A DECISÃO
Adam desceu as escadas preocupado. Havia marcado um passeio com Rebecca
no parque, mas estava novamente sem dinheiro. Apesar de sua mãe receber pensão
pela morte do marido e ter voltado a trabalhar, os gastos com a faculdade e com
os livros sempre minavam suas economias. Desde que terminara o primeiro ano
pensara em tentar um estágio em alguma veterinária ou fazenda da região, mas a
mãe insistia que ele devia se concentrar nos estudos, que o resto ela daria
conta.
Examinou novamente a carteira. Estava com míseros sete reais, amarrotados
em meio a rascunhos, anotações e conta por pagar e ainda precisaria abastecer o
carro que emprestara da mãe para levar Rebecca ao parque. A moça tinha
oferecido seu Corolla para a ocasião, mas Adam recusara. Não queria ficar
dependendo da garota para tudo e queria mostrar que era autossuficiente. Como
último recurso, só restava pedir um empréstimo à mãe. Tentava evitar isso a
todo custo já que vivia a lhe pedir trocados para se reunir com os colegas nos
bares em frente à facul, e a mãe,
apesar de não lhe negar, insistia que o filho deveria controlar os gastos.
– Bom dia! Como está a mãe mais linda do mundo?
– O que você quer? – respondeu a mãe sem demonstrar emoção e adivinhando
as intenções do filho.
– Me ofende desse jeito mãe. Até parece que só a elogio quando quero
dinheiro emprestado. – brincou Adam tentando parecer magoado.
– Ah! Dinheiro de novo. De quanto você precisa?
– Apenas uns cinquenta reais para levar Rebecca ao parque. Prometo que
pago tudo depois.
Dona Rute abriu a bolsa com cara de que duvidava que ele fosse cumprir a
promessa e tirou uma nota para o filho. Adam agradeceu com um abraço, mas
percebeu que havia algo de errado com a mãe, normalmente ela faria uma série de
recomendações e avisos antes de entregar o dinheiro.
– Está tudo bem? A senhora parece meio perdida hoje.
– Só estou cansada. Tive uma semana cheia no serviço. – e virou-se para
sair – Divirta-se com Rebecca.
Adam preferiu não insistir. Despediu-se da mãe com um aceno, pegou o
carro e saiu. No caminho parou em um supermercado e comprou uma caixa de
bombons e biscoitos de chocolate. Queria ter algo para comer caso ficasse sem
assunto e a garota tinha cara de quem adorava doces.
Pagou a conta e voltou para o carro, colocou um CD de música brega dos
anos 80 e partiu, chegando logo em seguida. A rua estava movimentada ao redor
do apartamento de Rebecca e Adam teve um pouco de dificuldade em encontrar um
lugar para estacionar, mas felizmente um casal saiu apressado do condomínio e
arrancou em um Mercedes blindado e ele rapidamente ocupou a vaga.
O porteiro já havia sido avisado então Adam entrou sem contratempos.
O condomínio era grande, com vários setores e áreas de lazer. Um
playground para crianças e uma grande piscina nos fundos fechavam o complexo
que parecia ser de alto padrão. Deve ser
caríssimo, pensou enquanto pegava o elevador para o décimo andar e olhava o
endereço rascunhado por Rebecca num pedaço de papel:
– Condomínio Águas Claras – Apartamento
96, 10º andar – leu em voz alta observando a forma como o bilhete fora
escrito.
A letra da moça era bem desenhada, quase como uma pintura, com as
iniciais sempre se destacando em relação ao restante das letras.
Saiu do elevador e procurou pelo apartamento. O corredor era longo e todo
decorado com quadros e vasos de plantas distribuídos no intervalo entre uma
porta e outra. Quando finalmente encontrou o número de Rebecca parou por um
instante imaginando a melhor maneira de cumprimentá-la. Apesar de ter
conquistado certa intimidade com a garota Adam por vezes se sentia inseguro
quanto à forma de tratá-la. Se deveria ser direto e ousado e falar-lhe de seus
sentimentos ou deixar a coisa rolar e ver se a moça se tocava.
Tocou a campainha e esperou, decidido a deixar as coisas por conta do
destino. Rebecca abriu a porta logo em seguida e o saudou com um sorriso.
Estava enrolada numa grande toalha felpuda e pingando água dos longos cabelos
pretos. Adam não resistiu a um rápido olhar por todo o corpo da garota e
retesou-se quando a jovem se aproximou para beija-lo no rosto.
– Oi Adam. – disse Rebecca ainda sorrindo e o convidando para entrar – Chegou
mais cedo do que eu esperava. Entre e sente-se. Eu vou me vestir e já volto.
– Ok. Não se apresse. – respondeu Adam sentando no sofá e admirando o apê.
