ainda deve estar
por lá, em algum lugar. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Matheus assentiu com a cabeça. Não deixando claro se acreditava, ou não,
na historia do ladino, mas como não disse mais nada, Justin quis acreditar que
sim.<span style="color: red;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– É melhor você descansar agora e cuidar dessa perna – levantou-se para
sair e colocou a mão sobre o ombro de Justin – Taylor virá em breve para lhe
passar suas tarefas, esteja preparado – e saiu, fechando a porta atrás de si.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Justin deitou-se novamente preocupado. Não entendia por que o haviam
costurado e enfaixado se seu ferimento não era tão grave e qualquer Mestre da
água poderia curá-lo facilmente. Também não entendeu por que não estava
algemado e amordaçado, afinal era um ladino e nenhuma prisão resistia a um
ladino.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Dormiu o resto da tarde e a noite. No outro dia acordou cedo com o
barulho de passos próximo a sua cela. Sua perna já não doía mais e o tempo
finalmente melhorara. O som dos passos se intensificou, indicando que alguém
estava chegando e Justin levantou e se vestiu para recebê-los.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Bom dia – disse um rapaz indígena de grande estatura. Seu cabelo liso e
cumprido, muito preto, caia sobre seus olhos e sua pele morena contrastava com
sua toga azul clara. A presença da vestimenta indicava que o indígena tinha um
cargo importante na GD – Sou Taylor Wind e fui encarregado pelo Mestre Matheus
para coordenar seu trabalho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Justin o encarou, olhando-o de cima a baixo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Você é um índio? – foi a resposta do ladino – O velhote encarregou um
índio para cuidar de mim?! Só pode ser brincadeira!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O rapaz fechou a cara.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Sou descendente de indígenas, do Brasil, e morava lá antes de vir
estudar aqui na GD. Qual o seu problema com a minha raça? Sou tão capaz quanto
qualquer um aqui. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Isso deve fazer parte do castigo. Só pode – suspirou Justin – Certo <i>bugrão</i>, se não tem jeito, vamos lá. A que
privilégio você pertence? Não é ladino espero?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não. Há apenas mais um ladino aqui além de você – O Grão Mestre Jeú – Eu
pertenço ao <i>vento</i>. Sou um xamã<sup>11</sup>
em treinamento.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ah! Um mago selvagem. Eu devia ter adivinhado – e coçou a cabeça –
Veja, eu não sei quais são suas intenções, mas já aviso que não estou aqui para
fazer amigos, então basta me dizer o que tenho que fazer e me ignorar o
restante do tempo ok.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Se é isso que você quer, pra mim está ótimo – respondeu Taylor – vamos
andando que há muito que fazer – e abriu a cela liberando à Justin o acesso
para o restante do prédio.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Do lado de fora da cela o prédio era enorme. Só o corredor onde estavam
devia ter uns cinqüenta metros e, após a curva, ele continuava por outro tanto.
A cada intervalo de 10 passos, uma porta de madeira indicava que havia uma cela
por trás e, ao lado das portas, pequenos círculos escavados na rocha convidavam
os visitantes a se manterem afastados.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Você tem um cigarro? – perguntou Justin quebrando o silêncio.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Eu não fumo, e você também não deveria.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Justin riu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– O que há com esse lugar? É proibido usar magia? Deve ser para terem
medo dos efeitos do cigarro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não é possível usar magia nesse prédio.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Por que não?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Achei que não queria falar comigo – respondeu Taylor.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Justin fechou a cara e continuou atrás do xamã. Caminharam mais alguns
metros e chegaram num grande pátio, repleto de mesas e bancos de madeira. Do
lado esquerdo, perto da porta de saída, outra repartição, semelhante a uma
cozinha, fechava o complexo. O lugar lembrava um hospital medieval e Justin
reparou, pela quantidade de mesas e pelo tamanho da cozinha, que devia ter
muitos internos ali, mas seria ridículo um hospital num centro mágico
importante como a GD. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Saíram do prédio e Justin pode sentir o vento fresco que soprava e
balançava os feixes das plantações que cobriam o campo, atraindo nuvens de
pássaros que desciam sobre as plantas e disputavam as melhores espigas. Alguns
rapazes tentavam espantá-los com varas e estilingues, mas as aves teimavam em
retornar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Ao redor da academia principal a movimentação era intensa. Aprendizes e Companheiros
se dividiam em grupos e se dirigiam para suas ocupações diárias, e Justin
reparou que os Mestres não participam dos trabalhos, mas se divertiam jogando
um jogo de tabuleiro, parecido com o xadrez e que era muito comum nos círculos
mágicos, porém, guardou a informação para questionar Matheus mais tarde. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Chegaram ao armazém e Taylor chamou
um rapaz que Justin reconheceu como o mesmo que ele havia roubado a aparência
no dia anterior. O rapaz se assustou ao revê-lo, mas Taylor o acalmou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não se preocupe Michel. Ele está sob a guarda do Mestre Matheus. Não há
o que temer.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O rapaz pareceu ficar mais tranqüilo e entraram no armazém conversando.
Justin pensou se a oportunidade seria interessante para uma fuga, mas com
certeza Matheus o estaria vigiando e o afetaria novamente. <i>Não. É melhor esperar até a noite, quando todos estiverem dormindo,</i>
pensou enquanto examinava a situação ao redor. A maioria dos aprendizes
pareciam evitar seu olhar, o que deu a Justin certa sensação de poder, como se
todos o temessem, mas reparou que uma mocinha com traços indígenas o encarava,
como se não aprovasse sua estadia ali.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Taylor voltou logo depois, trazendo um bornal e um cajado e o entregou a
Justin que o recebeu surpreso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Hoje você vai trabalhar nos campos, espantando as aves e os roedores.
Amanhã cuidará dos animais e depois, ajudará no sanatório. Seguirá a mesma
rotina todos os dias, até que os Mestres decidam que sua dívida com a GD está
paga.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Justin ia abrir a boca para reclamar, mas sabia que precisava de um tempo
a sós para experimentar sua nova aquisição e o campo seria perfeito. Pensando
assim seguiu Taylor até o campo e, depois de receber instruções, foi deixado a
sós com seus instrumentos e com as aves que pairavam sobre a área de cultivo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Pronto! Agora fui promovido a um maldito espantalho – resmungou Justin
para si, e começou a enxotar os pássaros que iam e voltavam conforme ele se
retirava.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Pro inferno com esse serviço. Vou resolver isso do meu jeito – e
abaixou-se e começou a desenhar, com o cajado, um circulo no chão. Uma luz
turva e amarronzada seguia o trajeto do cajado e formava o círculo, formando um
espetáculo curioso em meio a plantação. Terminou o círculo e apanhou um punhado
de espigas da plantação, depositando-as sobre o círculo. Fechou os olhos e
recitou lentamente:<span style="color: red;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<b><i>XLIII
CANÇÃO DO LIVRO MARROM<o:p></o:p></i></b></div>
</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A terra tremeu levemente e fumaça subiu do circulo quando Justin abriu os
olhos. A pupila estava dilatada e o branco totalmente coberto, formando uma
aparência curiosa. Colocou uma pena de um pássaro sobre o círculo e iniciou o
canto;<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Caminho traçado, restrito alcance;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Limite florido, fuga, sem chance; <o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Círculo escuro, as vidas devoram;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Nascidos da terra, pra terra retornam.<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Arco marrom, erguendo-se ao léu;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Mudança completa, expurgo no céu;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>A fauna e a flora, no mesmo endereço;<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Fim da labuta, eu reconheço.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A terra se abriu, liberando mais fumaça e engoliu as oferendas, liberando
raios de luz escura que se espalharam pelo campo e subiram aos céus, envolvendo
os pássaros que se debatiam e caiam mortos aos pés do ladino.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Agora não vão mais incomodar – disse Justin sorrindo – Não sei como ninguém
pensou nisso antes – e sentou no chão, visivelmente estafado ao lado de algumas
aves que ainda se estrebuchavam – Cá posso me preocupar com coisas mais
importantes – e repuxou a calça exibindo o ferimento que teimava em não sarar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– É uma pena, mas vou ter que abri-la novamente perna – e pegou o
canivete que estava no bornal e cortou os pontos, abrindo novamente a ferida
com uma expressão de dor. Um fiapo de sangue escorreu do corte quando Justin
enfiou o dedo e arreganhou o machucado, expondo um objeto brilhante que se
escondia sob a dobra da pele.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Aí está você maldito – e retirou o brinco ensangüentado, limpando-o na
calça. O objeto lhe trouxe profundas recordações e Justin não pode impedir as
lagrimas de rolaram de seus olhos – Esse é o começo pai – disse em voz baixa, e
secou as lagrimas com a costa da mão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O objeto não era necessariamente um brinco. Apesar de seu formato
semelhante, era uma pequena estrela de seis pontas com uma argola saindo da
ponta maior e emitia um tênue brilho dourado quando o sol reluzia em sua
direção. Possuía algumas inscrições em alguma língua desconhecida e apesar de
estar em perfeito estado, dava a impressão de ser muito antigo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Até que enfim vou usá-lo – disse Justin retirando o brinco que usava e
colocando o outro em seu lugar, esperando que um portal se abrisse, mas não
houve resultado algum. Tentou usá-lo de outras formas, mas todas as tentativas
foram em vão e o brinco apenas emitia um pequeno calor em contato com a pele.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Maldito artefato. Qual será a maneira correta de usá-lo? – resmungou de
mau humor e retirou o brinco, guardando-o no bolso da calça. Seu ferimento
aberto começou a incomodá-lo e sabia que precisaria de cuidados se não quisesse
pegar uma infecção – Deve ser por isso que tem um hospital aqui – pensou em voz
alta – Para ajudar magos burros como eu que não conhecem nenhuma magia de cura
– e riu de sua desgraça.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Rasgou uma tira da camisa e amarrou na perna para estancar o sangramento
e, levantava-se para voltar para a sede, quando uma voz conhecida chamou sua
atenção.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– O que houve com os pássaros – perguntou Taylor se aproximando.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ah? Os pássaros? Eu os matei – disse o se recompondo – Agora não vão
mais incomodar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Você os matou?! Com ordem de quem? Sua tarefa era espantá-los, não
matá-los. Mestre Matheus não gosta que nenhuma vida seja desperdiçada
inutilmente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não foi inutilmente – retrucou Justin – Eles estavam comendo a
plantação. Agora não vão comer mais. E não me venha com essa falsa compaixão.
