sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A BUSCA PELA ÁRVORE DA VIDA


PRÓLOGO

Dezoito anos atrás...


Era alta madrugada quando chegaram. O vento estava calmo e a noite serena como as águas de um lago profundo, mas o velho sabia que a tranquilidade era apenas aparente e que todo cuidado seria pouco ao adentrarem naquele lugar desabitado há tanto tempo. Ouvira histórias, é claro, de outros aventureiros que alegavam terem invadido o jardim e escapado ilesos da fúria do guardião, mas percebia agora que não passavam de fábulas inventadas por charlatões. O jardim era muito diferente de tudo que ouvira falar. Era mágico, exuberante e sobrenatural!
– Aquela é a árvore? – perguntou o rapaz que o acompanhava, apontando com o dedo para a árvore gigantesca que marcava o centro de uma clareira. Suas folhas pareciam pequenos flocos de neve suspensos nos galhos retorcidos e os frutos alaranjados, lembravam pequenas carambolas rechonchudas.
– Sim meu amigo – respondeu o velho emocionado – Aquela é a Árvore da Vida. A dádiva da imortalidade concedida e, ao mesmo tempo, negada a nós pelo Criador – e uma lágrima rolou de seus olhos, estampando a felicidade de alguém que vê o sonho de uma vida inteira sendo realizado – O homem será imortal, como já foi outrora meu rapaz, e o mundo conhecerá a verdadeira paz.
O jovem não parecia muito empolgado com o discurso do amigo, mas apressou o passo, acompanhando o velho que seguia à frente. O caminhou terminou em uma velha ponte em ruínas cercada por pilares de pedra branca, onde o rio era mais volumoso e a forte correnteza castigava o que restou da antiga construção.
– Como vamos atravessar? – perguntou o rapaz examinando os destroços da ponte – A correnteza é muito forte nessa curva.
– Não vamos atravessar – respondeu o velho olhando ao redor – Teríamos que dar uma longa volta e o caminho mais curto é pela floresta. Veja se consegue enxergar outra estrada adiante.
 O rapaz correu em direção aos pilares e subiu no mais alto para avaliar o horizonte e ver o que os aguardava logo à frente.
– O que está vendo? – perguntou o velho – Algum outro caminho, ou algum sinal da presença do guardião.
– Vejo apenas o fim da clareira – respondeu o rapaz – e alguns animais grandes e estranhos, pastando na margem daquele rio mais caudaloso.
– São behemoths! – suspirou o velho comovido – Quase não acredito que estamos tão próximos deles. São criaturas maravilhosas apesar da aparência. Vamos tentar não perturbá-los.
O rapaz assentiu com a cabeça e continuou a observar os animais, que se pareciam com búfalos, mas tinham chifres na cabeça e na carapaça que protegia o lombo e narinas grandes e ruidosas. Seu rabo terminava num chicote, com três pontas de ossos afiados e suas patas, fendidas como nos bovinos tradicionais, pareciam pequenas e fracas frente ao corpo descomunal da criatura. Viviam em manadas a beira dos rios, se alimentando da vegetação rasteira e mergulhando sempre que um perigo ameaçava sua tranquilidade.
– Vamos continuar – disse o velho.
O rapaz pulou do pilar e o seguiu pela mata adentro, abrindo caminho por entre plantas exóticas e pequenos arbustos de folhas coloridas.
A floresta era escura e barulhenta. O piado das aves noturnas lembrava um lamento agonizante e os uivos dos animais selvagens tornavam o trajeto ainda mais assustador, mas o velho parecia ignorar os perigos da jornada e seguia em frente com determinação. Somente o rapaz não parecia satisfeito e se virava na direção de cada barulho estranho que ouvia, não se cansando de resmungar.
– Tem certeza que o espelho funcionará? Se não conseguir afastar o guardião da árvore eu estarei em sérios apuros.
– Vai funcionar – respondeu o velho – tem que funcionar...
O rapaz não pareceu muito convencido e se preparava para contra argumentar, quando um lampejo repentino iluminou a floresta e afugentou um enorme pássaro que se escondia entre galhos retorcidos de uma árvore próxima a eles. A ziz voou sobre a clareira e deu um rasante sobre a margem do rio, capturando um behemoth, enquanto o restante das criaturas lançava-se desordenadamente nas águas.
O velho gritou instruções para seu companheiro e correu em direção à luz, sacando um estranho objeto de sua mochila, enquanto o rapaz corria para a clareira, de encontro à Árvore da Vida.
O que se passou a seguir foi uma curiosa sequência de acontecimentos. O velho desapareceu na floresta e o foco de luz brilhante o seguiu, como se atraído pelo objeto que ele carregava. O rapaz escalou habilmente a árvore e colheu um dos frutos, mas sua atuação foi notada pela criatura lampejante, que desistiu do velho e voou em sua direção como um raio em chamas. O rapaz saltou ao perceber que fora descoberto e o velho reapareceu ao seu lado, ajudando-o a se levantar.
Outro clarão se seguiu e um turbilhão de chamas irrompeu do lugar onde o guardião caiu sobre eles e um grito agudo seguido por sons de passos em disparada se misturou com os pios e uivos dos animais noturnos.  A floresta se incendiou, instigada pelo súbito vento forte que sucedeu o voo do guardião, sacudindo as árvores e levantando uma nuvem de poeira no caminho. Do meio dela o velho surgiu desesperado correndo em direção à saída do jardim. Suas roupas estavam sujas e esfarrapadas e seu rosto, marcado de cicatrizes e fuligem, demonstrava cansaço e medo.
– John, onde você está? – gritou assustado, procurando pelo amigo – Não morra, por favor! – e se escorou na velha ponte destruída, tentando recuperar o fôlego.
Porém, novamente o vento se intensificou, varrendo areia e folhas pela estrada. As aves noturnas interromperam seu canto lúgubre e até os animais selvagens silenciaram. O velho olhou para trás assustado e tentou voltar a correr, mas uma forte luz dourada surgiu em suas costas e uma espada de fogo atravessou seu peito, liberando na noite um cheiro de carne queimada. O velho deu um passo tremulante e caiu sobre a areia do caminho. A luz desapareceu e tudo voltou a ficar escuro.


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