O espaço era amplo e rigorosamente limpo e arrumado. Ao lado do sofá
ficava uma mesa de canto adornada com um jarro de flores e um aparelho de
telefone sem fio e, no centro da sala, um carpete persa dava um ar requintado
ao ambiente. Rebecca abria e fechava gavetas no quarto fazendo uma verdadeira
algazarra enquanto escolhia a roupa e se vestia para o passeio.
– Se quiser beber alguma coisa fique a vontade, eu não demoro. – disse
Rebecca do quarto.
– Obrigado. – respondeu Adam – Mas estou dirigindo e...
Não terminou a frase, pois Rebecca surgiu em sua frente com um curtíssimo
short jeans azul celeste, tênis branco com detalhes azuis e uma tiara de
lacinho segurando os cabelos lisos. Parece
uma boneca, pensou Adam. A moça pegou a bolsa de sobre a mesinha e Adam
pode sentir o doce perfume que encheu o ambiente; uma mistura de flor silvestre
e chocolate que o rapaz não conseguiu identificar.
– Vamos? – disse a garota jogando os cabelos para trás.
– Vamos!
Adam abriu a porta e saíram. Rebecca contava as últimas fofocas da
vizinhança e explicava em detalhes como era a vida em condomínio enquanto o
rapaz ria e balançava a cabeça e num gesto de falsa reprovação.
– Sempre preferi morar em casa. –
disse o alquimista – Não gosto desse tumulto do centro e dos condomínios. Se
não fosse minha mãe e a faculdade iria morar com minha avó no campo, lá tudo é
mais calmo e tranquilo, bom para por as ideias em ordem. – Coçou a cabeça e
sorriu timidamente enquanto se aproximavam do carro. Um bando de garotos passou
correndo com pistolas de água mirando e tentando atingir uma menina que corria
logo à frente enquanto um jardineiro atarefado praguejava contra a bagunça.
Entraram no carro e partiram. Rebecca pediu para ouvir um som, mas
desistiu assim que Adam verificou as opções musicais de que dispunha. Sua mãe
costumava ouvir músicas antiquadas e fora de época entulhando o porta-luvas do
carro com CDs desse gênero e nenhum pareceu interessar a garota.
Passaram em frente a um supermercado e Rebecca parou para comprar
aperitivos e refrigerantes. Adam quis pagar a conta, mas a moça não quis,
alegando que ele já pagara o almoço no outro dia. Saíram do supermercado e
dobraram a esquina. Um carro em alta velocidade virou atrás deles e quase
fechou o casal, o que lhe valeu um xingamento de Adam e um gesto obsceno de
Rebecca.
Percorreram mais cinco quarteirões e chegaram. O parque era grande e bem
arborizado, com campos de futebol e quadras de vôlei de areia espalhadas em
meio a playgrounds para as crianças e pistas de caminhada que atravessavam o
bosque. Bancos de madeira estavam dispostos em volta de um lago de águas claras
e, embaixo das arvores mais frondosas, pombos subiam e desciam a espera de uma
migalha. O lugar estava bem movimentado naquele dia. Pessoas caminhavam de um
lado para outro e idosas faziam exercícios à sombra de um arvoredo, enquanto
vendedores ambulantes buzinavam oferecendo seus produtos à crianças que corriam
pela grama, jogando bola ou brincando de pega.
Adam desceu e ajudou Rebecca a retirar as coisas do carro. Trancou as
portas e seguiram em direção ao lago, procurando um bom lugar para montar o
piquenique. Rebecca escolheu um arvoredo em volta do lago, sob a sombra de um
carvalho e estendeu a manta xadrez, dispondo os aperitivos e refrigerantes que
comprara no mercado. Cisnes nadavam de um lado para outro no pequeno lago e cantavam
uns para os outros uma triste canção de solidão. Um silêncio incômodo e pesado se
abateu sob os presentes enquanto comiam e Adam, constrangido, tentou puxar
assunto, mas Rebecca respondia com respostas monossílabas e ele acabou por
desistir. Após alguns minutos a moça tomou um gole de refrigerante e quebrou o
silêncio:
– Estava pensando Adam. Hoje é 26 de setembro e segundo o horóscopo
mágico6, faltam quatro dias para o início do privilégio do ar, então se partirmos para uma empreitada onde tenhamos
que enfrentar anjos, é melhor esperarmos até outubro. Li em algum lugar que eles
ficam mais fortes durante o privilégio do
fogo.
– Eu também fico mais forte durante o privilégio
do fogo – respondeu Adam se gabando.
– Na verdade o que rege sua alternância de poder são as estações do ano Adam.
Na primavera, os nascidos sob o privilégio do fogo, ar e terra fecham o ciclo e
revigoram suas energias, por isso a sensação de mais poder. A cada estação,
três privilégios do horóscopo se renovam e seus privilegiados sentem essa
mudança. Já com os anjos é diferente. Eles foram criados pelo próprio elemento
celestial fogo e não dependem das estações. São diretamente ligados ao elemento
que os criou.
– Mas o horóscopo mágico não tem doze elementos? – perguntou Adam.
– Sim. Por quê?