Eles iam morrer mais cedo ou mais tarde mesmo, comendo esse milho de quinta
categoria.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Saiba que Mestre Matheus ficará sabendo disso. E já que você terminou
seu serviço mais cedo, pode cuidar dos animais nos currais, e depois me ajudar
com os pacientes do Hospital. Ainda temos muito a fazer até o por do sol. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Você pode fazer o que quiser, mas eu não farei nada enquanto não cuidar
dessa perna. Meu ferimento abriu e esta doendo pra diabo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Deixe me ver isso – disse Taylor desamarrando a faixa – Que porcaria
você fez aqui? Parece que abriu o ferimento de propósito.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Justin puxou a perna.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Que espécie de idiota você pensa que sou para abrir o ferimento de
propósito. Eu caí enquanto corria atrás dos pássaros e aconteceu isso aí. Não
tive culpa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Hum! Por isso você quis se vingar matando os pássaros não é. Isso não
justifica. Eles não tiveram culpa de você ser descuidado – e lançou-lhe um
olhar de censura antes de pegar em seu braço e apoiá-lo – Vamos. Eu te ajudo a
chegar ao hospital. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Justin não teve remédio a não ser acompanhar o xamã que ia resmungando o
caminho todo que toda vida era importante e mesmo os pássaros causando
prejuízos não mereciam a morte. Justin agüentou a conversa até chegar ao seu
quarto e ter seu ferimento tratado, depois o despachou com a desculpa que
queria dormir e tirou o brinco para dar mais uma olhada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Mais cedo ou mais tarde vou descobrir como você funciona <i>brinco devasso</i> – disse para si mesmo – e
então o mundo será meu – e gargalhou por alguns instantes, deitando se na cama
e esticando a perna ferida que teimava em latejar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
No outro dia, já com a perna melhor, foi levado por Taylor para os
currais e teve que alimentar o gado e ordenhar as vacas e cabras e escovar os
cavalos. Chegou a pensar em usar um rito para se livrar novamente do serviço,
mas não conhecia nenhum que fizesse aquilo, então teve que trabalhar. Quando
terminou o serviço nos currais, foi levado para os chiqueiros, onde alimentou
os porcos e lavou as instalações. No final do dia estava tão exausto que nem
esperou o jantar. Caiu na cama e desmaiou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Acordou no outro dia com uma voz feminina do outro lado da cela. Abriu os
olhos e Taylor estava abrindo a porta, acompanhado de uma moça, com traços
indígenas, a mesma que o encarara quando fora buscar as ferramentas no depósito
e não parecia feliz em estar ali, naquele momento.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Por que tenho que trabalhar com ele. É um ladino e tentou roubar a GD –
disse a moça sem se preocupar que Justin pudesse ouvir.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– São ordens do Mestre e ele não é tão ruim assim. Cuidou muito bem dos
animais ontem – respondeu Taylor desviando o olhar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Pois eu fiquei sabendo que ele matou todos os pássaros do campo para
não ter que afugentá-los e só não matou os animais do curral por que você
estava vigiando.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Isso não é verdade – emendou Taylor – Quer dizer, a parte dos pássaros
sim, mas mesmo assim... Bem esqueça. O Mestre Matheus ordenou e não devemos
questionar suas ordens. Você sabe disso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Bom dia pra vocês também – disse Justin entrando na conversa – Sempre fico
feliz em ser o assunto mais comentado do momento – e sentou-se na cama – Aonde
vão me escravizar hoje?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Bom dia Justin – respondeu Taylor – Essa é minha irmã Nayara Wind. A
partir de amanhã você poderá se mudar para os dormitórios e ela será sua
companheira de quarto e o ajudará a se adaptar à vida na GD. Mestre Matheus
ficou impressionado com seu esforço ontem e decidiu lhe dar uma nova chance.
Vai conviver com os aprendizes e terá aulas com os Mestres, e se for aplicado
poderá se tornar um Companheiro como eu e até um Mestre como o Mestre Matheus.
Mas terá que continuar a realizar suas tarefas. Todos temos que colaborar para
o bom funcionamento e manutenção da GD.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Justin tentou não demonstrar surpresa, mas não esperava por aquilo. Fazia
poucos dias que estava preso e trabalhando e esperava ficar um bom tempo assim,
antes de conquistar a confiança dos Mestres. Sabia que homens e mulheres
compartilhavam os dormitórios na GD e ainda se lembrava do banho que tomara com
a garota indiana, dessa vez, porém, ficaria com a irmã do xamã e ela não
parecia muito satisfeita com isso. Levantou-se e tentou sorrir para ela, mas a
garota estava com a cara amarrada e não parecia disposta a concordar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Eu não vou dormir com um ladino. E se ele me atacar à noite? – disse a
moça olhando para o irmão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ele não vai te atacar. Mestre Matheus me garantiu isso – A moça não
parecia se contentar e encarou Justin com raiva no olhar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Se você tentar algo comigo eu corto seu pinto – e fez sinal com as mãos
indicando o corte – Corto e jogo pros porcos. Eles vão adorar. Eles comem de
tudo sabia?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Justin recuou. Nayara não devia ter mais que treze anos, mas era moça
formada, com belas pernas e formas arredondadas. Sua pele morena combinava com
seus longos cabelos negros e os olhos, grandes e amendoados, conferiam-lhe um
ar inocente. Dessa vez, porém, a moça parecia falar serio e o ladino preferiu
agir como se a moça não fosse importante.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não tenho interesse nenhum em você. Pode ficar sossegada. Gosto de
mulheres civilizadas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A garota quase pulou sobre ele ao ouvir isso. E só se conteve quando o
irmão a puxou para trás e segurou seus braços firmemente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Me solte! – disse para o irmão – Vou mostrar a ele quem não é
civilizada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Justin – disse Taylor – Não fique provocando a Nayara está bem. Ela não
tem muita paciência e vocês vão trabalhar juntos a partir de amanhã. Mestre
Matheus quer que vocês passem a cuidar dos pacientes e eles ficam sensíveis
quando percebem alterações de humor.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Quem são esses pacientes? – perguntou Justin mudando de assunto – Vocês
não têm nenhum druida aqui que posso cuidar dos doentes? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não são doentes comuns – respondeu Taylor – São magos com problemas
mentais. Pessoas que passaram por algum trauma muito forte ou não conseguiram
aceitar suas responsabilidades e acabaram aqui e não há cura para os males da
alma. Nem mesmo Mestre Matheus pode reverter isso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Eu não quero trabalhar com ele – disse Nayara inconformada, chamando a
atenção para si – Prefiro cuidar dos porcos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não vou ouvir mais nada sobre isso <i>Nay</i>.