– Porque até onde sei os elementos conhecidos são apenas cinco: terra,
fogo, água, ar e luz e só há pouco tempo fiquei sabendo sobre a luz. Antes
achava que eram apenas quatro.
– São cinco elementos primordiais Adam. – explicou Rebecca – Eles deram
origens a todas as coisas, inclusive aos outros elementos; a Terra deu origem a
Pedra, o Ar deu origem ao Espírito, o Fogo ao Raio, a Luz a Sombra e a Água a
Natureza. Os outros dois restantes são elementos de fusão; o Céu é uma fusão
dos elementos Ar e Luz e a Alma dos elementos Terra e Água.
– E todos os doze formam o Horóscopo Mágico. Um para cada mês do ano e um
para cada privilégio. – completou Adam querendo mostrar que também entendia do
assunto – Mas o terceiro elemento não é as Trevas, ao invés da Sombra. Ou os dois
são a mesma coisa?
– Não são a mesma coisa – explicou Rebecca – Apensar de ser comum a troca
dos nomes, e dos necromantes preferirem usar o termo “trevas” para dar um ar de
maldade ao seu privilégio; o correto é sombra, como consta no horóscopo mágico,
já que a sombra, assim como seu elemento, deriva da luz, enquanto as trevas são
a ausência de luz.
– Entendi. Eu já tinha aprendido um pouco sobre os elementos com minha avó.
– Adam tentou não se mostrar totalmente ignorante a respeito do horóscopo
mágico e seus privilégios já que, aparentemente, Rebecca era uma expert no
assunto, mas a verdade é que sabia muito pouco sobre o mundo dos magos e o
pouco que garimpara com a avó logo era desmentido por seu pai, que não queria
ver o filho envolvido com magia. Pensou em mencionar a carta do avô e as
explicações sobre os elementos, mas preferiu não citá-lo por enquanto para a
conversa não se desviar para a busca da árvore da vida. – Ela também falava de
pessoas que dominavam totalmente seu privilégio e podiam fazer coisas
maravilhosas.
– Eram os Elementares. – respondeu Rebecca – Humanos que dominavam
totalmente seu elemento e rompiam as barreiras da física. Podiam fazer
maravilhas realmente, mas o poder traz consequências e nenhum Elemental
conhecido teve uma vida fácil.
Adam tentou se lembrar de algum Elemental citado nas histórias da avó,
mas ele nunca mencionara o nome de nenhum. O avô também não falara nada sobre
eles na carta deixada a seu pai e, no pouco que lera de livros de magia, eles
eram citados vagamente, como se o assunto fosse tabu.
Mordeu um pedaço de torta, se recostou na árvore e decidiu improvisar.
– Acho que esses elementares nem existiram. Não me lembro de ter ouvido
ninguém falar que viu algum deles andando por aí e mesmo nos livros de magia
que li, as citações eram bem vagas.
– Os elementares viveram há muito tempo Adam. Atualmente não se tem
notícia de nenhum mesmo, exceto, talvez, o rei do mundo, mas a bíblia cita vários
elementares; Enoque muito provavelmente era um elementar do Ar e foi assunto
aos céus. Moisés era um de Terra e foi dito que morreu, mas seu corpo nunca foi
encontrado. Elias era um Elemental do Fogo e subiu aos céus numa carruagem do
seu elemento e o último que se tem notícia é Jesus, que tem todos os atributos
de um Elemental da Água; grande poder de cura, a escolha dos pescadores, etc, além
do fato de que a maioria dos seus grandes feitos estavam relacionados com a
água, como transformar água em vinho, andar sobre a água, etc. É possível que
Adão e Noé também fossem elementares, mas não temos certeza. Sobre eles não
serem citados nos livros de magia, acredito que foi para não entrar em
confronto com as religiões cristãs. As igrejas não gostam de ver seus grandes
heróis associados a magia.
– Jesus não pode ter sido um Elemental da água – retrucou Adam – ele
podia no máximo ser um do espírito, pois nasceu em 25 de dezembro.
– 25 de dezembro foi a data que atribuíram ao nascimento dele para
coincidir com o dia do Sol nos festejos pagãos. – Rebecca se remexeu
desconfortavelmente sobre a manta. Discutir sobre o cristianismo sempre
alterava os ânimos da cabalista e ela não gostava que colocassem suas
afirmações a prova. Lançou um olhar desafiador para Adam antes de responder – Ele
não nasceu nesse dia. Foi tudo invenção da igreja.
Adam pensou em responder como novos argumentos, mas ouviu passos
sorrateiros que se aproximavam por detrás da árvore tentando não fazer barulho.
Virou-se rapidamente e deparou com os rostos sorridentes de seus amigos Willian
e Lisa a poucos passos de distância.
– Então foi aí que vocês se esconderam né seus safadinhos. – disse
Willian insinuante.