Você concordou em obedecer quando aceitei trazê-la comigo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A moça ainda resmungou um pouco, mas acabou aceitando. Sabia que não
podia contrariar a ordem de um Mestre e seu irmão estava determinado a
lembrá-la disso – Ok então. Depois não diga que não avisei – e virou as costas
e saiu sem olhar para trás.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Acho que ela não gosta mesmo de mim – disse Justin olhando o movimento
do quadril da moça enquanto ela se afastava.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– A Nayara é desconfiada assim mesmo. Com o tempo ela vai aprender a
gostar de você. Não se preocupe.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O diálogo estava ficando muito pessoal e Justin não gostava de
compartilhar sentimentos, então mudou o rumo da conversa para sua tarefa do dia
seguinte.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Esses loucos que você disse. Ainda não vi nenhum por aqui. Onde eles
estão?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Estão nas celas – respondeu Taylor – Só saem para comer e tomar sol,
mas não ficam muito tempo livres, a magia de retenção pode falhar e seria muito
perigoso se um paciente usasse um ritual aqui.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Como assim? Eles são loucos não são?!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Os pacientes têm variados graus de insanidade, mas são magos e podem
usar magia, e seria perigoso para eles próprios e para os demais se invocassem
um círculo e fizessem um ritual de troca. Por isso o hospital é selado. Não se
pode usar magia aqui dentro. Um Grão Mestre do passado – Alek Rose – cobriu
esse local com um selo perpetuo que não permite que o ritual se concretize,
deixando os internos, e a nós também, indefesos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Hum! Entendi – respondeu Justin percebendo o porquê de o terem trancado
lá: considerando que a historia do xamã fosse verdade, mesmo que ele não
estivesse fraco não poderia usar um ritual para fugir e, se tentasse, de alguma
forma eles descobririam. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Bom. Já falei demais. Hoje você vai limpar os banheiros daqui e da sede.
É sua última tarefa com prisioneiro. Amanhã você começa a trabalhar como
aprendiz. Vou te esperar lá fora enquanto você se troca, não demore!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– <i>Grande diferença</i> – pensou
Justin enquanto vestia o uniforme de trabalho: um conjunto laranja de manga
curta e cintura apertada. <i>E agora vou ter
que limpar a merda da GD toda. Só pode ser brincadeira</i> – e saiu atrás de
Taylor.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Lá fora o dia estava nublado e um vento frio soprava do leste, arrepiando
os pêlos dos braços do ladino e fazendo-o encolher. Taylor percebeu e pediu a
um aprendiz que passava por ali, para buscar um casaco para Justin e entregar a
ele no banheiro dos Mestres, na sede. O rapaz deu meia-volta e desapareceu em
direção aos dormitórios enquanto o xamã tentava puxar conversa com o ladino.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não sei qual o seu grau de conhecimento, mas aprende-se muito aqui.
Tenho certeza que você vai gostar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Estranho! – respondeu Justin cortando o assunto – Sempre aprendi que os
xamãs são briguentos e irresponsáveis, tipo sua irmã, mas você é diferente. Por
quê?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Taylor riu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Essa é a definição dos círculos Justin. Na GD tudo é diferente. Aqui
aprendemos que tudo o que fazemos tem conseqüências. Boas ou ruins. Se fizermos
coisas boas. Coisas boas aconteceram conosco. Por outro lado, se agirmos de
forma egoísta. Assim também será o resultado. Nosso grão-Mestre Jeú desenvolveu
essa filosofia em seu primeiro ano aqui e foi a primeira coisa que implantou
quando assumiu a GD. Não há lugar para intrigas e maquinações aqui. Nayara
ainda é nova, mas ela também vai aprender isso – e virou-se para Justin – e
você também.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– <i>Eu não</i> – pensou Justin, mas
manteve para si.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Chegaram aos banheiros e Taylor deixou o ladino e foi cuidar de suas
obrigações. Justin se irritou ao ver a situação dos toaletes. Estavam inundados
e com absorventes usados espalhado por todos os lados. As privadas pareciam não
estar funcionando há anos e dejetos e restos de papel higiênico flutuavam no
liquido escuro formando uma sopa espessa e malcheirosa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Que merda! – xingou em voz alta – A quanto tempo será que ninguém limpa
essa porcaria?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Passou o dia limpando banheiros e lavando toalhas. Felizmente os demais
não estavam no mesmo estado do primeiro e o serviço foi mais tranqüilo. No
final do dia tomou um banho e se recolheu a sua cela, cansado, mas na
expectativa de testar a veracidade da história sobre magia ali. Pensando assim,
abaixou as mãos, cruzando-as e formando um circulo estrelado. Fechou os olhos
rapidamente e recitou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><i>XXVI <span style="text-transform: uppercase;">Canção do Livro Marrom</span><o:p></o:p></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Abriu os olhos e ergueu as mãos. Um <i>crack</i>
indicou que algo se quebrara e luz turva começou a emanar da rachadura,
iluminando a cela escura. O ladino sorriu satisfeito e começou a executar o
canto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i>Da pedra o sustento, da terra o...<o:p></o:p></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Sentiu a garganta trancar e a língua enrolar na boca. Tentou gritar, mas
a voz não saiu. A língua começou a inchar e preencheu todo o espaço de sua
boca, fazendo com que sufocasse. O oxigênio começou a faltar em seu cérebro e
por instantes achou que ia morrer, mas a porta da cela se abriu e Nayara entrou
correndo e abriu sua boca, puxando sua língua e liberando a entrada de ar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– SEU IDIOTA! – disse a moça exasperada – MEU IRMÃO NÃO DISSE QUE NÃO
PODIA USAR MAGIA AQUI?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Justin inspirou profundamente e teve um acesso de tosse, caindo sobre a
cama. A língua aos poucos começou a desinchar e permitiu que ele falasse.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– <i>Sisse,</i> mas eu queria <i>tser certesza</i> – respondeu com a língua
ainda meio inchada – Que <i>drroga</i>.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Eu devia tê-lo deixado morrer pra você aprender.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– <i>Obrigzado</i>! <i>Err... pozr </i>não me<i> deixarr morrerr. </i>Até<i> quandzo
</i>eu vou ficar com a língua<i> azim?</i><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Deve voltar ao normal em poucas horas. E que isso lhe sirva e lição.
Quanta inconseqüência – e virou-se para sair – E agora vá dormir que amanhã
cedo começa seu turno.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– <i>Obrigzado Nobamente</i>!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Demorou a dormir, pensando no que havia acontecido, mesmo assim acordou
cedo no outro dia e foi se vestiu para o trabalho, mas Nayara chegou e o mandou
trocar de roupa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Agora você não é mais um prisioneiro. Pode usar sua roupa normal.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Justin sorriu, não porque poderia usar sua roupa normal, mas sim por que Nayara
estava extremamente linda. Usava uma calça de couro marrom, bem justa, e um top
vermelho que destacava seus pequenos seios. Um colar de conchas adornava seu
busto e, nos pés, botas pretas de salto alto fechavam o conjunto. O cabelo,
negro e liso, estava preso num rabo de cavalo e pela primeira vez, desde que a
conhecera, estava maquiada. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– O que foi? – disse ela sorrindo e estranhando a cara de bobo de Justin.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Err... Nada não, vou me trocar e já te alcanço.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A moça concordou com a cabeça e saiu enquanto Justin vestia rapidamente
sua roupa comum e saia apressadamente atrás dela.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Passaram pelo corredor central enquanto conversavam sobre o hospital.