Rebeca mudou rapidamente de expressão. Jogou os cabelos para trás e
sorriu para os amigos
– Então finalmente chegaram! Eu estava dizendo para o Adam que vocês iam dar o bolo em nós. Já estamos esperando
há uns vinte minutos.
– Foi a Lisa. – disse Willian sorrindo pra amiga – Demorou duas horas
para escolher um vestido.
– Demorei nada – respondeu Lisa socando o ombro de Willian – É você que
para pra conversar com todo mundo que encontra no caminho.
– Ah! Quer brigar? – Willian deu
um pulo para trás e tomou uma posição de ataque de algum estilo de arte marcial
desconhecido. – Pode vir, pode vir. – e gritava e pulava para frente e para
trás. Lisa entrou na brincadeira e dava chutes e tapas em Willian que se
defendia em uma posição diferente e extravagante a cada investida da amiga. Willian
era grandalhão; alto e pesado. Com músculos definidos e uma barriga saliente
que gostava de exibir para todos. Tinha os cabelos negros cortados curtos e
olhos grandes e perspicazes. Um sorriso largo e sarcástico sempre exibindo os
dentes perfeitos. Usava uma regata bege e espaçosa, que deixava seu tórax a
mostra, uma bermuda jeans e tênis de passeio, sem meias. Lisa era pequena e
franzina. Tinha os cabelos castanhos cortados na altura do pescoço e usava
vestido leve, azul e branco com sandálias havaianas. Sorria para tudo e todos e
tinha o hábito de beijar todo mundo que encontrava.
– Parem com isso vocês dois – disse Rebecca assumindo o controle da
situação – e venham comer antes que o Adam acabe com tudo.
Os dois correram instantaneamente para manta e se jogaram sobre a cesta
de piquenique. Liza pegou o último pastelzinho e pulou sobre Adam, puxando seu
rosto rudemente para beijá-lo. Adam se afastou um pouco para se proteger e
Willian aproveitou o descuido para tomar o pastelzinho que ele tinha na mão e
jogar rapidamente na boca.
– Chega de comer, você já está muito gordo. – brincou Willian com a boca
cheia.
– Olha quem fala – respondeu Lisa defendendo Adam – Você está parecendo
uma rolha de poço.
– Eu não sou gordo, sou forte. – e ergueu os braços para destacar os
bíceps.
Todos riram e a conversa seguiu descontraidamente. Rebecca buscou mais
salgados no carro fazendo com que o amigo parasse de reclamar de Adam e começasse
a reclamar da faculdade. Falaram sobre as provas finais e a expectativa para o próximo
ano. Willian prometeu levar o curso a sério dali em diante e Liza reclamou que
os professores bajulavam Adam. O rapaz já ia se levantar para se defender
quando seu celular tocou.
– Oi mãe. O que foi? – perguntou Adam se afastando dos demais.
– Oi filho. Olha sei que você está se divertindo com seus amigos, mas eu
precisava te avisar. Aconteceu uma coisa terrível. – e tossiu ao abafar um
soluço.
– O que foi mãe? Fale logo. Vai me matar de preocupação.
Os amigos que haviam permanecidos sentados conversando, agora se
levantaram e foram atrás de Adam ao ouvir a expressão preocupada do rapaz.
– É a sua avó. Um paramédico ligou e avisou que ela foi encontrada agora
a pouco, pelo carteiro. Estava estirada num canto com um enorme ferimento de
queimadura no peito.
– Mas eles a socorreram? Ela
está bem?
– Não sei filho, ele não deu
detalhes. Pedi uma carona para a dona Penina e estou indo para lá, para saber
ao certo o que aconteceu.
– Não quer me esperar. Vou agora
mesmo para lá também.
– Não, tudo bem. A dona Penina
já disse que me leva. E do parque é mais perto para você chegar lá. Se voltar
aqui vai ter que dar uma volta enorme.
– Então está bem mãe. Estou indo
para lá. Espero que não seja nada grave.
– Deus ajude que não. E vê se
dirige com cuidado. Não quero que saia que nem doido daí e acabe causando um
acidente.
– Pode deixar. Vou ter cuidado.
Cuida-se a senhora também.
– Está bem filho. Vai com Deus.
– Amém. Tchau. – e desligou.
– O que aconteceu Adam, alguma
coisa grave? – perguntou Rebecca se aproximando.
– É, parece que sim. Sinto muito
pessoal, mas vou ter que me ausentar. Aconteceu um acidente com minha avó e vou
ter que ir pra lá. Ela mora sozinha numa casinha na área rural e deve ter feito
alguma besteira.
– Tudo bem Adam. A gente
entende. Vai lá ver sua avó. A gente pode marcar outro dia. – respondeu Lisa.
– Vai lá cara. – completou
Willian – depois a gente se fala.
Adam se virou para Rebecca, mas
a moça já estava recolhendo as coisas. – Vou com você, sua mãe pode precisar de
ajuda.
Adam preferiu não discutir,
apesar de não conseguir imaginar em que Rebecca poderia ajudar sua mãe numa
situação dessas. Entraram no carro e partiram. Rebecca procurava acalmar Adam,
como se soubesse de alguma coisa que ele desconhecia.
– Seja lá o que tiver acontecido
Adam. Quero que saiba que estou ao seu lado para o que der e vier. Pode contar
comigo ok.
– Tudo bem Rebecca.
Sei que você é uma amiga fiel, mas acho que não foi nada de mais. No máximo
minha avó se queimou com um velho fogão a lenha que ela tem no barraco. Não
deve ser nada grave.
Rebecca
concordou com a cabeça e seguiram, alcançando a estrada de chão. Ao longe
surgiu a porteira da propriedade e Adam pode ver o movimento incomum ao redor
do casebre. Um cordão de isolamento tentava afastar os curiosos, que a esse
momento, já se inteiravam do caso e uma Ambulância, com as sirenes ligadas,
ofuscavam a imagem de tranquilidade que Adam tinha da casa da avó. Passou pelo
cordão de isolamento e um policial gordo, com os cabelos em desalinho e a testa
suada o parou com um gesto.
– Para trás da faixa
garoto. Só policiais e paramédicos são permitidos aqui. – disse o policial.
– Mas ela é minha
avó. – respondeu Adam.
– Tudo bem Jeremias.
Deixe o garoto passar. – disse outro policial parado perto da porta.
Adam entrou
acompanhado de Rebecca. O casebre estava todo revirado: a cama, a mesa e o
armário estavam despedaçados e seus pedaços jogados num canto junto a cacos de
pratos, louças e lençóis. Dois policiais procuram por evidencias ao lado do
corpo e olharam com pena para Adam quando ele se aproximou.
– Você é parente da
vítima? – perguntou o policial que estava mais perto do corpo.
– Sou neto. –
respondeu Adam – O que aconteceu?
– Ainda não sabemos
– disse o policial se levantando – Mas parece que ela foi atacada por algum
objeto cortante e abrasador que perfurou a caixa torácica e atingiu o coração.
– Mas... – Adam
sentiu a cabeça girar e teve que se escorar na parede para não cair. – Ela está
morta? – disse por fim.
– Sinto muito filho
– respondeu o policial com pesar – Mas não se preocupe, vamos pegar o canalha
que fez isso.
Adam balançou a
cabeça atordoado, enquanto outros policiais entravam e saíam da casa, fazendo
anotações e colhendo pistas. Rebecca se aproximou do corpo inerte da idosa para
examiná-la e tocou o ferimento.
– Não toque no corpo!
– avisou o policial.
– Desculpe –
respondeu Rebecca – Só queria ver a profundidade da queimadura.
O policial gordo que
os havia recepcionado entrou no casebre com uma mala e duas folhas de papel na
mão. Conversou nervosamente com o que parecia ser o líder da investigação e se
dirigiu até onde Adam havia se escorado.
– Sua avó deixou
essa mala arrumada embaixo da cama. Você sabe se ela pretendia viajar?
– Não sei. –
respondeu Adam – Estive aqui semana passada e ela não me disse nada. Eu tentava
incentivá-la a arrumar amigos e se divertir um pouco. Talvez fosse isso. Ela
não saia muito de casa desde que meu avô desapareceu.
– Também encontramos
essas duas cartas. Uma dentro da mala e a outra no meio da bagunça. Sabe do que
se trata?
Adam abriu a
primeira carta. Era apenas um bilhete e parecia ter muitos anos. O papel estava
sujo e amarrotado e a borda da folha estava rasgada, como se tivesse sido
arrancado às pressas. O bilhete dizia o seguinte:
Os Súditos pegaram Jonatas. Não consegui salva-lo,
mas dei cabo dos assassinos. Isso tem que acabar. Vamos partir em breve. Já
descobri a localização. Deixei Brow encarregado de levar os artefatos de volta,
caso algo saia errado.
Doces beijos. Te amo para sempre.
D. O.
Abriu a segunda
carta e deparou com a letra da avó. Era uma carta de despedida e havia sido
escrita às pressas.
Adam, meu querido. Tive que partir, pois não aguentava
mais a sensação de impotência que me atormenta há anos. Vou atrás do sonho do
seu avô e, quem sabe, dele próprio. Esperei até você estar crescido para tomar
essa decisão, pois sempre deve haver um Ocher apto para seguir a tradição.
Agora que você já está a par de tudo, parto para seguir meu caminho, seja onde
for que ele me leve. Espero em breve encontrar seu avô (nesse mundo ou no
outro) e por fim a esse vazio que sua partida me deixou.
Um beijo carinhoso para você e para sua mãe (apesar
dela me odiar) e que os círculos de poder os guardem de todo mal.
Vovó.
PS. Seu avô tinha contatos na Europa e essas
pessoas podem ajudá-lo. Quando decidir seguir seu caminho procure pela GD e
pelo Mestre Matheus. Ele lhe dirá o que deve fazer.