Nayara contou que um Mestre do espírito havia, há muito tempo, conjurado um
ritual para impedir que os internos usassem magia ali dentro, e evitar
possíveis acidentes – Os pacientes – dizia ela – não discernem as coisas e agem
por impulso, logo, não têm consciência das conseqüências de seus atos e por
isso são muito perigosos. Um ritual executado por um mago desequilibrado pode ter
resultados catastróficos. Tem até uma piada – continuou ela – de um alquimista
que, louco, matou seu melhor amigo e usou seu cérebro num ritual em troca da
sanidade, porém, ao se curar e constatar o que havia feito ficou louco de novo.
É uma piada besta, mas no leva a pensar sobre os perigos do uso incorreto da
magia – Apesar de já ter ouvido a mesma historia por Taylor, Justin ouvia tudo
de boca aberta e começava a entender a realidade do lugar. Porém um fato chamou
sua atenção.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Como você percebeu o que se passava comigo ontem? Por acaso estava me
vigiando? – perguntou interrompendo a moça.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– De certa forma sim – respondeu Nayara – na verdade todos os internos
são vigiados. Existem câmeras de segurança em todas as celas e fazemos plantão
para cuidar que ninguém faça alguma besteira.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O ladino se preparava para protestar quando encontraram Mestre Matheus.
Nayara fez uma referencia e Justin a acompanhou da melhor forma possível.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Bom dia meninos – disse Matheus
saudando-os.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Bom dia Mestre – respondeu Nayara – estava levando Justin para seu
primeiro dia de trabalho no hospital.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Que ótimo <i>Nay</i>, mas
infelizmente Mestre Jeú me pediu pessoalmente que encaminhasse Justin para seu
gabinete. Ele o quer tomando conta de suas necessidades e acredita que um
ladino conseguira melhor auxiliá-lo na administração.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Nayara fez cara de decepção, mas logo se recompôs e sorriu para Matheus.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Claro Mestre, não tem problema, vou procurar outra pessoa para me
ajudar. Até mais – e saiu apressadamente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Parece que vocês estavam se dando bem – disse Matheus assim que Nayara
desapareceu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– É. Estávamos. Por que o velhote me quer ajudando-o? Deve ter muitos
aprendizes ou Companheiros mais capacitados que eu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não sei, mas acredito que ele se vê refletido em você, por isso quer
ajudá-lo. Vamos não devemos deixá-lo esperando.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Justin seguiu Matheus a contragosto e logo chegaram à sala do Mestre. Era
a mesma sala onde ele estivera dias atrás roubando o <i>brinco devasso</i>, mas agora o Grão-mestre não estava sozinho: cinco
pessoas, todas elas Mestres, incluindo duas mulheres discutiam com Jeú sobre os
rumos que a GD tomaria dali em diante. Ao perceberem a chegada dos dois, todos
se levantaram e se despediriam, deixando apenas o velho, Matheus e Justin no
aposento.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O velho recebeu Matheus com um abraço e o convidou a sentar, enquanto ordenou
a Justin que limpasse os artefatos e tirasse o pó das estantes.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Tive aquele sonho novamente Mestre – disse Matheus sentando-se na
cadeira – mas dessa vez parecia que o final seria diferente. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Jeú o encarou com seus olhos vazios e tomou um gole da bebida que estava
sobre a mesa, esperando que ele começasse a narrativa. Matheus entendeu a deixa
e respirou fundo, criando expectativa para a história que ia contar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– <i>Sonhei com uma grande batalha </i>–
começou o sábio –<i> que começava na terra,
passava pelo fogo e terminava no espaço e da qual todos os elementos faziam
parte. Almas, espíritos, fogo, água, terra, luz, etc. Todos se concentravam e
se uniam ao redor de uma grande bola de energia escura, que subia aos céus e
desaparecia, vindo novamente a surgir em um lugar distante, amplo e iluminado,
onde dois deuses, um velho e um jovem, se enfrentavam e despedaçavam o universo
aos seus pés, lutando entre corpos sem vida de anjos e homens. Vi ainda uma
sombra que se levantava do túmulo e se unia a uma serpente coroada, como se uma
fosse a vestimenta da outra e elas portavam a resposta para uma pergunta
incompreensível. Vi alma e espírito, caminhando lado a lado e cantando uma
canção de esperança. Vi a derrota fugindo e júbilo e alegria tomando conta da
multidão, em meio a um fogo que subia da terra e iluminava o céu, levando justiça
e liberdade para todas as pessoas do mundo, enquanto se enrolava,
definitivamente, o manto celeste e infinito do Criador. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Infelizmente acordei antes do final e isso me deixou ainda mais confuso
sobre o sentido dessa revelação – concluiu, olhando Jeú nos olhos – Gostaria da
sua opinião Mestre.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O velho pigarreou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Eu já vivi muito tempo e cometi mais erros do que seria permitido a uma
pessoa cometer – começou Jeú, sacudindo as mãos e virando os olhos, como se
tentasse afastar as lembranças – então talvez não seja a pessoa mais indicada
para lhe dizer isso, embora o faça de qualquer maneira: não há, nesse tempo,
mais espaço para a relutância e a covardia. Os sinais são tão claros que até um
cego com eu posso vê-los. Meu conselho é que você faça o que tem que ser feito,
mesmo que isso custe a alegria ou mesmo a existência de todas as pessoas que lutamos
até hoje para proteger. Já adiei demais essa decisão e, mesmo que eu não
consiga apagar os erros do passado, talvez consiga corrigir as injustiças do
futuro. E você Matheus, fará parte disso. Onde falhei, você triunfará. Onde
hesitei, você decidirá – e tossiu, cobrindo a boca com as mãos – Confio a você
a nossa sorte, como antes confiaram a mim, e o conclamo senhor e guardião de nosso
destino. Nosso e o de toda a humanidade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Matheus abaixou a cabeça e Jeú tocou seu ombro, como se o estivesse consagrando
e investindo com uma missão, enquanto Justin, que ouvia tudo com atenção,
virou-se para a parede e sorriu seu sorriso de lobo. Do lado de fora os sinos
tocavam e os alunos e Mestres celebravam e gritavam:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– MATHEUS É O NOVO GRÃO-MESTRE DA GD.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle">
<br /></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<b><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">***<o:p></o:p></span></b></div>
</div>
Feitosahttp://www.blogger.com/profile/01786865127916010920noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9204546804128450555.post-6777741760534524862011-08-16T14:45:00.000-07:002014-01-04T16:51:16.391-08:00CAPÍTULO X<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRaOvqs-_oBWyj77VfyrzdTSy5nf7spwV5SkmlFpOOZLEHR6XuRPmH1EdQQKxRCHws1WjlP_UXSE95HFHwRNslFA5BzrDBedKRI3CPw6BB9C21F1b2ZyBpdq4hJfGCx1FNQXCDimXUCM0A/s1600/foto-hospital.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRaOvqs-_oBWyj77VfyrzdTSy5nf7spwV5SkmlFpOOZLEHR6XuRPmH1EdQQKxRCHws1WjlP_UXSE95HFHwRNslFA5BzrDBedKRI3CPw6BB9C21F1b2ZyBpdq4hJfGCx1FNQXCDimXUCM0A/s320/foto-hospital.jpg" height="240" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<h1 align="center" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: center;">
<span style="line-height: 150%; text-transform: uppercase;">O PLANO</span></h1>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
R<span style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">ebecca acordou no hospital se perguntando como chegara até ali. Lembrava-se
da árvore à levantando do chão, do medo, do desespero e depois a queda.
Quebrara algumas costelas, mas por sorte estava próxima ao solo quando o
carvalho a soltou, se estivesse na copa provavelmente não teria sobrevivido ao
tombo e agora estaria num caixão ao invés de em um hospital. </span><i style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">Pelo menos nesse caso não estaria com tanta
dor, </i><span style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">pensou.</span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Levantou-se amparada a cama e tentou andar, mas estava muito fraca e teve
que sentar e se escorar na cabeceira para não cair. Um relâmpago rasgou o céu e
iluminou o quarto fazendo com que aflorasse lembranças da fuga no dia anterior.
As imagens eram vagas e confusas, mas se lembrava que estava chovendo e
chovendo muito, o que era bom considerando o incêndio que Adam havia causado no
parque. <i>Por que começou a chover?</i> Pensou.
O céu estava limpo, sem nenhum sinal de nuvens no momento da batalha, mas
depois, de alguma forma, o tempo mudara radicalmente e começara o temporal,
fato que perdurava até o presente momento. Porém, a dúvida persistia na cabeça
da cabalista – <i>teria sido coincidência,</i>
<i>ou a chuvarada havia sido provocada?</i>
Depois de ter visto um ranger em ação, controlando as árvores do parque, ela
não duvidava de mais nada.</div>
<a name='more'></a><span style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">Mais um relâmpago iluminou o quarto e Rebecca tentou levantar-se
novamente, mas dessa vez a mãe de Adam – dona Rute – adentrou o quarto nervosa
e a enxotou para a cama.</span><o:p></o:p><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Nem pense em levantar mocinha, você está muito ferida. E aproveite que
acordou e me conte o que aconteceu. Nenhuma mãe merece a aflição de encontrar
um filho estropiado e ninguém para dar uma notícia do que possa ter acontecido.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Adam ainda não acordou? –
perguntou Rebecca surpresa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não! Não acordou e não mude de assunto. O que aconteceu para vocês
chegarem naquela situação? Adam mal teve forças para chegar até a
porta. Se eu não estivesse em casa para trazer vocês correndo para o hospital,
não sei o que poderia ter acontecido.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Rebecca sentiu-se embaraçada. Não sabia se jogava limpo e falava toda a verdade
para a mãe de Adam, ou inventava um desculpa e deixava para o alquimista a
decisão de abrir o jogo. Por fim decidiu passar a batata quente para ele e, por
hora, inventar uma desculpa. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Um incêndio nos pegou no parque. Estávamos fazendo um piquenique e
ouvimos o barulho e os gritos das outras pessoas. Adam tentou correr para ver o
que estava acontecendo, mas o fogo nos cercou e ficamos rodeados pelas chamas.
Nossa única alternativa foi subir na copa de uma arvore e esperar pelo socorro,
mas infelizmente a arvore não resistiu as labaredas e cedeu. Tentei pular e
correr para o lago, mas cai de mau jeito e quebrei algumas costelas, enquanto
Adam literalmente caiu no meio do fogo, não sei como ele conseguiu sair e ainda
me ajudar a escapar, deve ter sido um esforço sobre humano.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Dona Rute aparentemente não desconfiou da mentira e parecia
comovida com o esforço e o heroísmo do filho. Rebecca se preparava para
acrescentar mais detalhes e tornar a estória mais verídica quando uma
enfermeira entrou no quarto e encarou dona Rute.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Seu filho acordou senhora.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A mãe de Adam não se conteve de felicidade e saiu pela porta, agradecendo
a Deus e deixando Rebecca a sós com a enfermeira.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Será que você poderia me ajudar a chegar ao quarto dele. Também
gostaria muito de vê-lo – pediu Rebecca tentando se levantar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A enfermeira trouxe uma cadeira de rodas e levou Rebecca pelos corredores
até o quarto de Adam. O alquimista estava realmente acordado e tentava
despreocupar a mãe. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não foi nada de mais mãe. Não tinha por que ficar tão preocupada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Que não tinha o quê. Você chegou em casa parecendo um zumbi e não
queria que eu me preocupasse!?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Olá – disse Rebecca entrando pela porta e interrompendo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Rebecca! – disse Adam se sentando na cama – Que bom que você está bem.
Ninguém queria me dar informações e eu estava preocupado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Apenas algumas costelas quebradas, nada mais. E você com está?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Acho que estou melhor que você. O médico disse que não quebrei nada e
em alguns dias estarei pronto para outra.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Rebecca riu apesar da dor que sentia nas costelas, mas a mãe de Adam não
achou graça.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não há nada de engraçado nisso crianças. Vocês poderiam ter morrido.
Rebecca me contou como você saltou no meio do fogo para resgatá-la quando ela
caiu da arvore e a levou até em casa, mesmo também estando machucado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam olhou curioso para Rebecca, pensando no que a cabalista teria
inventado para sua mãe. A garota sorriu um sorriso amarelo e piscou para o
rapaz.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Achei que sua mãe merecia saber.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Err... É claro – respondeu Adam – Fiz o que qualquer um teria feito.
Era necessário e... urgente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Dona Rute entendeu apesar de pedir ao filho que fosse mais cuidadoso.
Adam concordou e a mãe começou um discurso de que só tinha ele no mundo e não
saberia o que fazer se algo grave lhe acontecesse. Isso deixou o rapaz ainda
mais preocupado. Não esquecera o ataque que sofrera no parque e se aquele
estranho grupo voltasse a atacar, sua mãe poderia sofrer as consequências.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Quando vou receber alta – perguntou se levantando e calçando os
chinelos – Já estou bem. Posso voltar para casa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– O médico ainda não decidiu – respondeu dona Rute – mas acredito que, se
tudo correr bem, amanhã já poderá ir pra casa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Também quero ir – disse Rebecca – detesto hospital e já estou boa
também.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Acho que você terá que permanecer um pouco mais querida. Seu caso é
mais grave – respondeu dona Rute desanimando a cabalista.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A enfermeira concordou em deixar Rebecca no mesmo quarto de Adam, desde
que dona Rute permanecesse com eles, então o restante do dia acabou sendo mais
divertido. Conversaram bastante, apesar de não citarem nada referente à magia,
e reclamaram juntos da comida do hospital. No horário de visita, Willian e Lisa,
acompanhados de um grupo de amigos, foram visitar o casal e levaram salgadinhos
e refrigerantes, fazendo uma verdadeira festa no hospital, apesar dos protestos
de dona Rute. À noite, no telejornal local, o apresentador deu a noticia do
incêndio no parque e invocou a divina providencia como resposta para a chuva
que caiu durante todo o dia. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– <i>O fogo, que começou de forma
misteriosa, se alastrou por toda a extensão do parque, queimando as arvores e
os quiosques que se encontravam no caminho. As autoridades suspeitam que tudo
possa ter acontecido devido a um descuido dos visitantes, provavelmente uma
bituca de cigarro ou uma fogueira mal apagada. O corpo de bombeiros esteve no
local, mas a chuva, que providenciosamente começara logo depois do incêndio, já
havia apagados as chamas.</i><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam e Rebecca se entreolharam enquanto dona Rute assistia atônita, o
desenrolar dos acontecimentos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– <i>Não vimos como começou </i>–
dizia um cidadão entrevistado –<i> De repente
as árvores estavam pegando fogo e depois tudo ficou escuro e começou a chover.
Foi Deus, com certeza. </i><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
As noticias seguiram nos outros telejornais. Cada um enfatizando, a seu
modo, a maneira como o incêndio magicamente foi controlado. Dona Rute trocava
avidamente de canal, procurando uma reportagem que lhe desse mais detalhes e só
desanimou e desligou a TV quando o último noticiário chegou ao fim. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Os três pousaram no mesmo apartamento e no outro dia, bem cedo, o médico chegou
para dar alta para Adam e transferir Rebecca novamente para seu quarto. A moça
tentou convencê-lo a lhe dar alta também, mas o doutor insistiu que ela ficasse
mais um dia e ela acabou aceitando. Adam foi visitá-la no dia seguinte, mesmo
estando preocupado em deixar a mãe desprotegida. Dona Rute não pode
acompanhá-lo já que havia faltado dois dias no serviço e precisava recuperar o
tempo perdido, mesmo assim mandou lembranças a Rebecca e votos de melhoras. Os
amigos também voltaram e repetiram a festinha do dia anterior, agora mais
ousados, sem a presença de dona Rute para freá-los. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
No outro dia Rebecca recebeu alta e Adam foi buscá-la no hospital com o
carro da mãe. Apesar de saber que o alvo dos agressores era ele, também temia
por Rebecca e insistiu para que ela ficasse um tempo em sua casa, até estar
totalmente recuperada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não precisa esquentar a cabeça comigo Adam – disse Rebecca entrando no
carro – Sei cuidar de mim mesma. Se eles voltarem a nos importunar vão ter uma grande
surpresa. Não se preocupe – mas Adam insistiu e a moça acabou aceitando.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ok então. Mas só até eu estar completamente recuperada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Dona Rute, que sugerira a idéia à Adam, recebeu Rebecca de braços abertos
e arrumou um quarto, ao lado do seu, para Rebecca dormir.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– A casa não é luxuosa, mas tem bastante espaço – disse dona Rute
indicando o quarto a Rebecca – Pode se acomodar aqui e se precisar de alguma
coisa, não hesite em me chamar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Obrigado dona Rute. A senhora não existe. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Dona Rute sorriu e gesticulou como se aquilo não fosse nada de mais e saiu,
voltando para a cozinha para preparar o café. Teria que partir em seguida para
o trabalho e queria deixar tudo preparado para o café e almoço do casal. Quando terminou, subiu ao quarto de Adam e se despediu
do filho, sugerindo que ele convidasse Rebecca para o café e depois a levasse
para passear nos jardins, no fundo do casarão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
O café foi tranquilo, com Adam excedendo o cavalheirismo com Rebecca, a
ponto de querer passar manteiga no pão e dar-lhe de comer na boca.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não estou aleijada Adam – disse Rebecca sorrindo – posso muito bem
comer sozinha.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam se desculpou e se preparava para convidá-la para passear no jardim
quando a campainha tocou, desviando a atenção do alquimista para a porta.