Adam dobrou a carta
e olhou para o policial que aguardava ansioso uma resposta para aquilo tudo.
Rebecca se aproximou com ar de curiosidade e outros policiais formaram um
círculo em volta do rapaz aguardando a sentença.
– E então –
perguntou o policial gordo.
Adam suspirou
– Sobre a primeira
carta, não sei do que se trata. Parece um bilhete antigo, do tempo que meu avô
ainda era vivo. Não conheço as pessoas mencionadas e nem sei para onde ele
estava indo. A segunda é para mim. Minha avó queria que eu fosse estudar na
Europa e vivia me dizendo que os amigos de meu avô que moram lá poderiam me
ajudar. Mas nunca tive interesse em deixar minha faculdade e me mudar e isso
sempre a desapontou. Imagino que é para lá que ela se dirigia.
– Para Europa? –
perguntou o policial.
– Acredito que sim.
Agora posso ir. Não estou me sentindo bem.
– Pode ir. Assim que
for necessário pegaremos seu depoimento mais detalhado. – e os deixou, voltando
para perto do corpo para conversar com os outros policiais.
Adam virou as costas
e saiu com Rebecca a seu lado. Do lado de fora ainda havia algum movimento e,
apesar dos esforços dos policiais, um ou outro curioso tentava atravessar o
cordão de isolamento e arriscar uma olhadela. Alguns pardais que se aninhavam
no telhado da casa se ouriçavam e gritavam a plenos pulmões: homens de fogo, homens de fogo...
Rebecca não
entendeu, mas o alquimista parou e fitou-os por um longo tempo tentando
entender o significado daquela expressão. A mãe de Adam chegou logo em seguida,
no momento em que se dirigiam ao carro. A Sra. Penina que a acompanhava desceu
radiante, olhando para todos os lados e anunciando que vinha trazendo um
familiar. Logo se enfurnou na casinha e foi vistoriar o corpo.
– Olá Rebecca. Fico
feliz em encontrá-la de novo, apesar das circunstancias. – disse Dona Rute
abraçando e beijando a moça.
– Olá Dona Rute. Que
situação não é. Bem vou deixar vocês conversarem a vontade. Te espero no carro
Adam. – e saiu se despedindo com um aceno.
– E então filho, o
que aconteceu? – perguntou a mãe de Adam quando percebeu que Rebecca estava
fora de alcance.
– Eles ainda não
sabem. Parece que ela foi morta por um objeto cortante, mas não sabem o que.
– Ai meu Deus! Que
horrível! Não conseguiram salva-la?
– Ela já estava
morta quando a descobriram. Agora se não se importa mãe, vou levar Rebecca para
casa e descansar um pouco, não estou passando bem.
– Tudo bem filho.
Vai que eu resolvo tudo por aqui. – e se dirigiu para o casebre enquanto Adam
seguia até o carro onde Rebecca o aguardava.
Entrou no carro e
saiu. A estrada parecia longa devido ao silencio que se abateu sobre o casal.
Adam não disse uma palavra durante todo o percurso e Rebecca decidiu respeitar
sua decisão. Passaram sem parar pelo parque e seguiram para a casa de Adam. O
tempo começou a fechar e um vento frio entrou pelo vidro arrepiando os pelos e
estremecendo o casal que seguia afastado. Rebecca desceu assim que o carro
estacionou e virou-se para Adam que também descia pelo outro lado.
– Achei que você ia
me levar para casa. – perguntou fingindo surpresa.
– Não ia. Só falei
aquilo para nos livrarmos de minha mãe. Queria sua opinião sobre o que
aconteceu. O que você acha que foi aquilo?
Rebecca suspirou e
pegou no braço de Adam.
– Acho melhor a
gente conversar lá dentro.
Entraram na casa e
Adam ofereceu uma bebida a Rebecca. A moça aceitou um refrigerante e se jogou
no sofá da sala, pensando por onde iria começar.
– Bom acho que não
tem uma maneira fácil de dizer isso então vou direto ao assunto. – disse por
fim a cabalista – Acho, ou melhor, tenho certeza que sua avó foi assassinada
por anjos.
– Por anjos? – disse
Adam surpreso – Está certo que as circunstancias da morte dela foram estranha,
mas anjos. Acho que...
– Foram anjos Adam.
Apostaria minha virgindade nisso. O corte queimado no peito dela só poderia ser
feito por uma espada flamejante, ou seja, uma espada de querubim. Eu sei que
parece bizarro, mas não é a primeira vez que vejo um corte desse tipo. Tenho
certeza; foram anjos.
– Como assim
Rebecca? Você já viu algo parecido com aquilo antes?
– Sim, mas isso não
importa agora. O importante é que sua avó foi assassinada por querubins. Isso
significa que Deus não estava contente com os planos dela. O que dizia nas
cartas que você leu?
– Não muita coisa –
respondeu Adam retirando as cartas do bolso e entregando à Rebecca – Uma
parecia ser uma carta do vovô antes dele desaparecer. Não sei quem é Jonatas
nem Brow. E a outra é para mim. Uma carta de despedida. Acho que ela ia sair do
país e procurar pelo meu avô.
– Pois eu sei quem
era Jonatas e Brow. – Rebecca passou as mãos no cabelo e abriu um sorriso
malicioso – Lembra quando almoçamos juntos e eu disse que sabia sobre seu avô e
sobre o envolvimento dele com o necromante Jonatas Black? Então é esse Jonatas.
Ele era parceiro do seu avô na busca pelo jardim e os dois desapareceram
juntos, ou pelo menos era isso que a comunidade mágica pensava. Agora sabemos
que ele morreu primeiro e seu avô foi sozinho em busca do jardim. Brow deve ser
John Brow; um sujeito esquisito e mal falado, que se dedicava a estranhas invenções
e disfarces absurdos. Ele fazia serviços para o seu avô às vezes, mas depois
que ele desapareceu, o sujeito se mudou para Londres e abandonou a vida de
aventuras.
– Caramba Rebecca,
como você sabe tudo isso?
Rebecca sorriu
constrangida, mudando de posição no sofá. – Eu estudei muito sobre a busca pela
Árvore da Vida Adam. Coletei bastante informação sobre os grandes especialistas
no assunto e seu avô era um dos principais. Agora cabe a você completar a
missão deles. Não pode deixar o que aconteceu com sua avó e seu avô impune.
Adam fechou a cara. Não
gostava da idéia de abandonar tudo e seguir para uma aventura maluca, em busca
de algo que ele nem acreditava que existia. No mais não existia provas que sua
avó havia mesmo sido assassinada por anjos.
– Você parece minha
avó falando assim e eu não estou totalmente convencido que foram anjos que
mataram ela.
– O que os pássaros
disseram quando saímos da cabana?
Adam estacou. Como
era possível que Rebecca soubesse do seu dom de falar com os animais. Apenas
sua avó e uns poucos conhecidos do círculo místico dela sabiam.
– Como você sabe
sobre isso? – perguntou Adam se afastando.
– Não precisa ficar
ressabiado comigo Adam. Eu sei por que sua avó registrou nos anais do círculo
vermelho7 que nascera um menino que
herdara o legado de Adão. Achei que você sabia disso, está disponível para
todos os integrantes do círculo.
– Mas você não é uma
alquimista. Você é uma cabalista. Como teve acesso ao círculo vermelho?
– Pedi a um amigo
alquimista que conseguisse para mim, mas isso não importa agora. Apenas me diga
o que os pássaros disseram.
– Ficavam gritando: homens de fogo, homens de fogo, esse
tipo de coisa.
– E de que provas
você precisa mais! Esta claro que homens de fogo é uma referência a anjos. Eu
sabia Adam. Sua avó foi assassinada a mando de Deus.
– Deus não faria uma
coisa dessas. – resmungou Adam.
– Acho que você
nunca leu a bíblia não é. Deus manda matar muita gente por muito menos que
isso. Sua avó estava tentando quebrar um círculo profético. Se ela ou seu avô
conseguisse o fruto da árvore da vida, poderia mudar todos os planos de Deus
para o futuro. Você acha que Ele permitiria uma coisa dessas?
– Ok, mas se for
mesmo verdade, o que impede que Ele me mate assim como matou os dois. – Ao
dizer isso Adam se lembrou dos dois vultos angelicais que ele viu voando sobre
sua casa e um calafrio percorreu sua espinha arrepiando seus pelos do corpo.
– Nada impede Adam,
a não ser nossa união. Anjos não são invencíveis no plano material e Deus não
costuma sujar as mãos com humanos. Se ficarmos juntos poderemos enfrentá-los e
vencê-los. Eu creio nisso. E creio em você também. Sei que é você que a magia
escolheu para essa missão e vou te ajudar com o que eu puder se você me aceitar
como parceira. Juntos vamos acabar com essa tirania que tanto restringe a
liberdade do ser humano.
Adam se emocionou e
levantou para abraçar Rebecca. Seu coração batia acelerado e não sabia se era
pela emoção da conversa ou pela proximidade de sua amada. Pensou em se declarar
ali, e tomá-la nos braços, mas ela estava chorando e ele não quis atrapalhar o
momento. Pegou um lenço no bolso e secou as
lágrimas da cabalista que agradeceu emocionada. Adam apenas sorriu e se afastou
tentando mudar de assunto.
– Você vai ao enterro
amanhã. – perguntou.
– Claro que sim –
respondeu Rebecca se recompondo – Você me pega em casa ou quer que eu passe
aqui.
– Se você passar
aqui é melhor. Minha mãe vai querer que eu a ajude a preparar as coisas então
vai ser bem complicado sair.
– Tudo bem. Acho que
vou embora então, depois conversamos mais. Você me da uma carona para casa?