Apesar de gostar da companhia dos amigos, pretendia passar algum tempo sozinho
com Rebecca e uma visita àquela hora poria tudo a perder. Saiu da cozinha e foi
até a porta pensando numa desculpa para despachar os colegas, mas, para sua
surpresa, não eram seus amigos da faculdade. Um rapaz loiro e de olhos verdes,
olhava para o olho mágico da porta, tentando enxergar algo em seu interior e
tocava novamente a campainha, enquanto a jovem ao se lado, de longos cabelos
prateados, puxava seu braço e ria da curiosidade do namorado. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– O que vocês querem aqui? – perguntou Adam abrindo a porta de supetão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
A forma como Adam os recepcionou pegou o casal de surpresa e ambos
pularam para trás sobressaltados. Wesley tentou balbuciar alguma coisa, mas Mariah
tomou a iniciativa e encarou Adam, dando um passo a frente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Acalme-se alquimista. Viemos em paz.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Paz! – fungou Adam exaltado – depois do que vocês fizeram a mim e a
Rebecca no parque.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Tivemos nossos motivos – retrucou Wesley pegando na cintura de Mariah –
E é sobre isso que queremos falar com você. Podemos entrar?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não! Não podem – respondeu Adam irritado – Não me importam seus
motivos. Nada justifica uma agressão como aquela.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Wesley suspirou e Mariah voltou a tomar a frente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Se você não sabe, eu salvei sua vida. A sua e a daquela garota judia.
Thomas teria matado ambos se eu não tivesse interferido.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ah! Muito Obrigado! – respondeu Adam indignado – Mas eu estava indo
muito bem sem sua ajuda. Por pouco meu ataque não os acertou em cheio, e eu ainda
tinha muitos truques na manga. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Há! – exclamou Mariah – A única coisa que você conseguiu foi colocar
fogo no bosque. Thomas acabaria com você em minutos se a luta continuasse, e
sua amiga não lhe seria de grande ajuda se Wesley tivesse atendido ao pedido de
Thomas e a empalado nos galhos das árvores.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Wesley passou a mão no cabelo impaciente e puxou Mariah pelo braço.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Esqueça amor! Essa discussão não vai levar a lugar nenhum e esta claro
que o alquimista não esta disposto a negociar. Vamos deixar tudo nas mãos de
Thomas mesmo, como ele queria. Não devíamos ter nos intrometido. Não tínhamos
nada a ver com essa busca pela árvore da vida.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Como é? – perguntou Rebecca aparecendo atrás de Adam e se intrometendo
na conversa. Vocês também estão em busca da árvore da vida? Quem são vocês?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Sou Wesley Green – respondeu Wesley – e minha namorada é Mariah White.
Estamos acompanhando meu primo Thomas nessa jornada, mas antes precisamos
dos artefatos do nosso avô, que o avô desse aí roubou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Meu avô não roubou nada – respondeu Adam erguendo o tom de voz – Todos
os artefatos que ele me deixou lhe pertenciam. Ele os encontrou em suas
andanças pelo mundo e os marcou com suas iniciais. Todos, exceto o mapa que
tinha as inicias... Como é o nome do seu avô?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Jonatas Black – respondeu Wesley – ele assinava com um JB no final das
páginas e tenho certeza que você tem artefatos dele. Thomas não mentiria.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Temos alguma coisa – respondeu Rebecca cortando Adam – Entrem. Vamos
conversar lá dentro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam liberou a passagem a contragosto e seguiu o casal que acompanhava a
cabalista até a sala. Sentaram-se e Rebecca começou a especular sobre o
parentesco deles com o necromante Jonatas Black.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Jonatas Black era nosso avô, então Thomas e eu somos primos – disse Wesley – Minha mãe é irmã do pai dele,
por isso ele é um <i>necromante</i> e eu um <i>ranger</i>, como meu pai. Quando ele morreu,
há dezoito anos, Thomas ainda era um bebe, mas cresceu seguindo os passos do avô
e, apesar de seus pais não quererem, tomou para si a tarefa de completar sua
missão e resgatar o fruto da árvore da vida. Ele sempre foi obstinado e, apesar
do jeitão de carrasco, é uma boa pessoa. Tenho certeza que depois de ouvirem
nossa história, vocês entenderão:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Thomas sempre foi o exemplo típico
de necromante: esperto, curioso, inteligente e ousado. Entrou no circulo negro
com apenas cinco anos e, mesmo não tendo domínio da magia, já se destacava entre
os outros meninos. Com quatorze registrou uma canção no livro negro e com
dezessete já estava formando. Depois permaneceu mais dois anos no circulo,
trabalhando como monitor e ajudando os novatos a se adaptarem.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Os Black, ao contrario dos Night,
não são uma família rica e só com muito esforço, seus pais conseguiram pagar
sua permanência no círculo.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i> Seu pai – Edmund Black – era muito rígido e
sempre exigiu de seu filho as melhores notas, por outro lado, sua mãe sempre o
incentivava e sempre foi um amor de pessoa. Ela ficou muito triste quando ele
decidiu deixar sua cidade natal e sair pelo mundo em busca do fruto, mas acabou
aceitando a decisão do filho.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>A busca pela árvore da vida era
tabu entre os necromantes desde que Jonatas Black desapareceu em sua caça e
surgiram rumores de que um alquimista, seu amigo, teria usurpado seus artefatos
e dado cabo de sua vida. Thomas não tocava nesse assunto, mas a partir da
“passagem” de seu pai – que não aprovava a vontade de Thomas de se envolver com esse tipo de
aventura e nem queria ver o nome da família metido em confusões com outras
classes – começou a buscar informações sobre o caso e, com o acesso aos
arquivos que tinha conquistado como monitor, encontrou os registros da época
com o nome, localização e estado civil do alquimista que tinha desgraçado seu
avô. Com esses dados em mãos, buscou, com um ancião do círculo que lhe tinha
apreço, a situação atual do acontecimento e descobriu que o alquimista já
estava morto desde a tentativa frustrada de invasão do jardim, mas que, antes
de morrer, enviara os artefatos de Jonatas para seu filho, hoje também
falecido, e que agora estavam em poder de seu neto – Adam Ocher – um alquimista
sem grande projeção. Ele jurou reavê-los e terminar o serviço do avô, regatando
o fruto da árvore da vida e liderando a resistência da humanidade na batalha do
apocalipse.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Quanto a mim, cresci sob a sombra
de Thomas e, sempre que seus pais iam nos visitar, falavam sobre seus feitos e
os planos que tinham para ele no futuro. Thomas por sua vez, não comentava os
projetos de seu pai e sempre mantinha a discrição quanto ao seu futuro. Eu o
admirava muito, não apenas pelo prestigio e capacidade, mas também pela pessoa
que ele era. Sempre me defendia dos outros garotos e, apesar de eu ser um
ranger, me tratava como um igual e não deixava os outros necromantes zombarem
de mim. Porém, ao mesmo tempo em que era legal, também era muito exigente e não
aceitava sinais de fraqueza e me repreendia quando eu agia de maneira covarde.