Adam assentiu com a
cabeça e saíram. À noite Rebecca voltou e participou do velório com Adam e
alguns amigos de sua mãe. Poucas pessoas na faculdade sabiam do ocorrido então
apenas Willian e Lisa vieram. No final Adam despediu a todos e tentou dormir um
pouco apesar da tempestade ruidosa que caia do lado de fora.
No outro dia
levantou cedo e fez o café para sua mãe que não tinha dormido direito. A chuva
ainda caia torrencialmente e parecia que não ia dar trégua por um bom tempo. Ajudou
sua mãe a arrumar as coisas e pegou um café para aguardar o horário do enterro.
Pouco antes da hora
marcado Rebecca chegou com o Corolla e o deixou na garagem entrando na casa
pela porta dos fundos. Dona Rute estava atarefada ligando para um e para outro
e apenas acenou quando ela adentrou a sala. Adam veio recebê-la e lhe ofereceu
uma tolha para se secar, mas a moça não quis.
– Esta chovendo
horrores lá fora, então não adianta nos secarmos por enquanto, mas você pode
levar a toalha, depois do enterro poderemos usá-la.
Adam consentiu e
olhou o relógio, já estava quase na hora do enterro. Pegou a chave com sua mãe
e tirou o Chevette da garagem e o estacionou na beira da rua, de frente para o
portão, depois abriu a porta para Rebecca que correu até ele e se jogou no
banco enquanto Adam fechava a porta do passageiro e corria para outro lado
entrando rapidamente, tentando evitar ficar mais molhado do que já estava.
Fechou a porta, ligou o limpador de pára-brisas e os faróis e arrancou. Estava
mais conformado agora e sabia que a decisão que havia tomado era a mais correta
e também aquilo que sua avó queria para ele. Deve haver um motivo para eu ter nascido com esse dom e se fosse para
desperdiçá-lo cuidando de uma clínica veterinária seria melhor deixá-lo para a
próxima geração, como meu pai fez, pensou, mas sinto que não é esse o desejo de meu coração. A chama da magia
começava a arder mais forte em seu peito e nesse momento parecia ser capaz de
realizar qualquer coisa, por mais difícil e improvável que fosse. Um mago deve ser ousado, dizia sua avó e ele decidiu que o seria. Seria ousado
a ponto de desafiar o maior poder existente no universo e o maior exército que
uma vez foi criado e vencê-lo. Como conseguiria isso ele ainda não tinha
certeza, mas sabia por onde começar e já dera o primeiro passo: tomara a
decisão e isso era tudo que importava no momento.
O cemitério ficava
num bairro afastado da cidade e era bem cuidado. Possuía várias ruas largas e
bem arborizadas, como uma cidade funerária. No centro ficava uma grande capela
abobadada rodeada de pilares e ao fundo, grandes jardins regados por um lago
artificial. As ruas estavam movimentadas apesar da chuva. Visitantes andavam de
um lado para outro portando enormes guarda-chuvas e sobretudos pretos que
combinavam com os óculos escuros e o semblante carregado.
O enterro ocorreu
rapidamente e apesar de Adam impor alguma resistência, acabou aceitando que sua
mãe convidasse um padre, que discursou por alguns minutos e despachou a alma da
avó. Depois deu os pêsames para Adam e sua mãe e voltou para o carro, saindo em
seguida.
Do outro lado do cemitério
Adam percebeu um estranho grupo que veio se despedir de sua avó. Gente que ele
nunca vira antes e que se sua mãe parecia evitar, mantendo certa distância. Alguns
ostentavam o “A” ensolarado sobre o sobretudo e Adam percebeu que eram
alquimistas, mas eles não se aproximaram, apenas acenaram com a cabeça e
cumprimentaram sua mãe de longe, com exceção de uma ruiva de meia idade que se
aproximou e colocou uma rosa vermelha no túmulo.
– O que está em cima
é igual ao que está embaixo – disse a mulher se afastando. Usava um vestido
vermelho, apesar do luto, e um grande colar de rubis adornava seu pescoço fino.
Era muito bonita e Adam se pegou perguntando a qual das grandes famílias ela
pertenceria.
Rebecca ficou o
tempo ao seu lado e seus amigos da faculdade e alguns professores também vieram
para consolá-lo. O enterro terminou com o lançamento de pétalas de flores e o
fechamento da gaveta quando sua mãe deixou escorrer uma lágrima. Adam não
chorou. Estava se sentindo renovado pela escolha que fizera e jurou que não
deixaria a morte dos avos ter sido em vão. Voltou com Rebecca para o carro e
descobriu a caixa de bombons e biscoitos de chocolate que comprara no caminho
para a casa de Rebecca e esquecera-se de comer no parque.
– Quer chocolate? –
perguntou Adam assim que Rebecca entrou no carro.
A moça sorriu.
– Porque não? – e pegou um bombom na caixa e enfiou na boca –
Já lhe disseram que você é um doce? – completou com a boca cheia e cuspindo
chocolate por cima de Adam.
***
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