Mesmo assim éramos felizes. Brincávamos nas ruas e nas praças, imitando
personagens famosos do passado e, quando saíamos de férias, Thomas me convidava
para uma aventura e sempre assumia a culpa quando nos envolvíamos em confusão,
que era quase sempre.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Meu pai era um ranger não
praticante e levava a vida sem se preocupar com o amanhã, sendo assim, todo meu
incentivo veio de minha mãe e da família de Thomas e por pouco não me tornei um
bastardo<sup>12</sup>, mas quando a magia aflorou em mim, no início da
adolescência, senti o apelo da natureza e deixei de lado todas as minhas
pretensões necromantes.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>Frequentei o Círculo Verde, mas
nunca fui um discípulo muito aplicado, mesmo assim Thomas me chamou ajudá-lo
quando decidiu iniciar sua jornada e eu, querendo mostrar a todos que não era o
desqualificado que todos pensavam, aceitei.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<i>No caminho para cá, conhecemos
Mariah e foi a melhor coisa que me aconteceu. Ela aceitou vir conosco e nos
ajudar e, quando tudo isso acabar, pretendemos nos casar. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Wesley terminou o relato beijando as mãos de Mariah, que afagou seu
cabelo e levantou seu rosto, dando-lhe um selinho. Rebecca acompanhava tudo
interessada, enquanto Adam resmungava em seu canto, carrancudo. Não gostava da
maneira como o ranger falara de seu avô e gostava ainda menos de ter um
concorrente na busca pelo fruto imortal. A cabalista parecia não se importar
com os muxoxos de Adam e começou a indagar se eles conheciam a rota para chegar
ao jardim e os perigos que enfrentariam.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Estamos cientes dos perigos – respondeu Wesley – mas não conhecemos bem
o terreno. Thomas diz que assim que recuperarmos o mapa poderemos nos situar,
porém, antes temos que descobrir uma maneira de decifrar os manuscritos e
encontrar o artefato que abre o portão. Sem eles o mapa não serve para nada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Então temos muita coisa para pesquisar – disse Rebecca – Mas para isso
temos que nos ver com certa frequência. Onde vocês estão hospedados?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Estamos no hotel Royale – respondeu Wesley – mas Thomas quer fechar a
conta. Está ficando muito caro manter os quartos e temos que economizar para a
viagem até o Iraque.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Rebecca olhou para Adam esperançosa, mas o alquimista retribuiu com
frieza no olhar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Aqui não podem ficar – respondeu – Minha mãe nunca permitiria e também
não podemos bancar os custos. Eu não trabalho e minha mãe não ganha o
suficiente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Eu poderia ajudar – disse Rebecca – tenho algumas economias e posso
pedir ajuda a meus avós se as coisas complicarem, mas a decisão é sua Adam.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não será necessário – interveio Wesley percebendo a má vontade de Adam
– Vamos dar um jeito. Qualquer coisa montamos acampamento no campo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– A CASA DE SUA AVÓ! – disse Rebecca como os olhos brilhando – Ela é
perfeita. Longe da cidade, tranquilo e só você tem acesso. Eles podem ficar lá.
Poderemos visitá-los sempre que precisarmos e ninguém desconfiará de nada.
Afinal, o terreno é seu agora.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam não gostou da idéia. Não queria profanar o lar de seus avós com
pessoas que eles não conhecessem, mas sabia que precisaria da ajuda de Rebecca
e dos outros se quisesse ter êxito em
sua missão, então aceitou. Mariah parecia feliz e Wesley acertou os detalhes
com Rebecca e tentou cumprimentar Adam, mas ele virou as costas e voltou para o
quarto. Rebecca o procurou minutos depois e disse que combinou de
pega-los às dezenove horas, em frente ao hotel onde estavam e levá-los até a
cabana na chácara e queria saber se Adam a acompanharia.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Vou sim. Pode deixar, mas precisamos arrumar um desculpa para minha
mãe. Ele já vai estar em casa nesse horário e não vai gostar de nos ver saindo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Pode deixar que tenho um plano – completou a cabalista sorrindo
maliciosamente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
No horário marcado. Rebecca inventou para a mãe de Adam que sentira
algumas dores nas costas e pedira para Adam levá-la ao pronto-socorro para fazer
alguns exames e verificar se estava tudo em ordem. Dona Rute aceitou a
historia, mas pediu que ela levasse Rebecca, pois Adam ainda não estava
totalmente recuperado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não se preocupe mãe. Estou ótimo e o carro de Rebecca é muito fácil de
dirigir. Vai sair tudo bem.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ok então filho, mas tome cuidado e qualquer coisa me ligue ok. Rebecca
prometa que o fará ligar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Rebecca concordou e saíram para buscar os novos companheiros no local
marcado. Thomas estava de pé, ao lado da porta do hotel e reclamava de alguma
coisa. Wesley e Mariah estavam sentados nas malas e pareciam entediados com o
protesto do colega. Quando viram o carro de Rebecca se aproximando,
levantaram-se e foram esperá-los na beira da rua, com exceção do necromante,
que permaneceu onde estava.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Chegamos! – disse Rebecca estacionando e descendo do carro – Olá
Mariah, Wesley e olá para você também Thomas. Apesar de nosso primeiro encontro
não ter sido muito amistoso, espero que sejamos bons amigos daqui para frente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Hã! – resmungou Thomas – Não tenho intenção nenhuma de ser seu amigo
cabalista e muito menos desse seu amigo mauricinho cheirando a leite. Só
aceitei essa parceria porque meu primo insistiu que essa era a única maneira de
conseguir os artefatos discretamente e seguir com a missão, mas não pensem que
esqueci o episódio do parque. Ainda vai me pagar por aquilo alquimista – e
pegou sua mala e jogou de qualquer jeito no porta-malas do Corolla. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Por um momento Rebecca parecia que ia protestar, mas apenas balançou a
cabeça e foi dar um abraço em Wesley e um beijo em Mariah. Adam que não desceu
do carro, encarou Thomas como que o desafiando a se vingar, mas o necromante se
virou, ignorando-o e entrou no carro, sentando-se atrás do banco do motorista.
Wesley e Mariah o seguiram após guardar as malas e logo estavam a caminho do
sítio. Thomas e Adam permaneceram o tempo todo em silencio, mas Wesley e Mariah
conversaram com Rebecca, contando, em detalhes, como resolveram a situação no
parque depois que eles saíram.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não tínhamos muito tempo, então tivemos que improvisar – disse Mariah
olhando para Rebecca – Thomas teve que repetir o rito e afetar a mente de todos
que estavam ali, para que pensassem que o incêndio foi acidental e Wesley
invocou o temporal para apagar as chamas. No fim deu tudo certo, mas tivemos
que fugir rapidamente para evitar ter que dar explicações. Thomas estava com
medo que déssemos uma bola fora e colocássemos tudo a perder. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não foi fácil realizar o rito da chuva, depois do esforço que tive com
as arvores. Eu estava muito cansado e canções de nível III exigem muito do
mago. Por sorte Mariah estava comigo e me ajudou com a recuperação. Ela é uma
druidisa sabiam? – e começou a contar a história de Mariah e sua madrasta na
fazenda, durante todo o percurso até a cabana. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Ao chegar, desceram do carro e foram se instalar. Thomas reclamou de
tudo e ameaçou abandoná-los e acampar no terreiro, mas no fim acabou ficando
ali mesmo. Se auto intitulando “líder da equipe”, reclamou a cama dos avós de
Adam para si e colocou Wesley e Mariah para dormir no chão. Após algumas horas
de discussões e arrumações conseguiram colocar alguma ordem no barraco e Adam e
Rebecca voltaram para casa. Estavam cansados pelo dia cheio e ainda não estavam
totalmente recuperados das lesões que sofreram no parque, por isso, foram
dormir assim que chegaram.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
No outro dia, inventaram uma desculpa para a mãe de Adam e voltaram a
cabana onde o restante do grupo estava instalado. Thomas estava no campo,
cultivando algumas hortaliças e Wesley e Mariah jogavam um jogo de tabuleiro,
parecido com uma mistura de xadrez e gamão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Chama-se <i>Elementares</i> Adam – disse Wesley – É um jogo muito
comum entre os magos. O objetivo é destruir as quatro peças principais do
adversário e ao mesmo tempo, impedir que ele destrua as suas. Vamos jogar uma
partida que eu lhe ensino.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam sentou e logo se enturmou com o restante do pessoal. O jogo era
divertido e exigia estratégia, mas apesar de todo seu esforço intelectual, foi
esmagado por Wesley, que ganhou todas as partidas sem muito esforço. Vendo que
não tinha chance como o ranger, Adam decidiu desafiar Mariah, mas também levou
uma surra, então só lhe restou desafiar Rebecca, mas desistiu, assim que
assistiu a uma partida da cabalista contra Wesley. Rebecca ganhou facilmente e
não perdeu nenhuma das peças principais, enquanto Wesley se esforçava para não
ser tremendamente humilhado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Thomas chegou pouco tempo depois. Estava suado e havia tirado a camisa,
exibindo o tórax definido, mas parecia constrangido e se desviou para os fundos
quando reparou que tinha visitas. Rebeca se levantava para ir ao banheiro
quando reparou no estranho colar em seu pescoço. Era uma lua minguante
negro-arroxeada e circundava uma caveira da mesma cor. Na ponta da lua havia um
orifício do qual passava uma corrente de prata que envolvia o pescoço do
necromante. Adam, que acabava de perder mais uma partida, dessa vez para
Mariah, percebeu o interesse de Rebecca por Thomas e sentiu uma pontinha de
ciúme. Resolveu então desafiar Thomas para uma partida, mas o necromante não
aceitou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Você não daria nem para o começo Ocher – zombou Thomas – Fui o melhor
do meu circulo e ganhei todos os torneios que participei. E no mais, pelo que
vi, você não ganharia nem de um inapto com deficiência mental.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Adam se levantou furioso, mas o necromante lhe deu as costas e se dirigiu
ao banheiro para tomar um banho, porém Rebecca estava lá e ele teve que
esperar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Não ligue para o que o Thomas diz – disse Mariah baixinho – Ele não
fala por mal. É só o jeito dele.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Ele é um metido, isso sim – protestou Adam – um dia ainda tiro aquele
sorriso zombeteiro da cara dele.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– O papo está muito bom, mas não viemos aqui para jogar, não é Adam –
disse Rebecca voltando do banheiro – Temos que discutir um plano para levar a
cabo nossa pretensão. Se vamos partir dentro em breve, temos que deixar tudo
preparado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
– Thomas já tem um plano – acudiu Wesley – Assim que ele voltar
discutiremos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Thomas voltou em seguida, limpo e vestido e tomou lugar ao lado de
Wesley, formando um circulo em volta da mesa. Mariah, que tinha terminado uma
partida com Rebecca, foi até a geladeira e voltou com uma jarra de bebida,
distribuindo entre os presentes. O cheiro era bom, mas o gosto forte indicava
que possuía uma grande concentração de álcool.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
Thomas tomou um gole e pediu para ver os artefatos que possuíam e Adam os
mostrou, meio a contragosto. Ele examinou a todos, se demorando um pouco no
mapa de seu avô e por fim perguntou pelo espelho, ao notar que possuíam apenas
a foto.<o:p></o:p></div>
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– Não está comigo – respondeu Adam – só tinha essa foto no baú. <o:p></o:p></div>
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– Esse é o museu de Londres – disse Mariah pegando a foto das mãos de
Thomas – Já estive lá com meu pai a tempos atrás. Mas porque o espelho está lá,
ao invés de junto como os outros artefatos.<o:p></o:p></div>
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– Não faço a mínima idéia – respondeu Adam – Meu avô não chegou a voltar
do jardim. Os artefatos foram enviados para minha avó por um tal de John Brow. Ele deve ter ficado
com o espelho e vendido para o Museu. Fiquei sabendo que era um ladino, e
ladinos não aguentam ver dinheiro. <o:p></o:p></div>
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– John Brow morreu
pouco tempo depois que seus avós – emendou Rebecca – Mas sei que ele
tinha um filho. Deve ter sido ele que vendeu o artefato ao museu, se é que foi
isso mesmo que aconteceu.<o:p></o:p></div>
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– De qualquer forma precisamos do espelho – disse Thomas tomando mais um
copo do coquetel – Sem ele não poderemos prosseguir para o Iraque.<o:p></o:p></div>
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– Talvez possamos comprá-lo – sugeriu Mariah – ainda temos algum dinheiro
guardado.<span style="color: red; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
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– Sem chance – retrucou Thomas – Precisamos do dinheiro para nos
mantermos no Iraque enquanto buscamos o jardim e não temos nem idéia de quanto
tempo isso demorará.<o:p></o:p></div>
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– Qual é o seu plano então? – perguntou Rebecca se mexendo no banquinho e
encarando Thomas.<span style="color: red; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
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– Meu plano é tomar o museu e roubar o espelho, substituindo-o por uma
cópia – começou Thomas – O alquimista deve ser capaz de fazer uma com a
oferenda adequada. Com a cópia em mãos, invadimos a casa do guarda da recepção
e o colocamos sobre nosso domínio. Teremos que escolher um horário em que ele
esteja sozinho para não chamar atenção. Depois, á noite, introduzimos Rebecca
no museu e deixamos todos os outros guardas inconscientes. Vamos usar Rebecca
porque ela consegue se virar apenas como sua energia vital e não temos muito
material de oferenda, por isso é bom não arriscarmos. Com os guardas dominados
o caminho fica livre para nós. Ainda tenho algum osso guardado que deve servir
para o começo e não estou com disposição para invadir cemitérios e violar
túmulos por isso temos que acertar de primeira. Mariah ficará de vigia,
enquanto Wesley invocará um nevoeiro para nos acobertar, em Londres isso não
deve causar surpresa. Adam provocará um curto na central de segurança e então
eu invado a sala do espelho e o substituo pela cópia, a segurança dele não deve
ser muito grande já que não é um objeto de valor. Apagamos a memória recente do
guarda e caímos fora. Em meia hora devemos estar de volta ao hotel como o
espelho em mãos.<o:p></o:p></div>
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– Eu vou com você até o espelho – disse Adam interrompendo – para o caso
de precisar de ajuda.<o:p></o:p></div>
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– Cairá um pedaço do céu antes que eu precise de sua ajuda para pegar um
espelho – respondeu Thomas bebendo novamente – Cuide das câmeras e já estará
ajudando bastante.<o:p></o:p></div>
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– Eu insisto – respondeu Adam calmamente – Quem garante que você não
fugirá com o espelho quanto o tiver em mãos.<o:p></o:p></div>
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– Há! Sabia que era esse o motivo – zombou Thomas – Se eu quisesse fugir
com o artefato, não seria você que me impediria, mas tudo bem, quem sabe você
não serve para algo afinal.<o:p></o:p></div>
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– Não acho certo roubarmos o museu – disse Rebecca por fim – deve haver
outro meio de conseguirmos o espelho. Talvez se pedíssemos eles nos
emprestariam por um tempo. Como você disse, não é um objeto de valor e
provavelmente não lhe dão a importância devida. Ou talvez possamos alugá-lo por
um tempo. Dizemos que é para uma exposição ou algo assim. Pode dar certo.<o:p></o:p></div>
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– Nem pensar – retrucou Thomas – Com certeza nos rejeitariam e poderiam
até aumentar a segurança como medo de nós o roubarmos depois da recusa. Não
vamos arriscar. Roubamos e substituímos por uma cópia e ponto final. Eles não
vão perceber mesmo. Não conhecem o verdadeiro poder do artefato.<o:p></o:p></div>
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– Ainda acho errado roubar – concluiu Rebecca – deve haver outra maneira.<o:p></o:p></div>
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– Escute aqui cabala. Essa é uma missão essencial para nossa demanda e se
você não esta disposta a cometer atos ilegais, melhor nem participar. Só iria
nos atrapalhar e já temos problemas o bastante sem uma patricinha com encargo
de consciência.<span style="color: red; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
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– Não fale assim com Rebecca – ameaçou Adam – Eu também não acho certo
roubar.<o:p></o:p></div>
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– Isso vale para você também alquimista. Aliás, vale para todos. Se não
estiverem dispostos a arriscar tudo e entrar de cabeça nessa incumbência,
melhor ficarem aqui onde é seguro. Essa não é uma missão para covardes.<o:p></o:p></div>
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Adam ia retrucar, mas Rebecca o calou com um olhar. Voltaram a discutir a
missão e calcularam o tempo para os preparativos, decidindo que partiriam
dentro de um mês. Rebecca não parecia muito entusiasmada, mas aceitou as
condições e terminaram o dia com uma partida de <i>Elementares</i> entre Thomas e Rebecca que, de maneira inesperada, e
após duas horas de disputa, chegou ao final, conclamando à vencedora e pondo
fim a invencibilidade do necromante.<span style="color: red; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
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<br /></div>
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